SP, 9 de julho: Normalistas e crianças escreviam a soldados sem família

De acordo com o pesquisador Eric Apolinário, autor de O Inverno Escarlate – 1932 Vida e Morte nas Trincheiras do Front Leste e parceiro de Macedo na elaboração do livro, a correspondência tinha como objetivo principal elevar a moral dos soldados, em sua maioria jovens, com estrutura psicológica em formação. Por isso, a troca de correspondência era incentivada. “Para aqueles soldados que não recebiam cartas porque não tinham famílias ou estavam fora de São Paulo, foram criadas frentes de mulheres voluntárias que exerciam essa função.”

Uma das equipes de carteiras mais famosas foi a do Grupo de Normalistas de Mogi Mirim. A cidade era considerada ponto estratégico para a defesa contra as tropas getulistas vindas de Minas Gerais e cedeu prédios para abrigar os soldados paulistas, como os grupos escolares Cel. Venâncio e Rodrigues Alves, além do asilo e da Santa Casa. No total, 19 batalhões se aquartelaram em Mogi Mirim e a sociedade local se mobilizou para dar suporte aos combatentes. O grupo de escritoras de cartas para o front chegou a reunir 40 senhoras e senhoritas.

Uma das cartas, escrita por uma menina de 10 anos, dirigida ao “valoroso soldado paulista”, fala em vitória de São Paulo para a paz no Brasil. “Nós aqui em S. Paulo estamos trabalhando para que a victoria seja nossa. E para que S.Paulo vença porque queremos paz em todo Brasil. Eu rezo todas as noites para Deus me atender, que deixe S. Paulo vencer. Nós temos que entrar no Rio com grandes bandas de música. É uma menina paulista que tem apenas 10 anos.”

A voluntária de 32 Zuleika Sucupira Kenworthy, falecida em dezembro de 2017, participou de um grupo de senhoritas paulistanas que escreviam cartas para os soldados. Em entrevista ao Estadão, em 2016, ela disse que havia se apresentado como voluntária e foi destacada para montar as caixas de primeiros socorros para os combatentes, com outras jovens. Nas horas vagas, elas escreviam cartas de incentivo aos combatentes no front. “Não sabíamos quem ia receber as cartas, por isso usávamos termos genéricos, elogiando o patriotismo deles e recomendando que se cuidassem”, disse, na ocasião.

As correspondências dos oficiais seguiam em envelopes timbrados e eram registradas em folhas de controle. O serviço de telégrafo também era mais utilizado pelos oficiais, mas, no fim da revolução, a população passou a recorrer ao serviço principalmente para obter informações sobre familiares em combate. Como um telegrama enviado por meio da Estrada de Ferro Central do Brasil e dirigido ao comandante do Estado Maior Setor de Vila Queimada. “Peço dar notícias meu filho 2.º Tenente Lauro Sodré – Rua Freire da Silva, 92, São Paulo. Virginia Sodré”.

Selos

Os pesquisadores reuniram também exemplares dos 11 selos lançados para o correio civil, com valores de R$ 100 réis a R$ 10.000 réis, além de três selos de depósito. Na época, a Sociedade Philatélica Paulista abriu um concurso para a escolha das estampas. Quando a revolução acabou, em 2 de outubro, o governo federal autorizou o uso desses selos até o dia 30 daquele mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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