A pandemia e a estrada

Como a crise sanitária causada pelo novo coronavírus afetou a rotina dos caminhoneiros

A pandemia de Covid-19 mudou o mundo de forma repentina. Diante de uma doença altamente contagiosa, capaz de lotar hospitais rapidamente e causar muitas mortes, foi preciso que a sociedade se adapta-se na mesma velocidade. As atividades cotidianas precisaram ser repensadas, como o simples ato de ir ao supermercado.

Escolas, comércio, eventos, tudo precisou parar ou funcionar de forma mais restrita, para diminuir a circulação de pessoas e assim reduzir o número de contaminados e de vítimas. Os impactos da pandemia também foram sentidos pela categoria dos profissionais da estrada, os caminhoneiros que precisaram ficar expostos ao risco de contaminação para que muitos serviços básicos pudessem continuar funcionando.

De acordo com Gilberto Gomes da Silva, diretor do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac) de Marmeleiro e Região, a pandemia não surtiu um efeito imediato na categoria, pois o setor de cargas foi um dos segmentos que seguiu trabalhando com poucas restrições. “O transporte não parou, os caminhoneiros continuaram trabalhando para garantir o seu sustento. E também porque era necessário levar os bens, levar os produtos, o país não podia parar”, completa o dirigente.

Ele acrescenta, porém, que o transporte de algumas cargas sofreram com a diminuição da demanda por produtos. Setores como o de alguns tipos de alimentos, festas e eventos foram bastante afetados pela pandemia, por conta dos cancelamentos e fechamentos, o que respinhou na rotina de alguns caminhoneiros. “Alguns produtos de consumo imediato tiveram queda de demanda em função do lockdown. Tanto que muitas empresas do segmento fecharam. O pessoal cujo carro chefe eram esses clientes, reduziram sim, e muito, as viagens”, afirma Silva. Ele complementa dizendo que, apesar disso, não conheceu profissionais que precisaram buscar outras alternativas para manter sua subsistência.

Mas de modo geral, a rotina dos profissionais da estrada sofreu poucas alterações. As consequências mais periféricas da crise sanitária foram as mais percebidas.

Segunda casa

Silva analisa que os postos de combustível e as paradas de estrada são a segunda casa do caminhoneiro, que não raro passa longos períodos na distância de sua morada familiar.

Nos primeiros meses de 2020, muitos restaurantes de beira de estrada fecharam por conta das medidas restritivas de circulação de pessoas, o que afetou diretamente os profissionais que não possuem a chamada caixa de comida, espaço que serve de cozinha acoplada ao caminhão, para o preparo das refeições.

Quem dependia da alimentação em estabelecimentos nas rodovias muitas vezes deixou de fazer uma ou mais refeições diárias. Em alguns postos também houve redução do acesso as lojas de conveniência o que afetou também outros hábitos, tendo em vista que os postos são o local onde o caminhoneiro não só se alimenta, como também toma banho, compra mantimentos, e encontra água quente para o chimarrão, por exemplo.

Com o passar do tempo e a flexibilização das medidas preventivas, essas dificuldades foram diminuindo, avalia o dirigente. Porém, outros efeitos colaterais se intensificaram.

Crise

Silva acredita que o pior momento da pandemia foram os primeiros meses de 2021, não necessariamente para a categoria dos caminhoneiros, masa para toda a sociedade.

Foram os meses que registraram o aumento no número de mortos e de casos da doença, algo que preocupava a todos. Segundo ele, a possibilidade de contaminação foi uma preocupação constante tanto para os profissionais como para seus familiares.

O início da vacinação, que já contemplou profissionais do transporte em algumas cidades, o receio diminui ainda que os cuidados tenham se mantido.

O dirigente conta a situação para a categoria ainda não voltou ao mesmo patamar de antes. Na sua opinião, a situação está pior do que antes da pandemia.

Os altos preços de insumos, equipamentos e os custos com pedágios tem castigado a renda dos caminhoneiros. Os preços dos combustíveis estão excessivamente altos, assim como o dos pedágios. Em contrapartida, Silva expõe que os preços pagos pelos fretes estão defasados há anos.

Os preços do aço e de outros metais também impactaram o valor de peças para manutenção dos caminhões, o que tem contribuído para um cenário pouco favorável.

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