Da Imprecisão da Vida

Dirceu Antonio Ruaro

Amigos leitores, na semana passada, no nosso texto, trouxemos para conhecimento e reflexão, a Resolução da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná, que, entre outras decisões e orientações, permite que as escolas, no seu retorno às aulas e atividades presenciais, possam estipular a distância de  1 (um) metro entre as pessoas para realizar as atividades.

Isso, de fato, levando-se em consideração o contexto epidemiológico atual no estado do Paraná, é possível de se fazer. No entanto, é necessário que os gestores escolares, além de toda a preocupação com a higienização das mãos, uso da máscara, higienização dos ambientes, mantenham vigilância sobre a comunidade escolar, a fim de evitar contaminação.

Dito isso, peço licença aos meus leitores para enveredar para outro contexto. A pedido de um grupo de amigos, trago uma reflexão sobre a “imprecisão da vida” e a vacina contra o Covid-19.

Para isso, vou adotar um possível sentido do poema “Navegar é preciso, viver não é preciso” do famoso poeta Fernando Pessoa. Pois bem, a meu juízo, esse texto pode nos remeter muito bem ao contexto da pandemia da Covid-19.

É possível se pensar que, quando o poeta fala que “navegar é preciso” esteja se referindo ao “ato da navegação” que é preciso devido aos instrumentos utilizados. Nessa direção, especialmente nos nossos tempos, o ato de navegar tanto no mar quanto no ar, de fato, é um ato de precisão. Instrumentos altamente “precisos” servem de base para que a navegação ocorra em qualquer circunstância meteorológica, por exemplo.

Quando o poeta diz que “viver não é preciso”, é possível que esteja querendo refletir sobre a vida como algo que não é matemático, exato, ou cheio de instrumentos.

É possível que o poeta, num contexto de poesia mesmo queira dizer que

viver é terrivelmente ou deliciosamente imprevisível. Que viver é dar uma cambalhota, romper, rasgar, correr, aprender, amar… buscar a felicidade. Penetrar no mundo de incertezas acreditando que nos levará ao objetivo desejado, porém, sabendo que novas incertezas virão.

É nesse contexto que quero enveredar tendo a vida como algo imprevisível. Quem de nós, imaginou mesmo que de longe, como seria o nosso ano de 2020/2021, ou melhor, como seria nossa vida a partir do ano de 2020?

Quantas pessoas nos deixaram. Quantos amigos, parentes próximos, familiares nos deixaram para viver outra dimensão da vida, afetadas pela pandemia do covid-19? Quantas vidas, quantos sonhos abreviados? Quanta dor de não ter despedida? Quem passou por essa situação sabe muito bem do que estou falando. Aliás, não é teoria, é vivência própria.

E, no desenrolar de 2020, num contexto de insegurança e imprevisibilidade inimaginável, contra um inimigo “onipresente”, a busca pela cura, por medicamentos, por vacinas.

Os cientistas, mais do que nunca se envolveram numa corrida contra o tempo e um inimigo invisível que ataca pelo ar, pelo contato humano. E, numa corrida contra o tempo, apresentaram ao mundo, num tempo recorde, diversos imunizantes com a “promessa de evitar a proliferação e brecar a contaminação”.

Imagino que Fernando Pessoa, nosso poeta em referência, jamais pensou que “viver não é preciso”, seria tão real quanto é no contexto mundial de hoje.

Mas, a humanidade, ou melhor os humanos, carecerem ainda de um pouco de sensibilidade humana pela vida (sua e dos outros).  Com todas as mortes ocorridas, como disse, algumas nas próprias famílias, muitas pessoas julgam que a vacina é “coisa do demo”, da “anti-ciência” de políticos que querem acabar com os governos.

Teorias de conspiração não faltam. Desconhecimento, também não. O que gera imensa preocupação, pois com toda a possibilidade de buscar conhecimentos, não se pode pensar que pessoas ainda assim, “teimem” em não se vacinar.

Pessoalmente entendo e respeito as decisões das pessoas, entendo que o receio às reações que o imunizante possa apresentar seja um dos motivos da não vacinação, mas tenho receio de que muitos estão confundindo o medo de se vacinar com o dever de proteger a sua própria vida e de seus familiares.

Mesmo tentando compreender certas atitudes não consigo, apesar do esforço intelectual, entender as teorias bizarras do movimento antivacina (no Brasil e no Mundo).

Por outro lado, sei, também, que a grande maioria das pessoas que hesita em se vacinar não tem uma agenda política e não está comprometida com uma causa anticientífica: elas simplesmente estão indecisas.

Então, aqui meu apelo, pela vida, pela sua vida, pela vida de seus familiares (seus pais, tios, quem sabe), mude de ideia, perceba que há cepas muito agressivas, que essas infecções virais se espalham rápido demais e uma das vítimas por ser qualquer um de nós, a qualquer momento, mas se estivermos protegidos pela vacina, mesmo que saibamos que segurança cem por cento não existe, teremos, pelo menos uma chance de nos imunizar.  

Amigo leitor, meu apelo: sejamos propagadores da imunização, da necessidade de proteção de todos nós, de nossos familiares e amigos, mesmo sabendo que a navegação da vida não seja segura, não seja precisa, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional Assessor Pedagógico da Faculdade Mater Dei

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