A conferência que ocorreu em San Diego, abordou novos medicamentos voltados para o tratamento da obesidade
A Obesity Week é um evento bastante importante para a comunidade médica, e eu, enquanto endocrinologista, sempre fico atenta aos temas abordados na conferência, que traz novidades e avanços da ciência e medicina sobre medicações e saúde pública.
Neste ano, a Obesity Week teve como foco a discussão sobre medicamentos eficazes no combate da obesidade. E, particularmente, achei essencial no contexto atual, em que a obesidade é fator de risco para várias doenças, como hipertensão e diabetes.
Uma das medicações mais faladas durante a conferência foi a Semaglutida, conhecida pela marca Wegovy, aprovada em 2021 pela agência reguladora americana (FDA). O medicamento possui um preço de U$1.349, aproximadamente R$6.000 e seu efeito emagrecedor é surpreendente, e chega a levar a 17% da perda de peso.
Por falar nisso, o Wegovy tornou-se mais famoso nas redes por conta das declarações do bilionário Elon Musk, que atribui o seu emagrecimento à medicação.
Durante a Obesity Week também foram abordados outros medicamentos promissores, como é o caso do Tirzepatide, da marca Elli Lilly. A substância promete resultados iguais ou até mesmo melhores em relação a Semaglutida. Contudo, segundo especialistas, quando chegar ao mercado farmacêutico o Tirzepatide terá a mesma faixa de preço, um tanto quanto inacessível, que o seu concorrente Wegovy.
Outro avanço que ganhou destaque no congresso foi a aprovação do uso da Liraglurtida em adolescentes. A medicação contou com resultados interessantes tanto no emagrecimento, como na manutenção do peso.
A discussão acerca do acesso global a esses medicamentos tem ganhado força. Isso porque as políticas de enfrentamento contra a obesidade não têm tido sucesso, tanto que somente alguns países estão conseguindo deter o avanço da doença.
No Brasil, alguns planos de saúde já permitem o uso desses medicamentos contra obesidade, principalmente para os pacientes com mais comorbidades. No entanto, em nosso país, muitos médicos ainda possuem desconfiança com relação às medicações emagrecedoras.
Até a década passada, não haviam no Brasil medicamentos efetivos para a obesidade, os anorexígenos ainda eram as opções mais utilizadas, e causavam perdas modestas de peso e efeitos colaterais consideráveis. Portanto, criou-se um senso comum de que drogas para o emagrecimento não são seguras, e que possuem graves efeitos colaterais.
Por essa razão, muitos desses medicamentos foram retirados do mercado.
Contudo, estamos entrando em uma nova era para o tratamento da obesidade, em que novas medicações promissoras estão a caminho, promovendo perda de peso e redução do risco cardiovascular, ou seja, com menos efeitos colaterais.
Essas novas classes de drogas são chamadas de incretinas, a base de hormônios naturais que regulam a insulina e retardam o esvaziamento do estômago. Existem alguns efeitos colaterais, como náuseas, porém, costumam ser bem tolerados.
É preciso educar e reforçar para a sociedade o fato de que a obesidade é uma doença crônica de alcance mundial, e que precisa ser tratada como tal, com medicamentos acessíveis, combinado com novos hábitos e mudanças do estilo de vida. Durante as conferências da Obesity Week, por exemplo, a obesidade foi tratada como um problema de saúde pública.
No primeiro dia do Obesity Week foram abordados estratégias de manutenção do peso após o emagrecimento.
A fase de manutenção exige bastante disciplina, uma vez que o metabolismo tende a desacelerar e o apetite pode aumentar. É preciso compreender que a atividade física necessita ser ainda mais constante e intensa, assim como o déficit calórico.
Já no segundo dia do congresso, falou-se sobre cronobiologia e a eficácia da estratégia da janela de alimentação durante 10h, em refeições menores e com intervalos mais curtos.
No terceiro dia do Obesity Week, o foco foi acerca dos avanços no tratamento da obesidade em crianças e adolescentes. As mudanças no estilo de vida foram bastante pautadas no congresso, e é fundamental que haja um tratamento bem estruturado no combate da obesidade, que inclua não somente medicações, mas uma transformação de hábitos.
A abordagem da obesidade enquanto doença deve ser reconsiderada. Assim como foi feito com o tabagismo, onde houve uma alteração nas propagandas e comercialização de cigarros, devemos analisar a forma como alimentos industrializados e fast-food são consumidos e comercializados.
A Obesity Week é um evento importantíssimo para o cenário atual e é fundamental que profissionais da saúde estejam atentos aos assuntos abordados na conferência. Assim como a hipertensão ou diabetes, que possuem medicações voltadas para o seu tratamento, a obesidade deve ser vista como uma doença complexa e crônica, que causa alterações metabólicas de longo prazo.
Por isso, é importante falarmos sobre estratégias populacionais para o combate da obesidade, quanto mais esse assunto for discutido, mais avanços teremos no combate da doença.
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