Vacinem suas crianças

Em 29 de outubro de 2021, a vacina da Pfizer contra a covid-19 recebeu a liberação pelo FDA (Food and Drug Administration) para ser aplicada na faixa etária de 5 a 11 anos. No dia 16 de dezembro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso da vacina para a mesma faixa etária também no Brasil.

A decisão foi baseada em uma extensa análise de estudos clínicos e dados de outras agências regulatórias, como a FDA e a EMA (European Medicines Agency). Ou seja, não somos o primeiro país a adotar a vacina para essa faixa etária. Atualmente, mais de dez milhões de crianças já foram vacinadas com esse mesmo imunizante em outros países.

A vacina da Pfizer é utiliza a tecnologia de mRNA, aquela que carrega o código genético do vírus que contém as instruções para que as células do corpo produzam determinadas proteínas. Ao contrário que muitos tem medo, ela não modfica o DNA do corpo humano. Os estudos nessa faixa etária mostraram que a resposta protetora das crianças foi semelhante a dos adultos, com eficácia de 90,7%.

Existem várias sociedades brasileiras que, baseadas em evidências científicas e nas experiências internacionais, emitiram notas a favor da vacinação para as crianças, como a SBI (Sociedade Brasileira de Imunologia), SBIM (Sociedade Brasileira de Imunização), SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

Baseado em dados do SIVEP- Gripe, de janeiro a novembro de 2021, 2.917 crianças de 5 a 11 anos foram hospitalizadas no Brasil com covid-19. Dessas, cerca de 25% precisaram de um leito de UTI e 4,87% evoluíram para óbito.

De acordo com o Ministério da Saúde, a doença está entre as 10 principais causas de morte de crianças de 5 a 11 anos, e não há outra doença evitável por vacina – como sarampo, gripe, meningite — que matou mais crianças no Brasil do que a covid-19 em 2021.

A pandemia também interrompeu a educação e afetou o desenvolvimento social e emocional das crianças, além de trazer problemas à saúde mental.  Portanto, a disponibilidade de vacinas seguras e eficazes para crianças em idade escolar é necessária.

Não podemos esquecer que, pelas crianças apresentarem quadros mais leves ou assintomáticos na maioria das vezes, elas são o grupo menos testado para a presença do vírus, tornando os dados subnotificados.

As crianças possuem um risco menor de desenvolver doença grave se comparado aos pacientes idosos e com comorbidades como diabetes. Foi por este motivo que iniciamos a vacinação por esse segmento da população, para salvarmos vidas. E os números após o início da vacinação nos mostram isso: salvamos incontáveis vidas. Mas, nesse momento, quando os grupos de maior risco já foram vacinados, precisamos dar a chance dessas crianças serem vacinadas também.

Com essa priorização dos segmentos para a vacinação, agora as crianças representam uma proporção crescente de casos e hospitalizações em comparação com sua proporção no início da pandemia. Não podemos esquecer do risco de fechamento e quarentena de escolas associadas à covid-19, que também acarretam custos sociais e econômicos para famílias.

Embora a doença seja geralmente mais branda em crianças do que em adultos, problemas graves e complicações de longo prazo, incluindo a síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C), podem ocorrer após a primeira infecção. Também, as crianças em idade escolar representam uma alta proporção de casos de covid-19 e podem desempenhar um papel importante na transmissão da doença.

Estudo

Até o momento, a vacina Pfizer pediátrica se mostrou extremamente segura e com boa eficácia para reduzir formas graves nesta faixa etária. Um estudo de fase 2 e 3, iniciado em junho de 2021, envolvendo 2 285 crianças entre 5 a 11 anos de 81 locais nos EUA, Espanha, Finlândia e Polônia, apontou reações locais leves e moderadas, todas transitórios, durando 1 a 2 dias, como febre e dor no local da aplicação. Nenhum caso de miocardite ou pericardite foi relatado neste estudo. A conclusão é de que duas doses da vacina foram seguras e 90,7% eficazes contra a covid-19 nesta faixa etária.

A diferença da Pfizer infantil em comparação com a vacina do adulto é o volume utilizado para as crianças, de 0,2 ml, sendo um terço menor do que a aplicação em adultos. Também, a dose infantil é de 10 µg (microgramas) e, na de adulto, 30 µg. Além disso, o frasco utilizado para a faixa etária pediátrica será de cor laranja. O intervalo entre as duas doses será de oito semanas.

Uma dúvida comum é em relação as crianças que completarão 12 anos após a primeira dose. A orientação é que se faça a segunda dose também com a formulação pediátrica.

Assim como todas as outras vacinas do calendário vacinal, não será necessário prescrição médica. A criança deve ir acompanhada de seus pais ou cuidadores legais. Caso seja levada por outro cuidador, será preenchido um termo de responsabilidade.

Enfatizo que não há necessidade de consulta médica para indicação da vacina pois não temos tempo para isso e já que não existe contraindicação para a realização da vacina nesta faixa etária. Os pais ou responsáveis deverão procurar atendimento médico se a criança tiver, depois da vacinação, dores repentinas no peito, falta de ar ou palpitações.

Não devemos menosprezar o fato de crianças serem hospitalizadas e irem a óbito por doenças que são prevenidas por vacinas. Aos pais, minha mensagem: a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos é segura, eficaz e salvará vidas da mesma forma que a vacinação de adultos e adolescentes vem salvando.

A vacinação em todas as faixas etárias continua sendo a única maneira de reduzirmos a circulação do vírus. Apesar de a vacina não ser obrigatória, estamos em fase de volta às aulas, e diminuir a circulação do vírus neste ambiente é necessário para que nossas crianças voltem a para o ano letivo de maneira mais segura possível, presencialmente.

Vacinem seus filhos!

Dra. Susane Marafon é médica com especialidade em infectologia e medicina hiperbárica. CRM-PR 46795 / RQE 28943.


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