Programa de intervenção diminui bullying

Flori Antonio Tasca

Relativamente ao bullying, um dos grandes problemas que tanto as vítimas como os agressores apresentam são as dificuldades de relacionamento e de habilidades sociais que fomentem a empatia, a escuta e a correta expressão das emoções. Pensando nisso, as pesquisadoras Yolanda Ferreira e Paula Muñoz Reyes Benitez promoveram em uma escola um Programa de Intervenção de Habilidades Sociais para reduzir os níveis de bullying estudantil. Os resultados foram publicados em 2011 na revista “Ajayu Órgano de Difusión Científica del departamento de Psicologia”, da Universidad Católica Boliviana de San Pablo.

Uma vez constatado que havia realmente ocorrências de bullying na escola analisada, o que se dava, sobretudo, pelos atos de rir dos companheiros, insultá-los, rechaçá-los e deles falar mal, foi desenvolvido um programa de intervenção na aprendizagem de habilidades sociais, como meio de solucionar os conflitos em sala de aula e diminuir as agressões. Os resultados demonstraram a eficácia do programa em seus objetivos.

Destinado tanto a vítimas e agressores como a testemunhas, o programa considerava habilidades sociais como aquelas que servem para organizar cognições e condutas em um curso integrado de ação dirigido para metas interpessoais ou sociais que sejam culturalmente aceitas. Essas habilidades são desenvolvidas por meio do autodomínio e da empatia. Foram realizados trabalhos com os alunos sobre temas como a amizade e as relações interpessoais, os conflitos existentes e os tipos de soluções que eles adotam.

Os alunos tiveram oportunidade de refletir sobre a expressão e a compreensão dos seus próprios sentimentos, assim como puderam analisar o conceito de discriminação, vendo novas formas de responder aos problemas. Foi destacada a importância das diferenças entre as pessoas. Para controlar a impulsividade, foram apresentadas opções de soluções assertivas para os conflitos entre alunos. Trabalhou-se, ainda, a empatia e as diferenças entre homens e mulheres, assim como meios de se conviver melhor. Os alunos tiveram ainda a oportunidade de conhecer outros meios de expressar sentimentos, como a arte, e viram a importância de se falar coisas boas a respeito dos seus colegas de classe.

O que se observou com essas iniciativas foi que as condutas dos alunos mudaram e que houve uma clara e tangível diminuição das agressões. O programa permitiu aos alunos construir um novo sistema de pensamentos e atitudes, desenvolvendo uma nova visão que resulta na modificação de emoções, crenças e, sobretudo, condutas. A teoria, muitas vezes, leva à prática, de maneira que, em algum momento, os alunos passam a agir de acordo com aquilo que é repetido em sala. E, dessa maneira, as agressões diminuem.

Talvez a percepção que os alunos têm uns dos outros leve mais tempo para mudar. Isto é, um aluno considerado agressor pode continuar sendo visto como agressor mesmo que o programa de intervenção seja realizado. Mas, à medida que suas condutas agressivas mudam, certamente também mudará a imagem com que são vistos. Ao procurar refletir com as crianças sobre o bullying, percebe-se que elas mesmas, aos poucos, passam a entender o que deveriam ou não fazer e como deveriam agir em determinadas situações.

Os autores destacaram que o problema do bullying é um assunto de todos e requer um esforço concentrado também de pais, escolas, do aparato jurídico e da comunidade em geral. Como as habilidades sociais são aprendidas, recomenda-se que a escola dedique um espaço a ensiná-las desde o primeiro ano, a fim de melhor prevenir e combater o bullying.

Não se trata de apenas modificar os aspectos disfuncionais, mas de incorporar, desde o começo, um programa que reforce as atividades e comportamentos que promovam um sentido de adaptação adequado ao ambiente, assim como um sistema de controle de disciplina justo, coerente e conhecido pelos alunos e adultos. Iniciativas como a desse programa evidenciam que é possível, sim, enfrentar o bullying em ambiente escolar.

Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná. [email protected]

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