De 2020 até 31 de agosto deste ano, serviço de urgência registrou crescimento maior que 79% nos atendimentos
Até 31 de agosto deste ano, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) registrou 208 atendimentos psiquiátricos em 26 dos 42 municípios do Sudoeste paranaense. Entre os atendimentos, 87 dizem respeito a tentativas de suicídio; 43, ideação suicida; 13, autoagressão; 53, intoxicação e 12 a enforcamento.
Neste ano, de acordo com os dados do Samu, Pato Branco (42), Francisco Beltrão (42) e Palmas (35) são os que mais registraram o acionamento do serviço de urgência quando o assunto estava relacionado ao suicídio. De 2019 para cá, os três municípios são destaque nos atendimentos, fator que pode estar ligado ao número de habitantes nas localidades.
No ano passado, o Samu registrou 116 atendimentos e em 2019, 114. Em ambos os anos, as tentativas de suicídios dominaram os chamados.
De acordo com Francieli Perondi, psicóloga do Consórcio Intermunicipal da Rede de Urgência do Sudoeste do Paraná (Ciruspar), não é possível apontar a principal causa para o aumento desses atendimentos.
“É muito difícil bater o martelo e apontar qual é o fator causal desse aumento. É preciso entender que chamados e atendimentos, não necessariamente, querem dizer um aumento no número de pessoas, visto que um mesmo paciente pode ter sido atendido em mais de uma situação”, explica, comentando que quando a pessoa tem ideação suicida, é muito provável que ela vá tentar mais de uma vez contra a própria vida.
Mesmo que não consiga ter uma explicação exata sobre o porque do crescimento, Francieli ressalta que a demanda por chamados psicológicos aumenta a cada ano. As causas, como ela pontua, são diversas. “Há inúmeros estudos e pesquisas tentando determinar os motivos desse aumento, mas ainda temos poucas respostas.”
É preciso falar sobre suicídio
Segundo a psicóloga, o fato de cada vez mais a sociedade falar sobre a importância da saúde mental também pode ser um motivo para o aumento dos chamados ao Samu. “Temos mais informação disponível e com isso, as pessoas aprendem que podem buscar ajuda, portanto as famílias acionam mais os serviços disponíveis.”
Porém, mesmo que falar sobre saúde mental seja cada vez mais comum, o suicídio ainda é um tabu para muitas pessoas. Discutir o assunto traz desconforto e muitas vezes é evitado. No entanto, Francieli diz que é preciso debater o tema, uma vez que quanto mais explicação, maiores as chances de evitar que o ato de tirar a vida ocorra.
Pandemia e suicídio
A pandemia de covid-19 contribuiu para o aumento das tentativas de suicídio. De acordo com a psicóloga do Ciruspar, mesmo que a pandemia tenha cooperado para o crescimento dos casos, é preciso entender que ela não causou, de fato, um transtorno mental nas pessoas. Apenas desencadeou.
“Pessoas que já tinham algum tipo de problema de ordem psíquica viram seus sintomas intensificados por todo o estresse, medo e dificuldades que a pandemia gerou. As restrições do contato social, os problemas de ordem financeira, o luto vivenciado por muitas famílias, a insegurança sobre como as coisas seriam, também contribuíram para aumentar o sofrimento das pessoas em geral.”
Tentativa, principal indicativo de suicídio
‘Quem fala, não faz’, não pode ser levado em conta quando o assunto é suicídio. Pessoas que comentam sobre o assunto são exatamente as com maiores chances de se matar. Além disso, os que tentam, tendem a tentar de novo, pois, como aponta Francieli, “o melhor indicativo de um futuro suicídio é uma tentativa.”
Como a família pode ajudar
Para que a ideia suicida seja extinta do pensamento da pessoa, além de um tratamento psicológico e psiquiátrico completo, a família também precisa estar presente, pois, a junção do apoio com a medicação e terapia é o combo perfeito para a recuperação da pessoa.
Fique atento aos sintomas
Francieli aponta sofrimento incapacitante como o principal sinal de alerta de que alguém precisa de ajuda. Segundo ela, na maioria dos casos, quando uma pessoa pensa em procurar ajuda, é porque já está na hora.
“Quando se fala em suicídio, o transtorno que está diretamente associado é a depressão. Diferente do que muitos acham, o oposto da depressão não é a felicidade, é a vitalidade. Vivenciar o luto, ter dias ruins, momentos de tristeza, chorar, sofrer, são coisas naturais da vida. Agora, quando isso passa a impedir a pessoa de viver o seu dia, realizar suas tarefas e traz prejuízo para a vida dela (e de pessoas próximas) está na hora de procurar ajuda”, explica.
Conforme a psicóloga, o suicídio pode ocorrer por diversos fatores, seja, eles genéticos, sociais, ambientais, entre outros. “Pode ser pela forma como ela [pessoa suicida] foi criada, pela presença de transtornos mentais, de algum tipo de dependência química, por fatores situacionais (a morte de alguém próximo, um divórcio, um momento difícil da vida). O suicídio é um combo.”
Ainda segundo Francieli, o ato de tirar a própria vida “não é o resultado da passividade, mas sim de uma ação. Requer uma grande quantidade de energia e uma vontade forte, além de uma crença na permanência do momento atual e, pelo menos, um toque de impulsividade.”
Canais de ajuda
Hoje, a principal forma de ajuda imediata, disponível no Brasil, é o atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV), no número 188. O serviço funciona 24 horas, toda semana, e é gratuito.
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