Não à loucura da guerra

Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla

No mundo louco dos paradoxos é incrível como se pode marcar época, ser lembrado para todo o sempre, tanto para o lado bom, quanto para o lado ruim, aqueles que fazem o bem gostamos sempre de repetir o seu nome, são raros esses nomes, eles existem, já aqueles que perpetram o mal, são em número maior na história humana, somos obrigados a ler sobre eles, escrever sobre os mesmos, se posicionar sobre as suas barbáries, suas maldades sempre encontram defensores aqui e ali, perto ou longe de nós. Dois personagens nos são colocados lado a lado nesse momento para que possamos refletir qual o melhor caminho a ser seguido, ambos separados por oito séculos, o primeiro nasceu em 1182, o segundo em 1952, um italiano, o outro russo; o primeiro usou apenas e tão somente o seu exemplo, o outro se apoia em exércitos, armas, poder, põe fogo no mundo.

De São Francisco de Assis, foram escritas até hoje milhares de páginas, muitos filmes rodados, cidades que levam seu nome mundo afora, bem como ruas e bairros, muitas igrejas são dedicadas a ele, quantas pessoas levam o seu nome, basta olharmos para o atual Papa Francisco, um personagem digno que é lembrado e mencionado não só pelos cristãos, mas também por todos aqueles que lutam por um mundo melhor. São Francisco fascinou e continua instigando muitas pessoas que tomam contato com a sua vida, era tão bem quisto que todos queriam estar perto dele, até mesmo os animais; São Francisco foi um divisor de águas no seu tempo, foi uma testemunha viva do mal que se praticava naquela época, por isso foi se encontrar com o sultão Al Malik al-Kamil para que juntos fizessem uma aliança para juntos recomporem aqueles dois mundos de então desunidos.

O Sol de Assis, continua a brilhar hoje, apesar das densas nuvens quererem encobri-lo, o mundo no tempo de São Francisco era também dominado pela força bruta, poucos detinham muitos na base da escravidão, da exploração e da matança indiscriminada, as cruzadas que o digam se queremos ser mais exatos. São Francisco foi e continua sendo uma das alternativas para o mundo de hoje, uma mensagem que corre totalmente contra ao que aí está, muito antes de qualquer um de nós, o santo de Assis assistiu o declínio do feudalismo, viu emergir outras “novidades”, bem como novas formas de dominação, mesmo assim continuou inabalável no seu projeto de vida, cuidou de tudo e de todos, soube como ninguém se relacionar com o diferente, pregou a paz e para isso não fez uso algum de lanças, escudos ou espadas; o que ele pregou viveu na pele, por isso Deus o amou tanto.

O segundo modelo de pessoa nos vem da atual Rússia, mais precisamente do seu atual chefe de estado, nascido em 1952, portanto alguém que viveu de perto a ascensão e queda do homem soviético, uma testemunha ocular que deveria ter em mente não mais praticar aquilo que seus líderes anteriores fizeram de modo grotesco; um adulto onde ainda pulsam todas as suas insatisfações perante a vida, alguém que não conseguiu entender o fracasso do programa de governo que seu país adotou lá no início do século XX. O atual líder russo sonha reconstruir aquele momento glorioso de antes que sua pátria teve, para isso não mede esforços em se perpetuar no poder, prender seus opositores, controlar todos os meios de comunicação, enxergar inimigos em todos os lugares tanto interna, quanto externamente, incorpora a arrogância dos seus antepassados de uma maneira grotesca.

Sua jogada mais perigosa se deu agora no início de 2022, quando ordenou a invasão militar criminosa da Ucrânia, conflito que tomou proporções dramáticas e agora nos últimos dias um tom apocalíptico, isto é, o atual líder russo vendo-se em apuros ao ver suas tropas perdendo terreno, recorreu ao discurso de fazer uso de armas nucleares, caso os seus planos de conquistas expansionistas não obtenham o êxito desejado por ele. Tal solução por ele anunciada só pode ser considerada uma loucura total no âmbito internacional, algo fora de todos os padrões, absolutamente ninguém em qualquer parte do Planeta está preparado para uma guerra nuclear, todos sem exceção serão vítimas indistintamente, bem como todo o meio ambiente; o uso imprudente e mesquinho dessas armas terá efeitos irreversíveis para tudo e todos, algo por demais deplorável, o qual todos estão de acordo.

Bioeticamente, temos bem diante dos nossos olhos, dois personagens singulares, um que brilhou pelo seu exemplo de vida, sua conectividade com toda a natureza, os seus semelhantes, o sagrado, aproximou-se de todas as situações que existiam em seu tempo, desde o maior até o menor, sempre foi ele mesmo, procurou em toda a sua existência ser o menor de todos, por isso é lembrado como o maior depois do Maior. Já o segundo modelo de pessoa nos causa medo, pois sente-se no direito de jogar todos no precipício, alguém que manda milhares de inocentes para morrerem em seu lugar, mas ele próprio ou alguém da sua família nunca irá aos campos de batalha, um único criminoso que tenta colocar fogo no mundo inteiro, quando precisamos exatamente do contrário, ou seja, necessitamos de união, de ideias novas que nos tirem do abismo que a própria humanidade se enfiou; vemos nessa hora um papel pífio da ONU, totalmente amorfa, perdida em discursos vazios e desconexos; o mundo não pode ficar refém de um insano, alguém imbuído só de egoísmo.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR

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