É preciso ensinar à nossas crianças, adolescentes e jovens que o mundo real vai além do umbigo deles!

Dirceu Antonio Ruaro

Na semana passada, trouxe para nossa reflexão a questão da formação das novas gerações. Afirmei que “estamos criando uma geração frouxa”. Sei que muitos leitores não concordaram e, não concordam, mas parto do princípio que a reflexão precisa ser assim mesmo, pois se houver concordância em tudo, não há necessidade de parar e pensar.

Por outro lado, como educador, penso ser meu papel alertar pais e colegas educadores sobre questões que fazem parte da educação familiar e formal de nossas crianças, adolescentes e jovens.

É comum ouvir, hoje em dia, que à família cabe a educação para a vida e à escola cabe a educação cientifica. Concordo, em partes. A educação cientifica sem a humanização não tem sentindo algum, assim como a educação de berço, se não for para “rehumanizar” nossas crianças, adolescentes e jovens, perde o sentido. 

Afirmei, também, que a atual geração que está frequentando o ensino médio e superior parece que saiu de um mundo tão idealizado que não consegue ouvir nenhum tipo de crítica, ou até mesmo, de discordância.

Temos encontrado nas escolas, especialmente com alunos do ensino fundamental dois, ensino médio e superior, uma “baixíssima resistência à ofensa”. Ora, sabemos que existem críticas e “críticas”, que é preciso separar “o joio do trigo”.

É evidente que algumas críticas são, de fato destrutivas, e o agressor deseja que a vítima se desgrace justamente entrando no seu jogo. É a maneira de jogar. É assim que as pessoas querem que respondam a seus comentários maldosos, tanto nos enfrentamentos pessoais quanto virtuais.

Logicamente que precisamos ensinar aos nossos filhos e educandos, desde pequenos, que é preciso aprender a ter humildade. Até para poder reconhecer comentários ocasionais que não se ligam a nenhum tipo especial de preconceito e “fobia”, pois hoje tudo se tornou uma espécie de “mundofobia”.

Por isso, ensinar a reconhecer quando, de fato, se torna um comentário maldoso com o intuído de machucar, ofender, desmoralizar de um comentário que não é “um atentado” a sua autoimagem.

Percebo, especialmente no atendimento a jovens estudantes que, infelizmente, além de “mimada”, a geração atual adora procurar coisas para se ofender. Parece, muitas vezes, que adotaram a célebre ideia de “tolerância zero”. 

Falando com alguns docentes, fiquei preocupado com a ideia de que, em sala de aula hoje, tem de se ter muito cuidado com o que se fala (como se isso não fosse necessário sempre) porque a geração de hoje se ofende com qualquer coisa e, por consequência, tudo deve ser abafado, porque é ofensivo, inclusive a verdade.

De certa forma, concordo com a preocupação dos professores, pois basta olhar atentamente para nossa sociedade e os comentários nas redes sociais, para entender o pensamento atual. A verdade perdeu para a mentira há muito tempo. Quem deveria se preocupar com a verdade, a justiça, a moralidade pública, já se enredou há muito tempo para outras veredas.

Parece que estamos tendo certas categorias sociais que são intocáveis. O que, certamente traduz um mundo de hipocrisia, defendem o indefensável, criando subterfúgios em nome de uma “justiça” que, de fato, é cega.

Infelizmente, parece que a geração atual e mesmo arrisco a dizer grande parte da sociedade (não só a brasileira) vive num mundo de faz de conta, e tudo está certo!

Como costumo dizer, parece que o “palanque político” se instalou indefinidamente na cultura brasileira e palavras como consideração, respeito, companheirismo, são apenas conceitos lindos.

Vivemos um período de superficialidade. Superficialidade nos relacionamentos interpessoais (as salas de aula são menos importantes e interessantes do que as redes sociais); superficialidade na interpretação e emprego das leis (aos amigos a benesse da interpretação pessoal e interesseira da legislação, e aos inimigos o rigor da lei); superficialidade na relação familiar (pais e mães enquanto provedores são um mal necessário; superficialidade no trato com a vida sem se lembrar de que a vida é bela, mas é curta.

Naturalizou-se a ideia de pensar e agir olhando para o próprio umbigo sem entender que o umbigo faz parte de um todo.

Naturalizou-se a ideia de uma geração dotada de “super” alguma coisa. E, com preocupação vejo que nossas crianças, adolescentes e jovens ainda não entenderam que a vida não tem “replay”, que não há um botão que faça voltar ao status anterior.

É necessário que os pais e educadores dos pequenos de hoje, possam, ensinar a valorizar as pessoas, sem fazer nenhum apologismo a qualquer tipo de diferença sem medo de ser chamado de algum “fóbico” da vida.

Que possam ensinar a valorizar a verdade, doa a quem doer, sem medo de serem chamados de “extremistas” de direita ou de esquerda.

Que possam ensinar a olhar ao redor e perceber que a maravilha aventura da vida não tem repetição. Que é preciso ser o mais humano dos seres para poder ser tratado como o mais humano dos seres, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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