Acabamos de celebrar o dia mundial do meio ambiente, sem alarde, sem pompas, nem honrarias, sem um grande destaque midiático, afinal nosso meio ambiente no seu todo padece de uma forte ofensiva em todos os lados, uma das tantas crises globais que estão vagando sem rumo faz já um bom tempo, assim como noutras crises, essa também em muitos aspectos quando tratada sob a ótica da atuação, notamos como de costume uma belíssima retórica que se não formos fortes o suficiente, nossos olhos se enchem de lágrimas com facilidade crendo que tudo será resolvido num passe de mágica, desrespeitamos o meio ambiente todos os dias, ora mais, ora menos, de tão desatentos ou desleixados que estamos, o meio ambiente deixou de ser prioridade em nossas precárias vidas; achamos erroneamente que outro distante de nós é sim responsável pela mudança.
O meio ambiente é sim a nossa salvação ou, sem meias palavras ele poderá ser o nosso inferno, aliás isso já é uma realidade em muitos lugares, situações as quais não podemos ficar indiferentes, ou mesmo tranquilos e impávidos em nossa cômoda, mas superficial vida banal que muitas vezes nos acostumamos a levar; a natureza tem sido uma mestra incomparável em nos mandar recados cada vez mais incisivos, constantes e destrutivos. O que não se gasta em prevenção, acabamos gastando de forma muitas vezes triplicada em consertos de fachada, pior ainda é quando se tem dinheiro para gastar em medidas que nos ajudarão a suportamos as intempéries, é saber que o dinheiro está retido em algum lugar e só a muito custo, só a conta gotas mesmo ele chega para resolver problemas muitos pontuais e isso depois que a tragédia já ocorreu; é a realidade nua, crua.
O Brasil vive hoje com muitas doenças, talvez a pior delas seja a nossa falta de sensibilidade diante da bárbara agressão ao meio ambiente, uma forte campanha nos mostra que o nosso estilo de vida deve ser o melhor possível, que sem isso não somos nada nem ninguém, não há propaganda em contrário mostrando um estilo de vida mais sóbrio e comedido, não vemos uma campanha maciça para usarmos produtos com baixo impacto ambiental, há entretanto uma campanha desmedida sim pelo consumo exagerado, por produtos sabidamente poluentes, que levam muitas pessoas a adoecerem todos os anos. A luta por um mundo menos dependente de combustíveis fósseis parece estar perdendo a luta, conglomerados deste setor não poupam tempo e dinheiro para difamarem aqueles que a exemplo de Cassandra tentam avisar a todos do desastre iminente e certo.
O Brasil com seu enorme potencial ambiental, que se gaba em ter uma diversidade única, é ainda um anão em termos de cumprimentos de metas ambientais, sabemos de cor e salteado as tantas promessas já feitas para se resolverem problemas básicos que a população enfrenta, tantos discursos, tantas palavras, tantos projetos que deram em nada, morreram na casca ou mesmo que foram abortados por falta de interesse ou que iriam prejudicar este ou aquele setor, nosso Brasil com raríssimas exceções prefere ainda acreditar em quimeras, utopias mirabolantes, milagres de última hora, o jeitinho brasileiro não perdeu o seu vigor minúsculo para eventos de extrema importância, o Brasil não ouve os seus, dá pouca ou nenhuma importância ao que é seu, o Brasil de ontem e o Brasil de hoje, está mais preocupado em mostrar uma COP30, que apenas disfarça o fim do mundo.
Bioeticamente, o meio ambiente no seu todo é ainda um assunto distante de muitas cabeças hoje, aqueles que dizem que nos governam, não sabem realmente o que é perder sua casa para uma enchente ou ser obrigado a se tornar um refugiado climático por causa das guerras, das secas, das diferentes crises financeiras que campeiam de modo livre mundo afora. Aos governantes de hoje seria muito oportuno que eles deixassem seus palácios confortáveis, suas viagens extravagantes, suas reuniões de pouca serventia, suas salas recheadas de ar condicionado e cafezinhos e viessem para perto do meio ambiente e suas criaturas que nele habitam; Hans Jonas, filósofo que se debruçou intensamente sobre a questão ambiental, teve a audácia de nos dizer que a técnica não dá a última palavra em termos de salvação, que somos nós sim quem daremos ou não sentido à vida.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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