Razoável com ela, muito pior sem ela

Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla

Um dos principais objetivos da humanidade hoje é manter a paz, uma tarefa cada vez mais difícil, delicada e árdua, aqueles mesmos erros que foram cometidos no passado, voltam com força quase total nesses dias turbulentos, existe uma descrença muito grande em certas instituições que deveriam proteger e promover a paz entre os estados e entre os povos; não causa nenhum espanto que nas últimas décadas a Organização das Nações Unidas (ONU) venha perdendo seu poder de liderança e conciliação; criada para promover a integração entre as nações, tem como propostas basilares manter a paz e a segurança em todos os continentes, lutar pelos direitos humanos e contra toda e qualquer espécie de racismo, conclamar aos países que busquem um desenvolvimento econômico, saudável e equilibrado e também aprimorar mais as assistências humanitárias em todos os sentidos.

Abranger o papel da ONU em sua inteireza é praticamente impossível, fiquemos com aqueles que mais preocupam a humanidade no momento presente, ocasião essa que determinará para todo o sempre a vida das mais diferentes espécies, não é esse ou aquele país afetado, essa ou aquela população humana ou extra-humana que está enfrentando as mais diferentes agruras, é sim todo o conjunto que vive de modo amplo as ações humanas irrefletidas. A ONU quando se posiciona sobre determinado tema, ela está se posicionando para todos os seus membros, embora saibamos que em muitas situações seus discursos são ambíguos ou até mesmo contraditórios; queira-se ou não, caso a ONU não existisse fatalmente o mundo já teria mergulhado em algo muito pior, até mesmo sem volta, o importante é que ela existe, um alívio e uma esperança para um mundo melhor para todos.

Inegável que hoje a ONU vê com extrema preocupação a questão dos refugiados, daqueles que vem fugindo de seus países de origem, indo em direção a outros que lhes possam oferecer condições mais dignas de vida, são milhões deles nesse momento, sozinhos, com suas famílias perambulando por caminhos tortuosos na maioria das vezes. As causas para as fugas em massa são muitas e a chegada num outro país não quer dizer que terão uma vida mais fácil, ao contrário podem ser submetidos a todo tipo de humilhação antes de conseguirem algo de bom, são muitos os exemplos trágicos sobre esse tema; o Brasil tem recebido muitos cidadãos de outros países nos últimos anos, somos tidos como um país que acolhe bem os estrangeiros, mas também é verdade que esse país os trata mal, não sendo raro fazendo deles um mero instrumental para suas ambições mais torpes.

Não menos importante e preocupante é a questão de todas as mudanças climáticas em grande escala, nesse quesito tem sido quase uma constante as admoestações da ONU para que urgentemente tomemos consciência da gravidade do assunto e mudemos o caminho que temos seguido até agora, o alerta vale tanto para os governos como para todas as populações em questão. Existe uma profunda conectividade entre as ações humanas e as transformações climáticas das últimas décadas, mas a questão não é pacífica na ONU, são gerados inúmeros debates na maioria das vezes tentando sempre adiar as propostas que visam frear o aquecimento global, bem como a emissão de gases poluentes; a mudança climática já tem efeitos num bem humano fundamental, que é a água potável, já se sabe que ocorrem conflitos bélicos ferozes sobre esse bem de primeiro grau.

E chega-se naquele tema que talvez seja o maior dos flagelos humanos, aquele que desencadeia outros tantos, aquele jamais parou de existir mesmo após a criação da ONU, isto é, a guerra, essa infamante, ignominiosa e degenerada proposta de querer resolver tudo na base da violência e morte, usando todos os meios técnicos mortíferos disponíveis; a guerra tem sido um espinho cruel na vida da ONU. A guerra moderna busca lugares para se alojar, geralmente são estratégias macabras daqueles que detém o poderio militar para ali realizarem suas conquistas expansionistas em muitos campos; a covardia desses países beligerantes não tem limites, usam palavras carregadas de sutilidades para legitimarem sua saga monstruosa; a guerra da Ucrânia para muitos hoje é o divisor de águas, ou seja, o que era antes e o que será depois dela, o certo e que será um mundo completamente diferente.

Bioeticamente, o papel da ONU, apesar de todas as dificuldades que ela enfrenta é relevante para o mundo inteiro, melhor que ela exista do que não termos nada para nos apoiarmos frente aos graves problemas de hoje, muito se tem falado e comentado para que a ONU continue com seu papel decisivo ela deve se aprimorar, passar por ajustes, que os países membros tome consciência de que ela é um canal aberto para a paz e para a vida. Como qualquer outra instituição, ela é formada por seres humanos e sendo assim chegar a um consenso é algo muito difícil, haja vista os inúmeros interesses envolvidos ali. O Brasil tem uma longa tradição junto à ONU, deveria sim buscar ainda mais um papel de destaque e não um mero coadjuvante, mas para que isso ocorra de modo efetivo ele precisa sanar suas feridas consigo próprio e também com seus vizinhos, o mesmo vale para o país sede desse órgão global, é fato que muitas declarações emanadas pela ONU simplesmente não são cumpridas por esse país quando isso “agride” os seus interesses ao redor do mundo.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR

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