Espiritualidade pode influenciar no tratamento de pacientes com câncer

Nesta semana, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) lançou um guia com o tema “Espiritualidade em Oncologia” voltado as pessoas da área médica e redes de apoio aos pacientes em tratamento. Trata-se de uma série de orientações de abordagem e indução ao pensamento reflexivo que levam ao autoconhecimento e fortalecimento de crenças positivas que podem elevar os índices de cura.

A gestora da casa de apoio do Gama de Pato Branco, Cleuza Chiochetta, contou um pouco da sua história de superação de um câncer e destacou a importância da espiritualidade em todo o seu processo de tratamento e cura.

Em 2016, tive um diagnóstico de Câncer de mama. Na época eu trabalhava num hospital, trabalhei por 32 anos lá. Como eu estava no ambiente da saúde e sempre fui uma pessoa muito prática e racional, não imaginei que a notícia do diagnóstico pudesse me impactar tanto. Como a maioria que eu conheço também fiquei sem chão. Sim, o câncer faz isso com a gente, nos tira a segurança, tudo passa a ser incerto e ficamos à mercê de muitas possibilidades”, contou.

Cleuza mencionou ainda que o tratamento de câncer é um processo, repleto de etapas que exigem coragem e perseverança. “No início, depois do susto, é claro, e de decidir que eu ia fazer tudo o que eu pudesse para ser curada, entrei no processo do isolamento, mais lá também não estava legal”, disse.

A mesma nos contou que durante o tratamento com quimioterapia, foi convidada por uma amiga e integrante do Gama para participar da Roda da Superação. “Mesmo assim, foram necessários vários convites, até que eu fui. Chegando lá me dei conta de que precisava de apoio e foi no Gama que consegui superar com mais leveza o processo”, destacou.

Rede de apoio

A gestora do Gama contou que dentro da estrutura de trabalho, existem diversas ações voltadas a fortalecer o paciente, aumentando a sua força e esperança para passar pelo processo de descoberta, tratamento e sempre que possível, cura do câncer.

O Gama hoje oferece vários apoios. Psicológicos, de Terapia, terapia em grupo e também o Projeto Celebrando a Vida, que é baseado no Programa  Celebrando a Recuperação, que tem como objetivo a recuperação para maus hábitos, traumas emocionais e compulsões”, disse Cleuza. A mesma explicou que a entidade adaptou os pilares do programa para a realidade do câncer. “Nós incentivamos a viver um dia de cada vez e nesse projeto falamos do amor de Deus. Sem cunho religioso ou bandeira de igreja, falamos do amor de Deus de acordo com a bíblia”.

O Programa Celebrando a Recuperação é centrado em Jesus Cristo, baseado em como a Bíblia aborda as nossas feridas emocionais, compulsões e maus hábitos e tem o objetivo de celebrar o poder da cura de Deus em nossa vida. “Essa experiência permite uma profunda mudança de vida, fazendo com que sejamos livres dos comportamentos compulsivos e disfuncionais que nos causam dependência”, consta.

Apoio pela espiritualidade

Sobre o Guia Espiritualidade em Oncologia, aSociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) em parceria com a Escola Brasileira de Oncologia (EBO) o produziram com base no fato de que exercícios e conexões com a espiritualidade, entregam uma melhor qualidade de vida e saúde física aos pacientes com câncer, reforçam a confiança na equipe de saúde, tendo como  consequência maior aderência e melhores cuidados no tratamento.

O material defende a ideia de que é importante que a espiritualidade seja considerada como aspecto intrínseco da humanidade, independentemente da afiliação religiosa, o que inclui ateus, agnósticos ou mesmo aqueles com afiliação religiosa, porém sem observação e prática da mesma. “Tanto os ateus quanto os agnósticos, embora não crendo ou apresentando incertezas sobre a existência de Deus, possuem uma forma de espiritualidade baseada na filosofia existencial, encontrando significado, propósito e realização, por exemplo, na própria vida. A espiritualidade evoca preocupações, compaixão e uma sensação de conexão com algo maior, para além de nós mesmos”, consta.

Como experiência pessoal, Cleuza Chiochetta, conta que possuir uma religião e pessoas dentro dela dispostas a ajudar, fez grande diferença durante o tratamento de câncer. “Eu tive apoio espiritual, sou evangélica e, nesse tempo, toda igreja me fortaleceu na fé e esperança”, disse.

“A fé é o que nos move da dúvida para a certeza, nos tira do medo e nos coloca no lugar de olhar para as coisas que nos dão esperança. O resultado disso é o equilíbrio emocional, trazendo tranquilidade, deixando o corpo em harmonia e receptivo ao tratamento, com menos efeitos colaterais e uma paz que excede a todo o entendimento. Nada vai nos trazer a Paz, somente a palavra de Deus. Na bíblia vamos descobrir quem Deus é e quem nós somos para Deus, isso é sobrenatural. Só experimentando para saber”, destacou.

Cleuza Chiochetta é gestora da Casa de Apoio Gama, além de psicanalista e terapeuta pelo método MPC

Novos propósitos

Como consequência de sua experiência com o câncer, Cleuza conta que sua visão da vida, do mundo, da existência, e tudo mais mudou. “Hoje eu dou valor para coisas que eu não me importava muito antes. Vivo com muito prazer e gratidão pela oportunidade de estar viva e minha motivação é poder passar essa mensagem para mulheres que estão sem chão como um dia eu estive. Que elas possam olhar para mim e ter esperança. Eu decidi, gastar meus dias ajudando outras mulheres a olharem cuidadosamente para suas feridas emocionais, dessensibilizar e ressignificar.

Além de ser gestora do Gama, Cleuza também atua como psicanalista e terapeuta pelo método ProCURE Cicatrizes (MPC). “Como Terapeuta, as pessoas me perguntam se eu sou terapeuta cristã. E eu digo sim e não. Não tem como dissociar de mim aquilo que eu acredito. Então sim. Em algum momento da terapia eu preciso da ação do Espírito Santo. Técnicas e ferramentas são sensacionais. Mais a ação do Espirito Santo é quem tira de nós todo o medo e assim possibilita dessensibilizar um trauma e ressignificar e o mais importante fazer nova criatura, as coisas velhas passaram e tudo se faz novo. Temos uma nova vida”, concluiu.

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