Responsabilidade e prudência: Palavras a serem retomadas

Estamos vivendo as primeiras horas do ano de 2023, não faltaram boas intenções, uma lista considerável de bons propósitos, muitas metas a serem conquistadas, enfim cada um do seu jeito, na sua realidade concreta, pensou positivo, mais do que entrar no novo ano com o pé direito, saltar sete ondas ou coisas do gênero, é bom também estarmos convictos de que toda e qualquer mudança começa primeiro por nós. E mudanças precisam ser feitas, cada um sabe muito bem disso, a vida de todos nós, é uma mudança constante, do nascer ao morrer, mudamos muitas vezes, para melhor ou para pior. Nesse ano que recém iniciamos, sabemos de cor e salteado o que é sobreviver depois da vinda do ser invisível, muitas coisas foram reinventadas, aquilo que julgávamos obsoleto, voltou com força a fazer parte de nossas existências; muito mais precisamos fazer ao longo da estrada.

Não fosse só a luta diária para sobreviver, o ser humano minimamente informado sabe que precisa estar ligado nos fatos que ocorrem ao redor, o que acontece a centenas quilômetros de distância, pode em minutos influir nesse ser humano, mesmo que não tenha feito nada para que tal fato ocorresse. Nouriel Roubini, professor de Economia na Stern School of Business, Universidade de NY, elenca pontos que precisam ser monitorados por todos. Cita os seguintes elementos: I) A mãe de todas as crises, a dívida; II) Dívidas públicas e privadas; III) A bomba-relógio demográfica; IV) A armadilha do dinheiro fácil e o fim do boom; V) A grande estagflação que está por vir; VI) O colapso das moedas e a instabilidade financeira; VII) O fim da globalização; VIII) A ameaça da inteligência artificial; IX) A nova Guerra Fria; X) Um planeta inabitável. Qual delas pode nos ameaçar mais agora?

Cada uma dessas dez grandes ameaças, se subdividem em outras tantas menores, mas nem por isso menos perigosas e mortais, para cada uma dessas situações específicas precisaríamos de um caminhão de informações para bem podermos enfrentá-las com sucesso, mas todas estão muito acima de nossas forças, não podemos controlar nem as nossas contas bancárias, o que dizer então de eventos extremos que varrem o Planeta. Olhando rapidamente para essas dez mega ameaças, em suas entrelinhas notamos que o poder econômico tem a preponderância de tudo diluir, esfacelar, corromper, criar e destruir, menos o de unir; um mundo que vem chegando e que dá mostras de que cansou do ser humano normal, que ele não serve aos propósitos da nova ordem que se quer estabelecer, não será surpresa nenhuma se daqui há alguns anos teremos exércitos de servos inúteis.

Sim, no meio dessa tempestade encontra-se o ser humano, uns mais afortunados, outros milhões, meros peões no jogo da vida e da sorte, a modernidade que aí se encontra, tão calorosa, tão risonha e muito mais ainda provocadora de sonhos, não suporta que alguns lhes façam críticas, não admite que lhe apontem as falhas, essa modernidade fica cada dia mais evidente não é para todos, nem todos largam com a mesma velocidade, a civilização industrial calcada na mudança absurda do meio ambiente, tem muito medo de lidar com os fantasmas que ela mesma cria; triunfos e tragédias são uma constante no mundo moderno; o preço que a humanidade paga hoje pelos mandos e desmandos dessa tal modernidade é muito alto, ela cobra juros exorbitantes, cruéis e desmedidos; nesse tsunami, não perder o juízo é já uma enorme conquista, um prêmio que poucos dão valor.

A humanidade precisa mudar, é uma verdade devastadora que quase ninguém ousa contestar, a não ser aqueles doentes de corpo e espírito que falam demais porque não tem mais nada, absolutamente nada para dizerem; o ano de dois mil e vinte e três não pode ser mais apenas um ano comum em nossas vidas, também não pode ser aquele onde só vamos olhar para uma direção e esquecer as outras que também fazem parte da nossa existência. A humanidade quando quer, dá respostas imediatas para com tudo aquilo que lhe pode trazer dissabores, todos se dão as mãos quando ela sente-se ameaçada; a maioria esmagadora não quer nenhum tipo de guerra, não precisamos de nenhum tipo de comércio de armas de destruição em massa, pois essas não matam a nossa fome, não saciam a nossa sede, nem nos dão roupas para vestirmos e muito menos moradias para habitarmos.

Bioeticamente, que nenhum de nós em dois mil e vinte e três perca a fé, a esperança, a audácia e coragem para seguir em frente, que a lucidez, a prudência, a sobriedade e muito mais a responsabilidade, sejam o nosso norte, o nosso porto seguro, que venham vacinas eficazes contra o desemprego, a miséria, a fome e a guerra, que venha a vacina derradeira para que todos tenham moradias dignas e saneamento básico; precisamos sim de uma enxurrada de vacinas para debelarmos em conjunto todo o mal que insiste em se fazer presente. Fiquemos com aqueles heróis de verdade, que estão ao nosso lado todos os momentos de nossas vidas, nas horas alegres e também nas horas sombrias; quando caminhamos por aí percebemos que muitas coisas nos incomodam, preocupam e nos desagradam, que isso seja estímulo para redirecionarmos nossas prioridades e metas para aquilo que realmente importa, isto é, todos precisam de todos, pois ninguém sabe o dia de amanhã, ser ortodoxo num mundo plural como o nosso, realmente não é a melhor solução.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.

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