Flori Antonio Tasca
O uso de ferramentas tecnológicas para assediar, ameaçar, constranger ou humilhar outra pessoa é cada vez mais frequente em nossa sociedade. O fenômeno ganhou até um nome próprio, o “cyberbullying”, ou o “bullying virtual”, e há evidências de que ele pode ser até mais prejudicial do que o bullying “tradicional”. Isso pôde ser constatado na revisão da literatura empreendida sobre o tema por Guilherme Welter Wendt e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa. A dupla é autora de um dos poucos estudos sobre o tema, chamado “Agressão entre pares no espaço virtual: Definições, impactos e desafios do cyberbullying”, que foi publicado em 2013, na revista “Psicologia Clínica”.
Geralmente, o cyberbullying ocorre mediante o envio de e-mails, mensagens de texto, divulgação de fotos e vídeos ofensivos, manipulação de imagens, insultos em salas de bate-papo ou redes sociais. Essas agressões podem ser anônimas e parece haver uma espécie de crença na impunidade pelos atos praticados em ambiente virtual. A internet tem se mostrado propícia para a manifestação de comportamentos agressivos, que, ao contrário do bullying “real”, possuem caráter de permanência, pois usuários do mundo inteiro podem assistir, compartilhar e salvar em seus computadores tais agressões.
Também ao contrário do bullying, o cyberbullying não tem hora para acontecer. Não se trata mais de saber que será agredido quando for à escola, mas de receber ameaças a qualquer momento, até mesmo quando se está dormindo. Existem estudos dando conta de que, no ciberespaço, as pessoas perdem a sua capacidade de se colocar no lugar do outro e desenvolver a empatia, de modo que não pensam na avaliação e nos sentimentos que serão consequência dos seus atos, o que facilitaria o comportamento de agressão.
Sugere-se, inclusive, que o cyberbullying possa ser mais prevalente que o bullying em geral. Um estudo citado pelos autores encontrou evidências de que as vítimas do bullying virtual são mais propensas a ter sentimentos de solidão do que aqueles que são vítimas do bullying tradicional. Também apresentam baixos níveis de autoestima e riscos de tentar suicídio. Há indicativos de que os agressores no mundo virtual são os mesmos da vida “real”, o que vale também para as vítimas. Parece haver um processo constante e cíclico de agressão e algumas vítimas podem usar o cyberbullying para se vingar.
Os autores da pesquisa constataram ainda que crianças e adolescentes que recebem a supervisão dos pais enquanto usam o computador, ou que declaram a existência de regras claras quanto ao uso da tecnologia, apresentam menos riscos de serem vítimas de agressões virtuais. Por outro lado, quanto mais o jovem interage virtualmente, maiores são as chances de sofrer cyberbullying. O crescimento desse fenômeno é um alerta às escolas e famílias para que sejam desenvolvidas novas competências e aponta para a urgência de políticas públicas de regulação e intervenção diante de agressões virtuais.
São impostos desafios cotidianos aos terapeutas, educadores e responsáveis pela implementação de políticas de enfrentamento ao cyberbullying. Boa parte das vítimas não procura atendimento especializado, o que pode causar prejuízos sérios e mesmo irreversíveis. O desempenho escolar pode ser afetado e as agressões podem influenciar o clima escolar de um modo geral. Os autores sustentam que é preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre as responsabilidades pessoais e a liberdade oferecida pelas tecnologias. As escolas devem rever as suas políticas de uso de equipamentos como smartphones e notebooks e os pais precisam ter uma atitude proativa e vigilante.
Educador, Filósofo e Jurista. Diretor do Instituto Flamma – Educação Corporativa. Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná, fa.tasca@tascaadvogados.adv.br
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