No “Livro das Origens”, lemos a seguinte exortação: “E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden, para que guardasse e o cultivasse” (Gn 2,15). Significa que a missão da humanidade é “cumprir e servir” às coisas criadas como obra primordial e necessária à vida de todas as espécies de seres vivos, com exclusividade às pessoas. Deus dá ao ser humano uma tarefa especial; “cultivar e guardar” a terra, para que ela seja sempre um jardim, e tudo o que nela habita. Não se trata de exercer poder sem limites sobre os demais seres, pois não faria sentido destruir o que Deus, repetidamente, avaliou como “muito bom” (cf. Gn 1,31).
Já na Celebração Eucarística, de 19 de março de 2013, na inauguração de seu pontificado, afirmou o Papa Francisco: “A vocação de guardião da criação não diz respeito apenas a nós cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana, e está relacionada com todos: é guardar a criação inteira, a beleza da criação, como diz o Livro do Gênesis, e nos mostrou São Francisco de Assis. E ter respeito por todas as criaturas de Deus e pelo meio ambiente onde vivemos”.
A Campanha da Fraternidade de 2025, cujo tema “Ecologia Integral”, chama-nos a responsabilidade quanto ao cuidado, ou melhor, convoca-nos a sermos “guardiães da criação”, da casa comum. No entanto, hoje, infelizmente, provocamos inúmeras rupturas na obra do Criador. Muitos seres vivos experimentam a vulnerabilidade e até mesmo a extinção e, por nossa causa, já não poderão dar glória a Deus com suas existências, deixando de comunicar a beleza e a bondade do Criador. Como imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26), somos guardiões da obra do Criador, que colocou em nossas mãos a missão de cuidar, zelar e administrar todo o criado. Esse é um dado fundamental da fé cristã: não nos foi autorizado um domínio absoluto e irresponsável sobre as realidades criadas. Devemos exercer sobre a criação uma forma de relação que corresponda à nossa dignidade de pessoas à imagem de Deus, de Deus que é, por excelência, o único Senhor de tudo que há sobre a face da Terra. Cabe-nos, pois, discernir o que contribui para acolher e colaborar na construção do Reino de Deus neste mundo, em direção a “um novo céu e uma nova terra” (cf. Texto-Base, n. 25).
Guardiães da criação como discípulos de Cristo
Unidos em nossa fé e comprometidos com a missão de cuidar da nossa Casa Comum, somos chamados a reconhecer a urgência da grave crise socioambiental que assola nosso país e o mundo. Em meio às maravilhas da criação de Deus, estamos vivenciando o decênio decisivo em que as nossas ações serão cruciais para a defesa da vida em todas as suas expressões. Não podemos mais adiar ou continuar indiferentes. O tempo de agir é agora. Como filhos e filhas de Deus, somos responsáveis por proteger e preservar a obra de suas mãos. Este é o nosso chamado, este é o nosso dever como discípulos de Cristo (cf. Texto-Base, n. 150).
Na conclusão do Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2025, percebemos que se trata de uma Campanha, ou seja, de um conjunto de reflexões e ações que deve envolver a Igreja toda, transbordando para o todo da sociedade. E uma ação da pastoral orgânica da Igreja! Um esforço de evangelização e educação, que busca gerar convicções e atitudes evangélicas. A Campanha da Fraternidade deverá ser muito mais ampla e profunda, constituindo-se simultaneamente em organização e oração, em pregação e música, em cartaz e aula, em contatos com pequenos grupos e mensagens para o grande público, em proclamação de princípios e escolhas de gestos e projetos concretos. Tudo isso quer levar a uma conversão, a uma superação do resistente egoísmo e do fatal individualismo, a uma vida de amor fraterno e de engajamento comunitário (cf. Texto-Base, n. 171).
Que o amor e a misericórdia de Deus nos inspirem a ser guardiães fiéis da criação, restaurando a convivência e o equilíbrio em nossa Casa Comum no Sudoeste do Paraná, nosso território diocesano.
Dom Edgar Xavier Ertl – Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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