Conviver com pré-adolescentes em família: céu ou inferno?

Dirceu Antonio Ruaro

Na semana que passou, conversamos sobre os humores e rumores da pré-adolescência. Consideramos dificuldades de entendimento dos filhos que passam por uma significativa mudança em suas vidas.

Precisamos entender que eles, os pré-adolescentes, estão numa fase de descobertas de si mesmos e sentem-se perdidos diante de tantas coisas que descobrem sua a vida e seus relacionamentos.

Sabemos que a pré-adolescência é uma fase difícil para crianças, que de repente, não são nem crianças, nem adultos. Ora são consideradas crianças, ora dizemos que têm responsabilidades e precisam assumir o que fazem e dizem.

Se é uma fase difícil para as “crianças” imagine como deve ser para a família toda. Muitas vezes, os demais membros da família, especialmente os pais, não entendem o que está acontecendo e ir do céu ao inferno no ambiente familiar é imediato.

Os pais se preocupam com os rompantes e comportamentos inadequados entre os membros da família e se perguntam, será que fora de casa é assim também, e se preocupam pois querem garantir que seus filhos sejam pessoas bem-educadas e sociáveis.

Os pais e demais membros da família precisam entender que a instabilidade de humor e ação são coisas absolutamente passageiras. Por isso, entender que, mesmo com atitudes rudes, eles estão tentando se encaixar no ambiente doméstico e escolar, e querem, sem dúvida fazê-lo da melhor maneira possível.

Muitos pré-adolescentes, por uma questão familiar mesmo, de entendimento dos pais, da presença dos pais, do acompanhamento dos pais, sentem-se em situações, digamos assim, “caóticas” e não conseguem enxergar solução pacífica e a única alternativa que encontram é o confronto.

Isso se estende para o comportamento escolar. Na maioria das vezes, tanto em casa quanto na escola, não há o desejo intencional de ofender, magoar ou desrespeitar as pessoas com as quais convivem.

Por isso, em casa, os pais precisam, mesmo que com dificuldades, acompanhar todo o processo de desenvolvimento e ter a capacidade de entender que é uma situação passageira.  

Na escola, é importante que os alunos, nessa fase da vida, contem com o suporte de profissionais capacitados para lidar com pré-adolescentes, para que assim, possam orientar os professores, coordenação e, até mesmo, os pais durante esse momento.

E é nessa fase importante que os pré-adolescente precisam sentir que têm em seus pais e professores um aliado e não um inimigo. E se os pais e professores conseguirem transmitir essa intenção será muito mais fácil conseguir entender as frustrações e rompantes de seus filhos e/ou alunos.

Assim, tanto escola quanto a família (especialmente os pais) tentem manter sempre um canal de relacionamento aberto para poder tratar de todos e quaisquer assuntos.

Aqui, especialmente os pais, precisam entender que dificuldades pessoais e frustrações dos filhos, precisam ser discutidas, acolhidas, compreendidas e ouvidas. Em outras palavras, há momentos que o papel dos pais e professores é de ouvir, de ter um olhar de compreensão.

A autoridade de pai/mãe/professor precisa ser mantida, evidentemente, mas é preciso que os pré-adolescentes saibam que têm nos pais e nos professores pessoas amigas, sinceras, compreensivas, respeitosas, que ouvem e acolhem e que não saem contando pra todo mundo o que está acontecendo, compreendem isso?

Se os filhos, pré-adolescentes ou não, não conseguirem confiar nos pais e educadores, adotarão uma postura mais distante, ou até mesmo mais agressiva entendendo que os pais e educadores são figuras de autoridade e opressão.

É delicado isso, não perder a autoridade e ao mesmo tempo ter uma atitude de compreensão e ternura diante de uma “crise” ou de um rompante de um pré-adolescente, não é uma tarefa simples.

É perfeitamente compreensível que os pais se preocupem com as atitudes que podem levar de um instante para outro “do céu ao inferno”. Por isso é necessário entender que existem “momentos” oportunos para abordar os assuntos que incomodam e frustram o pré-adolescente, pois, além dos motivos da “crise” ou do “surto” existem outros assuntos que os pais podem querer conversar com os seus filhos durante essa fase da vida, porém, é preciso saber qual a melhor forma de fazer isso, uma vez que essa já é uma etapa com descobertas quase diárias.

Assim, procurar por “momentos oportunos” para falar sobre determinados assuntos, de maneira que o pré-adolescente não se sinta intimidado ou constrangido com o teor da conversa.

De qualquer forma é preciso fazer com que o pré-adolescente sinta que vive essa dualidade de céu e inferno em casa muitas vezes. Um olhar firme e terno ao mesmo tempo, por parte dos pais, ajudará muito o filho a entender a sua instabilidade de humor e as possíveis consequências para a vida familiar, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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