Afeganistão culpa saída dos EUA por avanço do Taleban

O presidente afegão, Ashraf Ghani, culpou na segunda-feira, 2, a rápida retirada das tropas americanas pelo agravamento da violência em seu país e disse que seu governo agora se concentrará em proteger as capitais das províncias e as principais áreas urbanas diante do rápido avanço do grupo Taleban.

Ao falar ao Parlamento, Ghani pediu aos legisladores que apoiassem uma campanha de mobilização nacional contra o Taleban em meio a uma guerra cada vez mais intensa entre a milícia – que dominou o poder do país entre 1999 e 2001 – e as forças do governo afegão nos últimos meses. Ao mesmo tempo, as tropas dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) concluem sua retirada de um país devastado pela guerra.

“Um processo de paz importado e apressado”, disse o presidente, em referência à pressão de Washington sob administração de Donald Trump por negociações entre Cabul e o Taleban. “Não só falhou em trazer a paz, mas criou dúvidas e ambiguidade entre os afegãos”, afirmou Ghani em seu discurso ao Parlamento. O presidente afegão chegou de helicóptero para a sessão extraordinária da Casa, convocada em razão da grave situação se insegurança no país.

O Taleban está agora tentando apreender as capitais das províncias depois de já ter tomado grandes extensões de terra e dezenas de distritos em áreas mais rurais, bem como seis importantes passagens de fronteiras. Entre domingo e ontem, os combatentes taleban atacaram pelo menos três capitais de províncias – Lashkar Gah, Kandahar e Herat – após um fim de semana de violentos combates que resultaram na fuga de milhares de civis do país.

Segundo ele, a decisão de retirar as tropas estrangeiras, consolidada sob o governo de Joe Biden, foi tomada abruptamente e o processo de paz se baseou em teorias imaturas. “Eu disse ao presidente dos EUA que, embora eu respeitasse sua decisão, sabia que teria consequências e isso recairia sobre o povo afegão”, disse Ghani.

O processo de paz promovido pelos EUA fazia parte do pacto histórico assinado por Washington e o Taleban em fevereiro do ano passado. Segundo acordo assinado com os insurgentes em Doha, os EUA concordaram em retirar suas tropas do país. “Hoje enfrentamos um grande teste nacional”, acrescentou o presidente, cujo governo enfrenta a pior crise de segurança do país em duas décadas de guerra, com o avanço sem precedentes do Taleban.

De acordo com a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão, entre maio e junho, pelo menos 783 civis morreram e 1.609 ficaram feridos, o que pode tornar este um dos períodos mais sangrentos do país.

Além do avanço taleban, segundo o presidente, o Afeganistão está enfrentando uma agressão terrorista sem precedentes e as forças nacionais estão lutando contra uma aliança de terroristas e traficantes que, segundo Ghani, chegaram em dezenas de milhares e se infiltraram no país, aproveitando a retirada dos EUA, para se juntar ao Taleban.

Refugiados

Em Washington, o governo americano anunciou que vai receber milhares de refugiados do país, em razão da deterioração de segurança no Afeganistão. A principal preocupação do programa, segundo o governo é com cidadãos afegãos que auxiliaram forças militares americanas durante quase duas décadas de guerra.

Em comunicado, o Departamento de Estado afirmou que os critérios de elegibilidade do programa de refugiados americano serão ampliados. “À luz do aumento dos níveis de violência por parte dos taleban, o governo americano trabalha para oferecer a alguns afegãos, incluindo aqueles que trabalharam com os EUA, a oportunidade de se beneficiarem dos programas de admissão de refugiados”, informou. Até o momento, cerca de 20 mil afegãos se inscreveram no programa voltado a intérpretes que trabalharam com as forças americanas.

Ainda de acordo com o Departamento de Estado, os critérios de seleção serão expandidos para incluir afegãos que trabalharam em ONGs e em veículos de comunicação americanos, assim como em projetos financiados por Washington. (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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