“É uma receita para problemas. Seria muito menos previsível do que a Guerra Fria. Para restaurar a confiança e inspirar esperança, precisamos de cooperação”, defendeu o chefe da ONU a uma audiência de líderes mundiais, incluindo o presidente americano, Joe Biden, que escolheu ir a Nova York, apesar da pandemia de covid-19.
No último ano de seu primeiro mandato à frente da ONU e se preparando para iniciar um novo em janeiro, Guterres já havia alertado em 2018 (divisão “sino-americana”), em 2019 (“a grande divisão”) e em 2020 (uma “nova Guerra Fria”) sobre o risco de um mundo bipolar preso às tensões sino-americanas.
“Estamos enfrentando a maior cascata de crises da nossa vida. Temo que nosso mundo esteja caminhando para dois conjuntos diferentes de regras econômicas, comerciais, financeiras e tecnológicas, duas abordagens divergentes no desenvolvimento da Inteligência Artificial – e, em última análise, duas estratégias militares e geopolíticas diferentes”, comentou nesta terça.
Referindo-se a Pequim e Washington, Guterres foi ainda mais direto. “As divisões geopolíticas minam a cooperação internacional e limitam a capacidade do Conselho de Segurança de tomar as decisões necessárias. Ao mesmo tempo, será impossível enfrentar os dramáticos desafios econômicos e de desenvolvimento, enquanto as duas maiores economias do mundo estão em desacordo.”
Encurralados
O chefe da ONU falou também de sua preocupação com o meio ambiente e alertou que o mundo ruma para a destruição ecológica. “Estamos a semanas da Conferência do Clima em Glasgow, mas parecemos estar a anos-luz de alcançar nossos objetivos.”
Para Guterres, a falta de união global minou os esforços para o combate à pandemia de covid-19 e para melhorias climáticas. “Ao invés do caminho para a solidariedade, estamos numa rota mortal para a destruição. Enquanto milhões passam fome, bilionários se divertem indo para o espaço.”
Nesse contexto, o chefe da ONU lembrou ainda da desigualdade na distribuição de vacinas contra a covid ao redor do mundo, que levou países ricos a terem excesso de doses e considerarem a aplicação de vacinas de reforço, enquanto nações em desenvolvimento ainda nem começaram a imunizar suas populações.
“Talvez, uma imagem seja o retrato de nosso tempo. A imagem que vimos em algumas partes do mundo de vacinas contra a covid-19 no lixo, vencidas e sem uso. Isso é obsceno”, lamentou Guterres.
Em uma alusão implícita a Mianmar, Mali, Guiné e Sudão, o chefe da ONU lamentou ver “também uma explosão de tomadas de poder pela força”. “Os golpes militares estão de volta”, e “a falta de unidade dentro da comunidade internacional não está ajudando”, lamentou.
A Assembleia-Geral da ONU, da qual participam fisicamente mais de 100 chefes de Estado e de governo, bem como dezenas de ministros, deve prosseguir até a próxima segunda-feira. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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