Autoestima de meninos e meninas é diferente em bullying

Flori Antonio Tasca

Os efeitos causados pelo bullying na autoestima dos alunos envolvidos são diferentes para meninos e meninas. Pelo menos foi o que se observou no estudo “As implicações do bullying na autoestima de adolescentes”, de Cláudia de Moraes Bandeira e Claudio Simon Hutz, que foi publicado em 2010 na revista “Psicologia Escolar e Educacional”.

Os pesquisadores colheram dados de 465 adolescentes da quarta à oitava série de três escolas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul (públicas e privadas). Aplicando um questionário a respeito do bullying e a Escala de Autoestima de Rosenberg, e levando em consideração os grupos compostos por agressores, vítimas, vítimas/agressores e testemunhas do bullying, eles chegaram a resultados que apontam diferenças de acordo com o gênero do estudante.

De início, é interessante observar que ainda não há muitos estudos que relacionem a prática do bullying com as meninas. Durante muito tempo se pensou que o fenômeno fosse quase que exclusivamente masculino, mas, aparentemente, as meninas apenas o praticam de uma forma diferente. Enquanto os meninos tendem a utilizar a agressão física, com chutes, socos e empurrões, as meninas usam formas mais indiretas, como agressão verbal, insulto, mentira e fofoca. Isso é comum, sobretudo, nas adolescentes.

Entre as diferenças encontradas na pesquisa, está a de que os meninos que são tanto vítimas quanto agressores apresentaram índice de autoestima superior ao das meninas na mesma condição. Também entre os meninos, as testemunhas de bullying tiveram uma maior média de autoestima do que as vítimas. As meninas agressoras, por sua vez, apresentaram maior média do que as vítimas/agressoras. Essas diferenças, sugerem os pesquisadores, podem ser explicadas pelo papel que a autoestima tem em cada gênero.

Isso porque a autoestima das meninas é fortemente influenciada pelos relacionamentos, enquanto a autoestima dos meninos é influenciada pelo sucesso dos seus objetivos. As meninas vítimas/agressoras apresentam grande impacto na autoestima, o que não acontece com os meninos. Os autores sugerem que isso acontece porque as meninas dão maior importância à dimensão social. Sendo rejeitadas, como são as vítimas/agressoras, elas passam ver a si mesmas como incompetentes e sem muito valor. A isso se soma a questão das mudanças hormonais, que parecem afetar mais elas do que os meninos.

Já a rejeição aos meninos vítimas/agressores não causa neles o mesmo impacto, o que parece se explicar pelo fato de serem menos suscetíveis à aprovação externa e buscarem antes os seus objetivos pessoais. Os autores cogitam que diferentes exigências culturais, para cada gênero, juntamente com as características pessoais do estudante, influenciam a forma como o processo de vitimização é experimentado por meninos e meninas.

Em relação ao sexo feminino, verificou-se que as agressoras apresentaram média mais alta de autoestima. Os agressores, de ambos os sexos, costumam ter retorno positivo por parte dos seus colegas e isso parece influenciar positivamente a autoestima das meninas. No sexo masculino, os piores índices de autoestima são os da vítima, possivelmente por não possuir a habilidade necessária para se defender ou fazer cessar o bullying. Talvez a sensação de impotência seja a responsável pelo impacto na autoestima dos meninos.

Diante dessas diferentes implicações que o bullying apresenta na autoestima dos alunos envolvidos, os pesquisadores sugerem que os trabalhos que visam à prevenção dessa prática devem ser estruturados tendo em mente as diferenças entre os sexos. O bullying precisaria ser abordado de maneira diferenciada não só para cada grupo, mas também para cada gênero. O tema se mostra relevante na medida em que uma boa autoestima é essencial para o adolescente, pois afeta a forma com que ele lida com o ambiente.

Os pesquisadores destacaram que a gravidade do problema não pode ser desprezada por escolas, as quais, por vezes, desconhecem ou minimizam o seu impacto. Segundo eles, a escola precisa se transformar e se adaptar à realidade e às demandas atuais, atuando no sentido de prevenir e controlar o bullying, e não na manutenção do sofrimento causado.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, [email protected]

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