Além dos tradicionais indicadores de colesterol, glicemia e hipertensão, os de enzimas hepáticas e creatinina podem ajudar a definir melhor o risco cardiovascular
Quando é feito um exame de sangue de rotina para avaliar a saúde do coração, os primeiros resultados que as pessoas conferem são os que apontam os níveis de colesterol (que indica o risco de aterosclerose e, consequentemente, o de infarto) e a hemoglobina glicada, que vai sinalizar o risco de desenvolver diabetes tipo 2, que é um fator de risco cardiovascular bastante conhecido. Mas existem outros indicadores importantes para a saúde cardíaca, que muitas vezes são deixados de lado, mas podem ser úteis para determinar mudanças de estilo de vida e até abordagens clínicas para a prevenção. São eles: colesterol não-HDL, creatinina, enzimas hepáticas (TGO e TGP) e lipoproteína(a).
Os médicos normalmente costumam monitorar pelo menos cinco itens para avaliar o coração: colesterol, glicemia (níveis de açúcar no sangue), peso corporal ou medida da cintura (para determinar obesidade), hipertensão arterial e, mais recentemente, a qualidade e duração do sono. “Esses são os itens clássicos para uma avaliação cardiovascular de rotina. Além, é claro, de perguntas como: fuma? Já fumou? Faz alguma atividade física? Quais seus hábitos alimentares?”, explica o cardiologista Humberto Graner, coordenador do Pronto-Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia.
Segundo o médico do Einstein, há algum tempo a literatura tem apontado que não são apenas a hipertensão, o colesterol elevado, o diabetes, a obesidade ou o sono ruim que aumentam o risco de doenças cardiovasculares e, por isso, é preciso olhar para outros parâmetros, outros marcadores, para conseguir fazer uma avaliação mais global do paciente.
“É o que chamamos de fatores de risco cardiovasculares emergentes. Temos cada vez mais informações que colocam esses exames [colesterol não-HDL, creatinina, enzimas hepáticas (TGO e TGP), lipoproteína(a)]quase como obrigatórios na avaliação de um paciente quando pensamos em promover a saúde cardiovascular e diminuir os riscos”, afirmou. Entenda a seguir a importância de cada um deles.
Colesterol não-HDL: o colesterol é um tipo de gordura que, quando está em níveis adequados, é essencial para o funcionamento do nosso organismo. O exame de sangue calcula o colesterol total e frações: LDL (colesterol ruim) e HDL (colesterol bom). O exame colesterol não-HDL nada mais é do que pegar a medida do colesterol total e subtrair o colesterol bom (HDL).
Segundo Graner, esse indicador tem ganhado mais importância do que olhar isoladamente os níveis do colesterol LDL (colesterol ruim) porque existem outros fragmentos que também podem aumentar o risco cardiovascular, mas não aparecem explícitos no exame de sangue.
“Antes achávamos que havia apenas essa dicotomia, colesterol bom e colesterol ruim, como se tivéssemos que olhar apenas esses dois elementos, indicadores. Mas existem outras partículas, gorduras, lipoproteínas e até o próprio triglicérides, que também podem causar o risco cardiovascular. E qual a melhor forma de determinar isso? Você calcula o colesterol total e tira somente o colesterol bom. O que sobra é o que não é bom, o que sobra é o colesterol não-HDL. As pesquisas têm apontado cada vez mais que esse é um parâmetro muito mais sensível e fidedigno do risco cardiovascular”, explicou o médico do Einstein.
Lipoproteínas: a lipoproteína(a), também conhecida pela abreviação Lp(a), é um tipo de partícula presente no sangue, similar ao colesterol LDL (ruim), que também se acumula nas artérias e aumenta o risco cardiovascular. Mas trata-se de um fator genético e não causado por fatores de estilo de vida. Segundo Graner, a lipoproteína(a) é única devido à sua estrutura específica. “Essa particularidade faz com que a Lp(a) tenha comportamentos distintos no corpo, em comparação com outras lipoproteínas”, disse o especialista.
A Associação Americana do Coração estima que cerca de uma em cada cinco pessoas em todo o mundo tem níveis elevados de lipoproteína(a). De acordo com o cardiologista, estudos recentes têm mostrado a associação independente da lipoproteína(a) com o risco aumentado de doenças cardiovasculares, além dos fatores tradicionais, como colesterol alto, hipertensão e diabetes. Assim, sua medição poderia ser um fator único identificável para descobrir pessoas com risco elevado de doença cardiovascular.
- “Até pouco tempo atrás, não tínhamos nem como dosar essa molécula. Agora temos esse exame disponível e a recomendação é que ele seja dosado pelo menos uma vez na vida de um paciente adulto para estimar o risco cardiovascular, especialmente para aqueles com forte histórico cardiovascular. Como ela é determinada geneticamente, não existem intervenções para reduzi-la. Mas ela serve como um importante marcador de risco cardiovascular, que vai acompanhar o paciente por toda a vida”, explicou.
Creatinina: o nível de creatinina, um resíduo formado pela digestão de proteínas, é um marcador da função renal e é um exame bastante comum – embora não seja muito usado para a análise de risco cardiovascular. Graner destaca que esse não é um marcador novo, mas a monitoração da função renal é extremamente importante para avaliar a saúde do coração. “Há uma troca entre o coração e os rins muito frequente. Um paciente que sofre do coração pode ter problemas renais, e vice-versa. Daí a importância de monitorarmos a creatinina. Pacientes com problemas cardiovasculares chegam a ter três ou quatro vezes mais riscos de desenvolver complicações renais”, alertou.
Enzimas hepáticas (TGO e TGP): os testes para enzimas hepáticas, conhecidas como TGO e TGP, podem indicar uma função hepática prejudicada ou depósitos de gordura prejudiciais à saúde no fígado. “Essas enzimas refletem a saúde do fígado fundamentalmente por causa de um elemento que tem ganhado cada vez mais holofotes, que é a esteatose hepática não alcoólica, popularmente chamada de ‘gordura no fígado’. Dificilmente recebemos no consultório alguém que não tenha nenhum grau de gordura infiltrando o fígado”, disse o cardiologista. O problema é que esse acúmulo de gordura no fígado – chamado de esteatose hepática – é um distúrbio metabólico importantíssimo, que está cada vez mais associado a riscos de problemas no coração.
Fonte: Agência Einstein
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