Sensibilidade moral dos pré e dos adolescentes

Dirceu Antonio Ruaro

Prezados amigos educadores, especialmente pais, de pré-adolescentes e adolescentes, o contexto social, de forma muito clara, o contexto brasileiro, nos remete a situações de dificílima explicação para os pré-adolescentes e adolescentes, que, em seu processo de desenvolvimento moral, questionam efeitos e consequências de situações sociais para as quais não encontram explicação.

Deparamo-nos com situações que exigem a tomada de consciência e a sensibilidade moral e social para entender que efeitos e que consequências podem advir de nossos atos.

Por excelência, no período da pré-adolescência essa situação se expõe muito profundamente nos atos que praticamos e, para os quais, nem sempre temos uma explicação racional, lógica, convincente e moral.

É bom entender que “moral” aqui não é conceito de que algum ato é “bonito” ou “feio”. Quando pequenos e nossos filhos cometem algum deslize comportamental, é muito comum dizermos a eles que essa ou aquela atitude é “feia” ou “bonita”. Não estamos, nesse contexto discutindo isso.

A questão moral para os pré-adolescentes e adolescentes é superior a conceitos simplórios. A questão moral nessa fase da vida, leva à percepção dos efeitos e consequência que uma atitude ou comportamento social, traz para si e para os outros.

Nessa fase, mais do que nunca, experimenta-se e alarga-se imensamente as experiências e vivências relacionais. Aqui, profundamente nossos pré-adolescentes e adolescentes estarão expostos e experimentarão relacionamentos com os outros, com o mundo, com as coisas e com a divindade.

Essas experiências levam a pessoa a aprender a fazer seus julgamentos morais das situações.  Isso nos leva a entender que a forma de interação dos membros de uma sociedade mostra como eles veem uns aos outros, e a compreensão destas interações é um elemento importante para o trabalho educacional e se investe de importância para os pais e educadores entenderem o que se passa com filhos e educandos com relação ao que se considera como  “valores morais” na família, na escola e na sociedade.

É nessa fase que a adesão aos valores morais justiça, solidariedade, respeito, convivência democrática, entre outros, se firmam na maneira de pensar e agir de nossos “quase jovens”.

Por isso é de grande importância que pais e educadores entendam como isso se processa na vida das crianças e pré-adolescentes e como isso se manifesta em suas atitudes e julgamentos.

Temos percebido pela mídia, que, nas escolas se tem tido, nos últimos tempos, muitos casos de violência seja devido à intolerância, ao egocentrismo social, à valorização do ter em detrimento do ser.

Considerando que a escola é um microcosmo social, pode-se dizer que essas situações, na verdade, são apenas uma representação da sociedade. As manifestações de violência, desrespeito ao outro, a supervalorização do ter que campeia no mundo social parece ter encontrado nas escolas uma vitrine que expõe a frágil convicção da moral e da ética na sociedade.

É indiscutível e, inquietante, a dúvida de pais e educadores sobre como propor e explicar valores morais que devem existir para harmonizar a convivência e formar cidadãos críticos.

Como as crianças e os jovens passam grande parte de sua vida na escola, é nela que formam sua sensibilidade, sua maneira de pensar e de julgar, moldam seus conceitos e representações, se enraízam atitudes e comportamentos.

 Daí que a influência moral sobre os alunos é impossível de ser evitada no ambiente escolar. Assim sendo, parece razoável que isso não aconteça de forma inconsciente e difusa pelo assim chamado currículo oculto, mas que seja explicitada, discutida e orientada para a formação de um sujeito moral autônomo, crítico e responsável.

E diante disso surgem questões, nem sempre fáceis de responder:

-Como harmonizar comportamentos num ambiente hostil à sensibilidade moral, à justiça, à compreensão do outro? – Como explicar que nem tudo é válido, que há consequências e efeitos advindos de seus atos, quando a justiça formal só é válida para uns e não para todos?- Como justificar que o princípio constitucional brasileiro da “igualdade” é relativo pois a própria justiça brasileira trata os cidadãos de forma desigual?- Como explicar que a sensibilidade moral para o certo e o errado é relativa?

Tentar responder essas e outras situações é de suma importância para a formação dos nossos filhos e educandos, especialmente, nessa fase de transição. Estar ciente de que nem sempre os filhos adotarão os conceitos dos pais, mas é obrigação dos pais e educadores abrirem os olhos deles para as realidades que nem sempre parecem ser o que são. Ter em conta que nessa fase eles são extremamente imediatistas, querem respostas imediatas, de pronto, como as encontram na internet. Ter a consciência disso e abrir os olhos de que as coisas não funcionam “a ferro e fogo”.

Estar ciente, também, de que os filhos nem sempre escolherão os mesmos caminhos que nós escolheríamos, mas eles têm o direito de pensar diferente, contudo, devem estar preparados para efeitos e consequências de suas escolhas.

Parece-me que, enquanto a sociedade brasileira, não melhorar e aperfeiçoar a “atmosfera moral” em que está mergulhada, é muito difícil ensinar crianças, pré-adolescente e jovens a entenderem sua sensibilidade moral, sem que façam comparações e tenham as expectativas frustradas, pense nisso enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER

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