Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, na semana passada, abordei o tema da busca da perfeição na educação de nossos filhos, como uma das consequências possíveis de ensinar o que é certo e o que é errado.
Pois bem, é difícil dizer o quanto erramos ou o quanto acertamos, pois, a educação de um ser humano não é algo da qual se obtenha uma resposta imediata.
Mesmo assim, os pais se preocupam com os “resultados” de suas ações educativas. E, na verdade não poderia ser diferente. Temos, é claro, de nos preocupar com o ser humano que estamos deixando de herança para o mundo.
Uma das questões que mais preocupam, na atualidade, é a ideia de que não se pode “frustrar” as crianças, negando-lhes alguma coisa. Ou melhor, que não se pode dizer “não” aos filhos, para evitar que sofram.
Ora, se não aprenderem diretamente de seus educadores que na vida teremos negativas, de quem aprenderão?
Não estou defendendo a ideia de que se deva sistematicamente dizer “não”. Não é isso. A questão é que, na medida em que nossos filhos vão crescendo, precisam aprender a ouvir “não” e, precisam, para isso, ser educados para receber, refletir e agir diante de uma negativa.
O “não” tem muito a ver com a ideia de ensinar e construir limites. Os filhos precisam, desde o berço, perceberem que há limites, que não se pode ter e fazer tudo o que se quer.
Talvez esse seja um dos aprendizados mais “dolorosos” para os pais que, por um ou outro motivo, querem “poupar” os filhos de frustrações. Por isso, a importância de os próprios pais saberem lidar com limites e como ensiná-los aos filhos, e ao mesmo tempo, ensinar como se lida com os limites que as situações da vida nos impõem.
Por isso, é muito importante que, desde pequenos os pais, ensinem o que é certo e o que é errado e quais limites isso pode trazer nas mais diversas situações da vida.
A criança que não aprende a ter limites, que não aprende o que é certo e o que é errado, terá dificuldades em enfrentar qualquer negação que a vida lhe traga, seja nas amizades, seja na escola, seja em qualquer situação familiar.
Não faz sentido educar uma criança dizendo só o que ela quer ouvir ou deixando fazer só o que quer. Aliás, isso não é educação.
Quando agimos na contramão das necessidades da criança de aprender a lidar com a frustração, estamos criando pessoas que não saberão conviver com outras pessoas e que se tornam “infantis” a vida inteira, esperando que os outros sempre façam e digam o que elas querem.
Pessoas cujos relacionamentos interpessoais serão sempre delicados e prejudicados pois as pessoas precisam aprender que a “realidade da vida” não é um mar de rosas. Aliás, pessoas que não aprendem a lidar coma frustração, com as negativas da vida, acabam se tornando “tóxicas” e de difícil aceitação.
Talvez os pais precisem entender que dizer “não” ou “frustrar” de alguma forma os filhos, não é nenhuma maldade ou injustiça. Pelo contrário, é a formação humana que eles mesmos esperam. Pais “permissivos” também se tornam “tóxicos” aos filhos e quando esses se tornarem adultos, eles mesmos entenderão que faltou algo na educação deles.
Os pais precisam entender que quando dizem um “não” acompanhado de uma explicação, quando negam um desejo ou uma vontade dos filhos, impossível de ser permitida naquele momento por algum motivo, é para que os filhos desenvolvam uma atitude saudável a respeito da negação.
Ao ensinar a aceitar e refletir sobre o “não” os pais estarão, ao mesmo tempo desenvolvendo nos filhos outros conceitos e valores, como a paciência, a resiliência, a espera por um momento oportuno, a ética, a serenidade, entre outros.
Os pais precisam entender que, na educação de filhos, é inevitável dizer “não” e que eles aprenderão com essa atitude dos pais, que nem todos os seus desejos e vontades podem ser atendidos e permitidos de imediato.
O “não” ensina a conquistar o que se deseja. Ensina a criança a planejar, a buscar, a se dedicar, a valorizar as coisas e as pessoas.
Como educador observo com certa apreensão, que muitos pais não conseguem (outros, nem querem) dizer não aos filhos. E isso desemboca diretamente na escola e nos relacionamentos interpessoais que as crianças precisam construir.
Pior ainda, é constatar que muitos pais estão convencidos de que não podem negar nada aos filhos. Mas a adolescência e a vida adulta vão cobrar caro da educação que os pais deram a seus filhos (aliás, estamos vendo isso acontecer ao nosso redor a todo instante).
É de extrema importância entender a educação dos filhos como um processo que contém, também, a construção delimites, de ensinar o certo e o errado, de ensinar a ter valores, pois uma educação sem limites pode trazer consequências inimagináveis nas condutas dos filhos na adolescência e na vida adulta.
Repito o que disse na semana passada, a educação que damos a nossos filhos, não precisa ser perfeita, mas precisa ser uma educação que respeite os limites, os relacionamentos com os outros, consigo mesmo, com as coisas e com o criador, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER
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