Educar filhos não é um “mar de rosas”

Dirceu Antonio Ruaro

No texto da semana passada, tentei passar aos pais uma ideia um pouco menos dramática sobre a “desobediência dos filhos”. Ora, todos nós, inclusive adultos e pais erramos em algum momento e sobre alguma coisa.

O processo normal de desenvolvimento da personalidade da criança tem também o aspecto da desobediência, considerado por muitos especialistas como “normal”, visto que se trata de um processo de desenvolvimento, ou seja, a pessoa não está pronta para as intempéries da vida.

Pois bem, a educação de filhos pode ser comparada a maré: às vezes está baixa, mas sobe. Gosto dessa comparação. Nem sempre há calmaria no processo educativo dos filhos.

Os pais, por mais que se “preparem” para serem pais (se é que se pode dizer que nos preparamos para ser pais), sofrerão por alguns motivos pois, como sabemos e por óbvio os pais também são seres humanos.

E, como seres humanos, sujeitos a todas as situações que isso implica, podem acertar ou errar na educação de seus filhos. Mas é muito bom saber que a desobediência dos filhos faz parte do processo educativo e que aos poucos vai se acomodando (mas não se engane, tem filho que a vida inteira será desobediente).

Nós, pais e educadores “adoramos” que nossos filhos e educandos sejam sempre bem-comportados. Mas, nem sempre é assim. Os comportamentos podem não ser sempre maravilhosos. Nossos príncipes e princesas são seres humanos e como seres humanos desobedecem. Mas eles precisam aprender a obedecer, na paternidade e na maternidade, nem tudo são flores. E é complexa, a tarefa de ensinar os pequenos a se comportarem exige tempo e paciência. 

É lógico que é cansativo, para muitos até exaustivo, as situações de desobediência e alguns pais/mães anseiam pela chegada da adolescência, quando parece que as coisas vão melhorar. Cuidado, só parece. Cada fase, cada idade, tem seus desafios próprios.

A fase da desobediência pode ser considerada uma fase que se estende dos quatro aos 10/11 anos, mas isso é apenas uma referência, pois não é igual para todos. Cada família, cada criança tem seus momentos.

Mas, penso ser importante que os pais tenham ideia do tipo de desobediência de seus filhos. Ou seja, qual a situação ou o contexto de desobediência que se estabelece com o seu filho e o que fazer para ajudá-lo?

Primeiramente, temos de considerar que existem tipos de desobediência e, pessoalmente penso que dois deles são os mais interessantes de serem analisados por serem os que mais ocorrem com nossas crianças.

Um tipo é a desobediência passiva, na qual a criança recebe ordens do pai ou da mãe ou do educador, não retruca, não teima, mas não faz o que se pede. Parece que não ouviu, não entendeu.

Já no outro tipo, a chamada desobediência ativa, a criança retruca, responde, bate o pé e se recusa a fazer o que se pede. Comportamento francamente desobediente.

Quando a criança percebe que a família tem clara a noção do que é certo e do que é errado, fica mais fácil trabalhar as atitudes com ela. Mas também não é regra. Em todas as situações, a melhor saída é o diálogo, a conversa. Cuidado, não monólogo (você só quem fala).

E, no diálogo é importante deixar claro que as regras da casa não foram cumpridas. Que você mãe ou pai está chateado (a), mas cuidado para não impor uma situação de culpa, pois a criança poderá mais tarde “fingir” só para te agradar.

É lógico que os pais não têm “um saco de paciência”. Mas é preciso falar, repetir, orientar, estabelecer e restabelecer regras de convivência para que as pessoas (crianças) possam se desenvolver experimentando as mais diversas situações e, nelas, estão as desobediências.

Um dos segredos pode estar na atenção, no carinho, na amorização. Na correção das atitudes com carinho, no apoio sem deixar claro que as expectativas da família e/ou do pai/mãe foram quebradas.

É interessante pensar na “firmeza de pai e na ternura de mãe” na hora de corrigir, de estabelecer limites. Ah, às vezes é ao contrário” ternura de pai e firmeza de mãe”, vocês me entendem.

De qualquer forma fique atento (a) para saber se seu filho (a) não está passando dos limites. Ah, cuidado não exija perfeição. Às vezes temos pouco tempo para conviver. Chegamos em casa e tem uma série de coisas a cumprir (tarefas domiciliares mesmo), mas elas não podem ser mais importantes que nossos filhos.

Por isso, na educação dos filhos é muito importante estabelecer para si mesmo (a) um equilíbrio. Não dá para ser rigoroso demais. Nem permissivo demais. Aceite pequenas desobediências e entenda-as. Tente conversar mais, brincar um pouco mais, dar atenção igual se você tiver dois ou mais filhos.

Lembre-se da maré: às vezes é baixa, mas também sobe, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER

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