A responsabilidade de Oppenheimer

Por Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla*

No próximo dia vinte de julho de 2023, estreará em todos os cinemas do Brasil, o filme “Oppenheimer”, um filme que mesmo antes de ser lançado em cadeia nacional já levanta sérias questões, todas elas relacionadas com o futuro da humanidade, o filme em questão chega num tempo onde as ameaças de serem usadas armas de destruição em massa estão ganhando cada vez mais espaço entre uma meia dúzia de cafetões da guerra da Ucrânia, que se julgam os senhores do mundo de hoje e de amanhã. Oppenheimer não morreu em definitivo, ele apenas assumiu novos rostos no monstruoso comércio e desenvolvimento de armas que poderão levar todo o Planeta à extinção, ameaças não faltam de ambos os lados; absolutamente ninguém de nós tem capacidade suficiente para avaliar todos os danos que se estenderão aos países caso tais armas sejam então usadas.

O americano, Julius Robert Oppenheimer, futuro pai da bomba atômica, como ficou conhecido para todo o sempre, nasceu no dia vinte e dois de abril de mil novecentos e quatro e faleceu no dia 18 de fevereiro de 1967, oriundo de um família judia, sempre foi magro, orelhas grandes e um rosto refletindo a todo instante uma tristeza indecifrável, isso até o final da sua vida; muitos de seus biógrafos relatam que ele desde pequeno era quieto, calmo, observador das coisas, foi educado na religião judaica ortodoxa, aos dez anos possuía uma coleção invejável de minerais e aos doze começou  a fazer parte de um prestigiado clube onde seus integrantes discutiam sobre os minerais que cada um possuía. Oppenheimer impressionava sobremaneira aqueles senhores pela pouca idade e a grande sabedoria naquele assunto, que até então era restrito a um seleto grupo de especialistas.

O que é indiscutível na vida de Oppenheimer é a sua inteligência, desde a mais tenra idade, os muitos professores que tiveram contato com ele perceberam que ali estava diante deles alguém diferente, fora da curva como diríamos hoje. Pensamento veloz, ideias avançadas para a sua época, discutia em alto nível todas as teorias que estavam em voga naquele momento; não contente com a escola, dedicou-se no estudo das línguas, o que lhe permitiu ler os originais de Platão e Homero. Fã de Platão explicou em detalhes à sua mãe a “República” ideal e de como ela era impraticável exatamente ali em sua terra em pleno século XX. Dizem também que por muitos anos não leu um único jornal sequer; na solidão da sua casa ocupava o tempo aprendendo novas línguas; tudo indica que nos anos que antecederam sua virada foram marcados por poucas amizades que pouco lhe interessava.

Sua vida mudará por completo a partir do ano de mil novecentos e quarenta e dois, em plena segunda guerra mundial, quando foi oficialmente convidado para chefiar o Projeto Manhattan, um empreendimento secreto que teve como fim a construção da primeira bomba atômica da história. Oppenheimer aceitou de imediato a proposta, sob o seu comando foram então chamados os maiores cientistas da época, fossem eles americanos ou não, assim fizeram parte da sua equipe nada menos que: Enrico Fermi, Edward Teller, Leo Szilard, Eugen Wigner e muitos outros. Todos sabiam que o que eles iriam construir mudaria para sempre os rumos da história, Los Alamos foi o local escolhido por Oppenheimer para realizar o mais terrível milagre de todos os tempos, milhares de pessoas em vários locais dos Estados Unidos foram mobilizadas para esse empreendimento fatal.

Foram então três longos anos de muito estudo, teorias, testes e o enorme peso na consciência sobre o que todos ali estavam desenvolvendo e que em breve seria posto em prática, a enorme responsabilidade que cada cientista ali reunido possuía no que iria acontecer dali por diante no mundo inteiro. Chega o grande dia, dezesseis de julho de mil novecentos e quarenta e cinco, cinco e trinta da manhã, uma explosão aterradora, um brilho jamais visto em qualquer lugar apareceu à vista de todos os presentes, um poder de destruição inimaginável, começava ali o apocalipse atômico. Vieram então os dias seis e nove de agosto, Hiroshima e Nagasaki foram as cidades escolhidas, mais de duzentas mil mortes instantâneas, um crime de guerra impune até os dias de hoje; a culpa abateu-se sobre J. R. Oppenheimer, mas já era tarde demais, essa mancha nunca sairia da sua vida.

Bioeticamente, Oppenheimer é sim uma figura ambígua, ele sabia desde o início que sobre ele iriam cair todos os louvores, mas também todas as maldições, foi aclamado por muitos, mas também é verdade que outros tantos queriam que ele ardesse no fogo do inferno de Dante, Oppenheimer ao se mostrar desgostoso com o uso da bomba atômica caiu em desgraça perante o governo americano que o tachou de traidor e comunista, foi assim afastado de todos os projetos que diziam respeito a construção desse tipo de arma. Optou por dar aulas, correr o mundo e fazer uma ampla campanha pela não proliferação desse instrumento de morte; hoje mais do que nunca o medo de serem usadas tais armas está rondando tudo e todos; os principais cafetões da guerra da atualidade dão mostras que estão pouco preocupados com a vida humana e extra-humana do Planeta; de qualquer modo Oppenheimer é uma figura que fascina e aterroriza ao mesmo tempo, seu lado bom é contaminado pela loucura de querer tornar-se Deus, esse sim o seu mais terrível pecado. 

*Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.

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