A Samaritana  (Jo 4,1-30)

Gosto muito desta passagem bíblica que narra a passagem em que Jesus vai da Judeia para a Galileia: sai do centro e vai para a periferia. Precisa atravessar a Samaria, que é uma região de marginalizados. Ele está cansado e sedento. Senta-se junto ao poço, o único existente na região. Esse poço tem função indispensável para a sobrevivência. A tradição judaica valoriza o sentido dos poços dos Patriarcas(Gn 26,15-33) e do manancial que Moisés abriu na rocha do deserto.

Para o povo da Bíblia, o poço era o local de encontros, que marcaram para sempre a vida das pessoas. Foi junto a um poço que Isaac se apaixonou por Rebeca. Neste poço da história bíblica, Jacó encontrou Raquel, que pastoreava o rebanho de seu pai Labão. Ele se prontificou a dar de beber ao rebanho e por ela se apaixonou. Moisés se encontrou com Séfora, sua futura esposa, também junto a um poço.

E Jesus sentou-se junto a um poço. A Samaritana, portanto, é a “esposa” que Jesus procura. É no meio dos marginalizados da Samaria que Jesus encontra sua “esposa” e esta encontra o sentido da sua vida. A Samaritana não tem nome próprio no texto bíblico, é apenas uma mulher. É figura da humanidade sedenta. Ela vem buscar água numa hora imprópria (meio-dia), vem sozinha e sua sede não pode esperar.

Jesus lhe pede: “Dá-me de beber”. Ele provoca uma demonstração de solidariedade que levasse a mulher a despertar de sua condição de inferioridade. Ao pedir água, Jesus começa a quebrar os preconceitos e as discriminações. Ela se sente em condições de igualdade. Dar água é, na cultura judaica, sinal de acolhida, solidariedade e hospitalidade. O primeiro gesto, ao receber uma pessoa, consistia em oferecer água para beber e lavar os pés empoeirados no caminho.

A água constitui-se em mediação do diálogo. O ter sede, o pedir água, faz com que a mulher aceite conversar. Quebrada a discriminação, Jesus provoca a “sede” da mulher: “Se você conhecesse o Dom de Deus e quem está pedindo de beber, você é que lhe pediria.” Jesus usa a palavra água nos dois sentidos: normal: água que sacia a sede; simbólico: água como fonte de vida e como Dom do Espírito Santo.

O resultado, junto ao poço, foi a transformação da mulher, pois a misericórdia demonstrada por Jesus foi maior do que os preconceitos instalados no meio do povo. Ela deixou o seu jarro, com o qual ia levar a água e correu à cidade para contar a sua experiência extraordinária. “Encontrei um homem que me disse todas as coisas que eu fiz”. Estava muito entusiasmada. Foi buscar água no poço e encontrou uma outra água, a água viva da misericórdia que jorra da e para a vida eterna. Encontrou a água que sempre tinha procurado. Correu ao vilarejo, aquela vila que a julgava, a condenava e a rejeitava, e anunciou que havia encontrado o Messias: alguém que mudou a sua vida.

Neste momento, cabe-nos responder a duas perguntas: qual é a sede que sentimos dentro de nós? Em que poço buscamos a água para nos saciar?

Todos nós somos chamados a sentir a alegria do encontro com Jesus e as maravilhas que o seu amor realiza em nós.

Pe. Lino Baggio, SAC – Vigário Paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida

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