“Ganhei a medalha, mas não tive a emoção do pódio, não teve foto, não teve choro nem meu nome no telão. Quero uma medalha com tudo o que tenho direito. Até com aquela espera do exame antidoping. Agora eu quero dar a volta no estádio, ter essa sensação que deve ser muito maneira”, brinca a atleta de 30 anos.
No dia 29 de março de 2017, Rosângela Santos, Lucimar Moura, Rosemar Coelho Neto e Thaissa Presti receberam as medalhas de bronze pelo terceiro lugar herdado no revezamento de Pequim-2008. O motivo foi um doping detectado em reanálise de amostras de urina e que definiu a desclassificação da Rússia. Com isso, a Bélgica ficou com o ouro, a Nigéria com a medalha de prata e o Brasil, com o bronze. O Brasil havia terminado originalmente no 4º lugar.
A cerimônia aconteceu durante o Prêmio Brasil Olímpico, evento anual do Comitê Olímpico do Brasil (COB). “O quarto lugar, a quase medalha, é o pior lugar do mundo. A gente fica pensando o que poderia ter feito diferente. Seria melhor ter ficado em oitavo lugar”, compara a velocista do Esporte Clube Pinheiros e que integra o grupo de atletas patrocinados pela Ajinomoto.
Por isso, os Jogos de Tóquio representam a chance de um ajuste de contas com o passado. Rosângela vai disputar a mesma prova e também os 100m. “O fato de ter conquistado a medalha com atraso me dá mais força para correr atrás de uma conquista por completo. Eu me sinto e não me sinto medalhista olímpica. Eu tenho a medalha, mas não tenho a sensação da hora”, completa.
Em sua quarta Olimpíada, a velocista afirma que se sente tranquila depois da pressão dos Jogos do Rio. “Acredito que a tensão e a expectativa em relação à Olimpíada do Rio tenham sido maiores. Havia o fator ‘casa’, o que significava uma pressão a mais”, diz a atleta que ficou em 5ª na sua semifinal com 11s23, ficando de fora da final.
Nos 100m, Rosângela sabe de cór os números mágicos. Ela acredita que o tempo de 11s10 pode garantir uma vaga na semifinal. Baixar dos 11 segundos significa uma vaga na final, o seu primeiro e grande objetivo em Tóquio. E ficar na casa 10s80 é se aproximar de uma medalha, de acordo com os últimos resultados das principais competidoras. Seu melhor tempo do ano é 11s35. “Minha expectativa é fazer o melhor resultado da vida. Se vai ser suficiente para a final, nós vamos ver.”
Campeã em Pequim-2008 e em Londres-2012, a jamaicana Shelly-Ann Fraser-Pryce é um dos grandes nomes para buscar um inédito tri olímpico nos 100m feminino. Mas ela terá pela frente a atual campeã olímpica, a sua compatriota Elaine Thompson. Das seis provas disputadas no ano passado, Thompson fez tempos abaixo dos 11s em cinco delas, incluindo o melhor tempo do ano de 10s85, obtido em Roma. O recorde olímpico é de 10s62 e pertence à norte-americana Florence Griffith Joyner, em Indianápolis, Estados Unidos, em julho de 1988.
A carreira de Rosângela é marcada por ineditismos. No Mundial de Londres, em 2017, ela bateu o recorde sul-americano nas semifinais, com 10s91. Com isso, a atleta se transformou na primeira brasileira a correr a distância abaixo dos 11 segundos e a primeira sul-americana a participar da final de um Mundial. Na final, ela alcançou o sétimo lugar. A final foi vencida pela norte-americana Tori Bowie, com o tempo de 10s85.
E ela está disposta a ir adiante. Mesmo aos 30 anos, ela já pensa no próximo ciclo olímpico. “Não penso em parar agora. Já estou me programando para o revezamento em Paris”, sorri.
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