Quem é o “outro” no nosso dia-a-dia?

Dirceu Antonio Ruaro

No texto da semana passada, dissemos que a vida da gente é uma dualidade, que somos sujeitos de direitos e deveres. E que, infelizmente, a modernidade, parece que tem sinalizado para as pessoas que elas são apenas pessoas de direitos. E que cabe, às famílias e à escola, ensinar que não é bem assim, que se temos direitos, temos também deveres.

Dissemos também que por ser sujeito de direitos e deveres temos, entre nossos deveres, um dos mais importantes que é a convivência com “o outro”. Que o “outro” é um ponto de referência em nossa vida.

E, diante disso fica uma questão muito delicada para os pais e professores. Construir com os filhos e educandos a noção de quem é o “outro”. Nas escrituras temos passagens que falam do “próximo”. E a grande questão “Quem é o meu próximo? ” E, também, o grande mandamento: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”.

Mesmo que não adotemos os critérios religiosos essas são questões fundamentais para a educação na atualidade. Quem sabe não haveria tanto preconceito, bullying, e tantas leis de proteção de minorias na tentativa de mitigar as ações de desvalorização e de atentados mesmo às pessoas.

Uma das possibilidades é tentar praticar a empatia que é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa para entender seus sentimentos e emoções. Com isso, conseguimos ouvir o outro sem julgamentos, reconhecer diferentes perspectivas e oferecer ajuda, seja na escola, no trabalho ou, na vida pessoal.

Coisa que, absolutamente não é fácil. Imagine como voce faria, como pai ou mãe ou ainda educador, fazer uma criança e/ou adolescente colocar-se na “pele de uma pessoa negra” e sentir a discriminação que essa pessoa sente na fila de um banco, por exemplo.

Falar sobre isso, causa até um nó na garganta, é emocionante, mas e a prática? E colocar-se na “pele de um pedinte”?? De um “sem teto”? De “uma pessoa com uma doença transmíssvel”???…e por aí afora????

É evidente que a “empatia” é uma habilidade que precisa ser desenvolda, até porque ela faz parte das emoções E é importante dizer, também,  que a empatia não é uma ciência que se pode ensinar formalmente.

A prática da empatia se dá por meio do exemplo e deve tornar-se parte da cultura. Ou seja, deve ser praticada, em casa, pelos pais e familiares e, na escola, por todos os professores, membros da equipe pedagógica e outros profissionais que participam do dia a dia da vida das crianças.

Tanto em casa, quanto na escola, é preciso conversar, discutir sobre sentimentos e emoções e explicar o que as pessoas sentem e determinadas situações. As crianças, desde pequenas, são sensíveis aos sentimentos, e, também na escola os professores, especialmente os do ensino fundamental 1, podem conversar com os alunos sobre sentimentos e emoções, destacando a importância do acolhimento de sentimentos bons e ruins, para que eles entendam que as pessoas podem ter impressões diferentes sobre a mesma situação.

Crianças e adolescentes curtem muito as chamadas “rodas de conversa” então, seria interessante que em alguns momentos se pudesse praticar essas atividades com eles e organizar conversas e até representações sobre diversos temas, sem ridiculizar ou menosprezar nenhuma forma de ser de alguma pessoa, pois as atividades lúdicas, como contação de histórias e apresentações de teatro, por exemplo, também contribuem para que os alunos mergulhem no ponto de vista dos personagens e entendam suas dificuldades ao longo da jornada.

É importante que pais e educadores expliquem aos filhos que a “empatia” é muito mais do que “ter” algo, e sim tem a ver com mais “ser de algum jeito”, ou seja ter empatiapara a convivência sadiaé estar conscientemente presente ao que está sendo dito, buscando identificar o que está se passando com a outra pessoa, focando em quais são seus sentimentos e o que ela precisa, ou seja, quais são suas necessidades. É acompanhar o outro com presença e atenção, criando um espaço seguro para que a pessoa expresse seu pensamento, suas ideias.

Também é importante explicar que, compreender que o outro tem uma perspectiva diferente da sua sobre determinado assunto e que você não precisa pensar como ele, é o primeiro passo para se abrir a compreensão do que está por trás deste pensamento e destas ações que você não concorda. Ao tomar consciência de que esta é a experiência do outro e afastando do pensamento de que ele está errado por pensar assim, podemos reconhecer que há sentimentos e necessidades presentes ali, necessidades humanas universais, como compreensão, apoio, parceria, segurança, confiança, as quais também compartilhamos.

Que saibamos praticar a empatia, primeiramente dentro de nossa casa, depois na escola e em nossos ambent4es de convivência para poder, na sequência praticá-la na vida em sociedade, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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