Ser bom no que faz não é a mesma coisa que ser perfeito!

Dirceu Antonio Ruaro*

Mês de agosto findando e como havia falado, dediquei esse mês a falar de vocação. Na semana passada, dediquei o texto à reflexão sobre o “trabalho, vocação e realização pessoal”, pois bem, penso que para finalizar esse tema, preciso dar ênfase a uma questão que, de certa maneira, me traz inquietação.

Claro que não é uma inquietação apenas minha, mas de muitos educadores, pois observamos que muitas crianças, depois adolescentes e jovens passam por períodos de “competição” e de certa forma, de “concorrência” mesmo entre os pares de uma turma, na busca de ver quem é o melhor da turma, quem faz melhor as tarefas e trabalhos escolares, quem tira as melhores notas, e essas pessoas se esmeram disciplinadamente, todos os dias, na busca da excelência, e por que não dizer da perfeição.

Entendo que essa “busca pela perfeição”, inevitavelmente desemboca no perfeccionismo, e entendo, também, que ser perfeccionista não é problema, que não há nada de errado em ser perfeccionista, que esse pode ser um traço da personalidade da pessoa, que ela carrega consigo e faz ela ser o que ela é. Então, no meu entendimento, desde que o perfeccionismo não atrapalhe o desenvolvimento da pessoa, não há problema.  Agora, na medida em que isso atrapalhe os relacionamentos pessoais e a realização pessoal, precisa procurar ajuda profissional.

É interessante observar que os alunos e, os filhos, que querem ou se sentem pressionados (muitas vezes por eles mesmos por serem perfeccionistas) a fazer o melhor o tempo todo vivem um tipo de processo de “aceleração”. Ou seja, têm dificuldade de se acalmar, de fazer as coisas sem pressa.

Por isso, é interessante que pais e professores, ao observarem esses comportamentos, possam indicar que à medida que o tempo passa, essas crianças vão aprender que ninguém precisa e nem consegue ser perfeito o tempo todo.

Ensinar a não manter “essa pressão” sobre si mesmo é, uma das maiores contribuições que pais e professores podem desempenhar com essas crianças e adolescentes, fazendo-os pensar que não precisam ser o melhor em tudo que fazem, ou que precisam agradar a todos, fazendo as coisas além de suas possibilidades e capacidades.

Quem sabe ajudá-los a não alimentar essa cobrança sobre si mesmos e auxiliá-los a diminuir esse tipo de “fardo” que tende a se tornar cada vez mais pesado e inútil, no final das contas.

Pais e professores devem (no meu modo de pensar) ensinar que ser bom e fazer bem feito é uma qualidade, sempre, mas que isso é bem diferente de ser perfeito.

Ensinar que o bom é humano. Isso é interessante e pertinente. Além de possível.

Já o perfeito (coisas sem defeito algum) é raro, é o máximo das virtudes e não é necessário em que tudo que fazemos.

Quem sabe se pais e professores conseguissem mostrar isso claramente aos filhos e alunos, já teriam dado um passo significativo na direção do bem feito.

Quem sabe ensinar que não precisamos buscar a perfeição para deixar os outros orgulhosos e felizes ou para ser considerado bom para as outras pessoas.

Não estou defendo que podemos ser medíocres. Não é isso. Também não estou dizendo que não precisamos ter sonhos ou, nos contentar com pouco.

Pelo contrário. Apenas estou dizendo que precisamos nos permitir ser humanos, simplesmente humanos e nos cobrar na medida do humano, do possível e das nossas capacidades e habilidades. Claro que não podemos usar desculpas do “não sei”, “não posso”.

Fazer o melhor que pudermos sem explorar a nós mesmos deveria ser a medida de fazer bem feito o que temos de fazer, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

*Dirceu Antonio Ruaro

Doutor em Educação pela UNICAMP

Psicopedagogo Clínico-Institucional

Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER

 

 

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