Mitos e verdades sobre a variante Ômicron

A Ômicron, até o momento a variante mais infecciosa da covid-19, deu uma escalada nos últimos dois meses, anunciando a terceira onda da doença no Brasil. No entanto, com o avanço da vacinação, a taxa de morbidade está muito, o que leva boa parte da população a relaxar nos cuidados com a doença, que segue em pandemia e pode ser mortal. Parte desse relaxamento ocorre por falta de informação sobre a situação atual.

Para esclarecer as maiores dúvidas sobre a Ômicron, conversamos com Susane Marafon, médica infectologista que atua no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Instituto Policlínica Pato Branco (IPPB) e no Hospital Santa Pelizzari, em Palmas, e ainda é docente pelo Unidep e atendo no Alda Instituto de Saúde. Confira o que diz a especialista:

Todos os casos de ômicron são leves

MITO. Temos visto que as manifestações da variante Ômicron afetam mais vias aéreas superiores, tendo menos casos de acometimento pulmonar. Mas, devido a alta taxa de transmissibilidade e em alguns locais com porcentagem de vacinados abaixo do ideal, pode ocorrer casos mais graves.

Como a ômicron é menos grave, não haverá casos de internação

MITO. Em estudo realizado nos EUA, foi demonstrado que a variante ômicron apresenta um risco geral menor de hospitalização, associado a um risco menor de hospitalização em pacientes com 3 doses de vacina, em relação aos que não estão com o cartão vacinal atualizado.

A ômicron é uma variante mais leve que a delta

MITO. Mesmo que o número de internações, em comparação a outros momentos da pandemia permaneça baixo, não há evidências de que a Ômicron seja menos grave do que a variante Delta. São necessários mais dados para se chegar a essa conclusão. Em comparação com outras variantes, alguns estudos sugerem que a ômicron se multiplica mais no trato respiratório superior, facilitando a propagação do vírus. No entanto, mesmo que a ômicron cause sintomas mais leves, ainda pode provocar hospitalização e morte, sobretudo em pessoas que não estão vacinadas.

A ômicron infecta mais crianças

MITO. Segundo estudos britânicos, a chance de hospitalização por causa da Ômicron é proporcionalmente maior para crianças pequenas do que para as crianças mais velhas, em comparação com variantes anteriores do coronavírus, mas os casos são leves. A variante Ômicron se espalhou rapidamente pelo mundo, disparando o número de casos, embora a variante seja menos grave que as anteriores e os altos níveis de vacinação entre adultos tenham ajudado a limitar o aumento no número de hospitalizações.

Depois que 70% da população pegar covid, haverá a imunidade de rebanho e a pandemia acaba

MITO. O termo “imunidade de rebanho” é utilizado, em geral, para explicar a proteção indireta contra uma infecção que é obtida por pessoas suscetíveis de uma população quando há uma taxa elevada de pessoas imunes à infecção (por vacinação ou por terem sido infectadas antes). Não devemos nos ater excessivamente às porcentagens de vacinação e imunidade de rebanho para barrar a transmissão do vírus, mas nos guiarmos por essas taxas para implementar ou não restrições à circulação de pessoas. Principalmente os dados de internação, pois se a transmissão aumentar, haverá casos mais graves, principalmente em não vacinados. Mesmo com a eficácia muito alta das vacinas contra covid grave, ainda assim teríamos altas taxas de hospitalizações em UTIs e mortes. Com as vacinas que temos, mesmo que reduzam a transmissão, o conceito de imunidade de rebanho não faz sentido. E o Sars-CoV-2 tem sofrido rápidas mutações, que geram novas variantes, algumas mais transmissíveis, como a Ômicron, e podem ser mais resistentes ao efeito das vacinas.

Posso me reinfectar com a Ômicron

Verdade. Em teoria, sim, embora as reinfecções sejam extremamente raras nos meses seguintes após ter superado a covid. Um relatório da equipe de resposta ao covid-19 do Imperial College London estima que o risco de reinfecção com a variante Ômicron é 5,4 vezes maior que o da variante Delta.

Só depois da terceira dose da vacina estamos protegidos contra a Ômicron

Após a terceira dose ocorre um aumento dos anticorpos neutralizantes, que reduzem a transmissão. As vacinas induzem uma resposta imunológica poderosa. Vários estudos com diferentes vacinas sugerem que uma dose de reforço reduz a covid-19 grave em qualquer faixa etária e aumenta a atividade neutralizante contra a Ômicron de uma forma muito significativa. Com a elevada transmissibilidade da Ômicron, é provável que muitos de nós sejamos infectados. E, se isso acontecer, é melhor que estejamos vacinados. Pessoas sem proteção (sem vacina ou sem infecção anterior) correm maior risco. E, se contaminar mesmo vacinado, não significa que elas não sejam eficazes. Elas estão cumprindo o principal objetivo, que é de prevenir doença grave.

Depois que vacinamos, podemos parar de usar máscara

MITO. As vacinas para covid foram desenvolvidas para proteger contra os casos graves, hospitalização e morte, mas não possuem o poder de conter totalmente o contágio. Então, mesmo pessoas vacinadas podem contrair a doença e manifestar sintomas. Por isso, a necessidade de manter o uso de máscara. Além disso, a chance de um vacinado se infectar com a doença é menor do que quem não receber nenhum. Contra a Ômicron ou qualquer outra variante ainda mais perigosa, os cuidados continuam os mesmos: vacinação (quantas doses forem necessárias), máscaras, distanciamento social e isolamento de sintomáticos.

Susane Marafon
é médica infectologista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com residência médica pelo Hospital Universitário Julio Muller (UFMT). Atua no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Instituto Policlínica Pato Branco (IPPB) e no Hospital Santa Pelizzari em Palmas. É docente pelo Unidep e atende em seu consultório, no Alda Instituto de Saúde, em Pato Branco.
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