Crise climática e as causas humanas

Prosseguimos, neste artigo, refletindo sobre a Exortação Apostólica Laudate Deus – “Louvai a Deus”, do Papa Francisco sobre a crise climática, e hoje uma pergunta se nos impõe: As crises climáticas são causadas pelas ações humanas, ou quem sabe, naturais? Ouçamos, pois, o Papa.

A origem humana da mudança climática já não se pode pôr em dúvida. Vejamos porquê. A concentração na atmosfera dos gases com efeito estufa, que causam o aquecimento global, manteve-se estável até ao século XIX: abaixo das 300 partes por milhão em volume. Mas, a meados daquele século, em coincidência com o progresso industrial, as emissões começaram a aumentar. Nos últimos cinquenta anos, o aumento sofreu uma forte aceleração, como atesta o observatório de Mauna Loa que efetua, desde 1958, medições diárias do dióxido de carbono, chegando, em junho de 2023, a 423 partes por milhão. Considerando o total líquido das emissões, desde 1850, mais de 42% ocorreu depois de 1990 (cf. LD, n. 11).

Ao mesmo tempo notamos que, nos últimos cinquenta anos, a temperatura aumentou a uma velocidade inédita, sem precedentes nos últimos dois mil anos. No referido período, a tendência foi um aquecimento de 0,15 graus centígrados por decênio, o dobro do registado nos últimos 150 anos. De 1850 até hoje, a temperatura global aumentou 1,1 graus centígrados, fenômeno que se amplifica nas áreas polares. A este ritmo, é possível que, dentro de dez anos, tenhamos alcançado o limite máximo global de 1,5 graus centígrados. O aumento não se verificou apenas na superfície terrestre, mas também a vários quilômetros de altura na atmosfera, na superfície dos oceanos e mesmo a centenas de metros de profundidade. Isto aumentou também a acidificação dos mares e reduziu os seus níveis de oxigênio. Os glaciares retraem-se, a cobertura de neve diminui e o nível do mar aumenta constantemente (cf. LD, n.12).

Razão e ciência

É impossível esconder a coincidência destes fenômenos climáticos globais com o crescimento acelerado das emissões de gases com efeito estufa, sobretudo a partir de meados do século XX. A esmagadora maioria dos estudiosos do clima defende esta correlação, sendo mínima a percentagem daqueles que tentam negar esta evidência. Infelizmente, a crise climática não é propriamente uma questão que interessa às grandes potências econômicas, preocupadas em obter o maior lucro ao menor custo e no mais curto espaço de tempo possíveis.

Vejo-me obrigado a fazer estas especificações, que podem parecer óbvias, por causa de certas opiniões ridicularizadoras e pouco racionais, que encontro mesmo dentro da Igreja Católica. Mas não podemos continuar a duvidar que a razão da insólita velocidade de mudanças tão perigosas esteja neste fato inegável: os enormes progressos conexos com a desenfreada intervenção humana sobre a natureza nos últimos dois séculos. Os elementos naturais típicos que provocam o aquecimento, como as erupções vulcânicas e outros, não são suficientes para explicar a percentagem e a velocidade das alterações registadas nos últimos decênios. A evolução das temperaturas médias da superfície não pode ser sustentada sem a influência do aumento de gases com efeito estufa (cf. LD, nn. 13-14).

Finalmente, podemos acrescentar que a pandemia Covid-19 veio confirmar a estreita relação da vida humana com a dos outros seres vivos e com o ambiente, mostrando de modo particular que aquilo que acontece em qualquer parte do mundo tem repercussões sobre todo o planeta. Isto permite-me insistir sobre duas convicções que não me canso de reiterar: “tudo está interligado e ninguém se salva sozinho” (cf. LD, n. 18). O meio ambiente do Sudoeste do Paraná está pedindo socorro. É urgente uma intervenção radical para salvar o que ainda é possível ser salvo. Não é visão apocalíptica. É a realidade que nos circunda. É uma pauta urgente o cuidado do ambiente, nossa “casa comum”. Modifiquemos, pois, o nosso relacionamento e o comportamento com o planeta. Eis a nossa herança depois de nossa passagem por este mundo.

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