A África do Sul enviou soldados às ruas para reprimir a violência que eclodiu após a prisão do ex-presidente Jacob Zuma (2009-2018), em 7 de julho. Segundo a polícia, as tensões aumentaram. Lojas foram saqueadas e estabelecimentos foram queimados em Pietermaritzburg, capital da província natal de Zuma.
Apesar de ter sido afastado da direção do governista Congresso Nacional Africano (CNA) e da Presidência após sucessivos escândalos, o ex-presidente mantém uma base de seguidores fiéis. Os atos se disseminaram por várias áreas. A província de Gauteng, onde está a maior cidade do país, Johanesburgo, também teve roubos e incêndios.
Na noite desta segunda-feira, o presidente Cyril Ramaphosa disse que os tumultos poderiam levar à escassez de comida e remédios nas próximas semanas. Ramaphosa afirmou que os atos poderiam acarretar em uma interrupção maior do programa de imunização justamente quando o país estava intensificando a vacinação contra a covid-19.
“Partes de nosso país sofreram vários dias e noites atos de violência, destruição de propriedades e saques que raramente foram vistos na história de nossa democracia”, disse o presidente, que substituiu Zuma no cargo em fevereiro de 2018 e é do mesmo CNA que governa a África do Sul desde o fim do regime do apartheid.
Nas províncias de Gauteng e KwaZulu-Natal, alguns postos de vacinação contra a covid-19 e clínicas em foram fechados por questões de segurança, o que dificulta ainda mais a lenta campanha de imunização no país.
Até 10 de julho, apenas 6% da população sul-africana recebeu pelo menos uma dose de imunizante contra a doença, segundo dados do site Our World in Data, da Universidade de Oxford. A África do Sul e todo o continente africano atualmente enfrentam uma terceira onda da pandemia.
Enquanto isso, criminosos estão aparentemente se aproveitando da revolta de apoiadores de Zuma para roubar e destruir estabelecimentos, segundo a polícia. Um comunicado dos militares disse que “os processos de pré-envio de tropas começaram”, mas um cinegrafista da agência Reuters em Pietermaritzburg viu soldados armados já nas ruas.
Imagens feitas pela Reuters na cidade de Katlehong, em Gauteng, mostraram a polícia disparando balas de borracha contra saqueadores para dispersá-los. No Shopping Jabulani, em Soweto, próximo a Johanesburgo, criminosos passaram por câmeras de TV carregando mercadorias roubadas.
Lojas de bebidas também foram roubadas, mesmo com a venda de bebidas alcoólicas atualmente proibida no país, devido às restrições para conter a pandemia.
Na manhã desta segunda-feira, 12, os corpos de quatro pessoas foram encontrados – pelo menos duas estavam com ferimentos de bala – em Gauteng, segundo informou o órgão de Inteligência nacional do país, o NatJoints. Outras duas pessoas foram mortas em KwaZulu-Natal.
A sentença e a prisão de Zuma são vistas como um teste para o Judiciário do país e sua capacidade de agir mesmo contra políticos poderosos. Zuma, de 79 anos, foi preso por desafiar uma convocação do Tribunal Constitucional, a instância máxima da Justiça do país, para depor em uma investigação que apura denúncias de corrupção nos nove anos em que esteve no poder. Ele nega os malfeitos, mas se recusa a cooperar com a investigação.
Segundo estimativas oficiais, cerca de 500 bilhões de rands (R$ 178 bilhões) foram desviados dos cofres públicos durante seu governo – mais de 40 testemunhas ouvidas em inquéritos apontam que Zuma estava no centro dos esquemas de desvio.
O ex-presidente entrou com um recurso contra a detenção, alegando que sua saúde é frágil e que seu risco de contrair covid-19 seria maior na prisão. Em uma audiência virtual nesta segunda-feira, o advogado de Zuma pediu à Justiça que revogasse sua pena de prisão, citando uma regra de que os julgamentos podem ser reconsiderados se feitos na ausência da pessoa afetada ou contendo um erro de patente. Especialistas jurídicos, no entanto, dizem que as chances de sucesso do ex-presidente são mínimas. (Com agências internacionais).
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