Ser ou não Ser, eis a questão!

Dirceu Antonio Ruaro*

No texto da semana passada, cujo título era “ Escolhas são encruzilhadas nas nossas vidas”, comentei a questão que é muito importante ensinar aos filhos que eles precisam aprender a fazer escolhas e, também, se responsabilizar pelas consequências que essas escolhas acarretam.

Trouxe, para ilustrar e, de certa forma, auxiliar, a lembrança da poesia Isto ou Aquilo de Cecilia Meireles, na qual a poetiza demonstra que desde que acordamos até o final do dia, fazemos escolhas e, que estas escolhas, nos trazem consequências, umas boas e/ outras, nem tanto, dependendo do que escolhemos.

Parece tudo muito simples. E, até certo ponto é. Mas, quando temos que pensar em termos de vida pessoal, não é tão simples assim.

Muitos pais sonham em ter filhos perfeitos, famosos, ricos, conhecidos, respeitados pelo conhecimento, pelas capacidades profissionais entre outras tantas coisas.

Muitos pais, inclusive, sonham coisas que não puderam ser, para seus filhos e idealizam e/ou imaginam que seus filhos serão capazes de realizar os sonhos que eles próprios não conseguiram.

Projetos e sonhos dos pais, muitas vezes são projetos e sonhos dos pais, e na maioria das vezes, os filhos, não estão dispostos a aderir.

E eles tem esse direito?

Eles podem fazer escolhas diferentes daquilo que nós escolhemos para eles?

E se as escolhas deles não forem adequadas socialmente ao que os pais pensam e desejam?

Muitos pais pensam que os filhos são suas propriedades e que eles devem fazer exatamente aquilo que eles desejam que façam, sigam a profissão que eles sonharam e ajam de acordo com o que eles pensam socialmente, religiosamente e politicamente.

Mas, não é bem assim. Evidentemente que a família tem e vive seus valores. Experimenta suas vivências. Mostra caminhos. Mas as escolhas, nem sempre correspondem aos anseios dos pais.

As aprendizagens da vida, na escola, com os amigos, também interferem nas escolhas dos filhos.  A evolução e/ou revolução social a que estamos expostos modifica pensamentos e comportamentos. As famílias mudam sua composição e formação. As ideias religiosas, sociais, econômicas, comportamentais, sexuais, afetivas, se transformam de geração para geração e, isso tudo, vai formando um caldo cultural novo e provocando um campo de mudanças na maneira de pensar e de agir das pessoas, de forma que os próprios valores familiares são colocados em dúvida.

As crianças de ontem tornam-se jovens com maior independência, autonomia de ideias e de ação, tomada de decisões, são capazes de se arriscar muito mais do que os da geração anterior, tomam decisões quase definitivas sobre suas carreiras profissionais, discutem como desejam se comportar afetivamente e sexualmente e fazem tantas e tantas escolhas importantes que deixam os pais atordoados. 

E, para muitos jovens vem a questão tão difícil de responder: ser isso ou ser aquilo, numa versão mais simples da célebre questão de “To be or not to be – that is the question”- de William Shakespeare.

É claro que para Hamlet “Ser ou não ser” é exatamente isso: existir ou não existir e, em última instância, viver ou morrer, diferentemente do ser ou não ser de nossos jovens de hoje.

A experiência de ver o sonho de pais que queriam ver seu filho cursando determinado curso superior e, no dia da formatura entregar o diploma aos pais e dizer: bem agora vou viver o meu sonho, pois o de vocês eu já vivi, leva-me a crer que não temos o direito de idealizar a vida de nossos filhos.

Penso que temos sim, de mostrar caminhos, de mostrar escolhas, de mostrar as consequências, mas as escolhas precisam ser deles e a nós, pais, cabe respeitar, apoiar, auxiliar para que posam encontrar a felicidade e se tornarem pessoas cada vez melhores, independentemente de “nossos sonhos”..

É claro que sempre vamos querer o melhor, querer que se deem bem na vida, que façam as melhores escolhas, que sejam felizes, mas que façam as escolhas deles, pois as nossas nós já as fizemos, no nosso tempo, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

*Dirceu Antonio Ruaro
Doutor em Educação pela UNICAMP
Psicopedagogo Clínico-Institucional
Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER

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