Água parada

Pe. Lino Baggio

Água parada não move moinhos, diz um sábio provérbio popular. E poderíamos acrescentar, nestes tempos de dengue, só cria mosquitos.

Esta imagem pode ser aplicada a qualquer instituição e a cada pessoa que para no tempo, que não se renova, que rejeita o dinamismo próprio de cada organismo, que se nega a acompanhar o ritmo da vida. Como tem razão o poeta e escritor chileno Pablo Neruda quando descreve a morte lenta de quem é “água parada”. Diz Neruda: “Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem não destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, não se arrisca a vestir uma nova cor, ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte, do forte calor ou da chuva que cai incessante. Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, quem não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe”.

O texto poético de Neruda se aplica a todo organismo e a toda pessoa. A Igreja, como instituição de inspiração divina e organizada por mentes e corações humanos, também está sujeita a “morrer lentamente” quando, contrariando a inspiração de Jesus e o dinamismo de seu Projeto, rejeita o Espírito que “faz novas todas as coisas”. Olhando para o dinamismo dos primeiros cristãos, nos damos conta de que eles tinham menos estruturas e mais sensibilidade pelas pessoas; menos dogmas e mais fé; menos organização e mais dinamismo; menos proteção e mais confiança; menos hipócritas e mais perseguidos; menos teólogos e mais testemunhas.

Que o Espírito nos fortaleça na caminhada de todos os dias a fim de que tenhamos mais esperanças evangélicas que nos levem a viver uma vida plena e em abundância, isto é, como ressuscitados e não como água parada.

Vigário Paroquial na Paróquia São Roque – Coronel Vivida

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