Cuidado com expectativas muito altas em relação ao desempenho dos filhos

Dirceu Antonio Ruaro

Na semana passada, tratei do tema “rotular” os filhos. Disse que, na verdade, há grande expectativa em torno do desempenho das crianças e adolescentes na escola. Uma coisa que é normal. Mas, como nosso espaço é limitado, deixei de explicitar algumas questões que trago no texto de hoje.

Pais e professores, de fato, investem na formação dos filhos e alunos. Muitas vezes, por parte das famílias há um investimento “pesado” considerando-se as condições socioeconômicas da família.

Inclusive, muitos pais, dizem que querem que os filhos estudem para que tenham uma profissão que não lhes seja tão difícil quanto foi a sua, ou em outras palavras, que não querem que os filhos passem por aquilo que eles passaram.

Perfeitamente compreensível, o que é complicado e, muito, em decorrência dos valores e objetivos familiares, é que muitos estudantes são submetidos a uma verdadeira “panela de pressão” pois, há cobranças de todos os lados, dos amigos, dos familiares, dos professores e, em decorrência disso, muitos acabam criando o mito da perfeição ou um grande perfeccionismo, ou seja, tudo que eles fazem precisa ser perfeito.

Temos muitas crianças e adolescentes perfeccionistas que, no futuro, “darão com a cabeça na parede” como se disse comumente.

E, por que ocorre isso? Porque essas crianças e adolescentes precisam provar para elas mesmas que são bons, que sabem fazer tudo, que conseguem dominar tudo e que para eles é um dever muito grande obter as melhores notas e os melhores desempenhos.

Eles próprios cultivam altas expectativas em torno de si mesmos e fazem de tudo para não decepcionar os outros e a si mesmos.

Muitas crianças e adolescentes desenvolvem essas ideias tão fortemente, que o melhor desempenho se torna norma para elas. E, frustram-se terrivelmente, caso não consigam as melhoras notas em qualquer tipo de avaliação.

Crianças e adolescentes que não se contentam estar em segundo lugar, criam, de certa forma, uma armadilha para seu futuro, por isso pais e professores, precisam estar atentos e observarem quando há um exagero na cobrança da própria criança sobre seu desempenho.

E aí entra em cena outra questão: a do esforço. É claro, é correto exigir certo esforço dos estudantes. Caso contrário eles “deixam para depois” ou pra última hora toda e qualquer tarefa, todo e qualquer estudo e caem em outra armadilha: minha mãe, meu pai ou meus amigos vão me ajudar e eu não preciso me preocupar com nada, tudo vai dar certo.

A vida escola escolar precisa de planejamento, de estudo, de esforço, de dedicação na medida das possibilidades de cada um.

Precisamos entender que nem todas as crianças nascem “gênios” e precisam aprender a não as comparar com os amigos, irmãos e outros colegas.

Não estou defendendo a ideia muito usada na França que deu nome a um comportamento para os pais “laissez-faire”. Laissez-faire é parte da expressão em língua francesa “laissez faire, laissez aller, laissez passer”, que significa literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”.

 Em termos de estudos essa expressão significa “deixa que a criança se vire, se organize e dê conta, sem nada de cobranças. Também não é assim que se deve agir. Quando pequenas e na adolescência, eles precisam do acompanhamento dos pais, de “certa vigilância”.

Não estou defendendo a ideia de radicalismos, de estudar e fazer as tarefas sem flexibilidade alguma, também não é isso.

Estou muito mais pensando que as crianças e adolescentes de hoje sofrem uma “pressão” que nós e nossos filhos com 30 anos ou mais, não sofreram.

Hoje as redes sociais criaram uma “obsessão” pela imagem e pela perfeição devido ao avanço tecnológico e a vida de “famosos” que circulam fatos amplamente “fabricados” de uma vida perfeita e sem obstáculos, resultado de uma mídia que prega a ideia da alta performance em tudo.

É preciso atentar para o fato de que, para muitas crianças a partir dos 10 anos (já pré-adolescentes) a internet e as redes sociais são tudo. E, correm o risco de criar para si mesmas um “personagem”. Também não estou condenando as redes sociais e a internet, estou apontando para uma das consequências de seu uso equivocado.

Acompanhar a vida escolar da criança, saber de suas potencialidades e fragilidades pode auxiliar muito na dinâmica familiar do estudo e da responsabilidade das crianças e adolescentes.

Temos de nos preocupar, sim, sem sombra de dúvidas, com o desempenho de nossos filhos, auxiliá-los, orientá-los e, se preciso, buscar auxilio profissional, mas não podemos contribuir para que a “tampa da panela de pressão exploda”, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater             

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