É a hora de pensarmos sobre a cigarrinha do milho para o próximo plantio

Gilberto Santos Andrade

De tempos em tempos agricultores são surpreendidos por novas pragas, o que resultam em danos extremamente elevados. Isso é pior quando ocorre a introdução insetos exóticos no país. No entanto, a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) não é um evento novo no milho, sendo conhecida há mais de 40 anos no Brasil e relacionada a prejuízos importantes que mais uma vez assusta o produtor.

A cigarrinha é uma espécie altamente especializada na cultura do milho. As evidencias indicam que desde a domesticação desta cultura (há 9000 anos), essa espécie de inseto já estava associada aos mais diversos materiais de milho e seu ancestral, o teosinto, o que faz da cigarrinha do milho uma das principais pragas ocorrentes na região Neotropical da América (área que engloba praticamente toda a região da América Latina).

São insetos diminutos com aproximadamente 3-4 mm de comprimento, possuindo duas pequenas manchas escuras na cabeça entre os olhos compostos, o corpo é de aspecto amarelado-pálido. Pelas características da família taxonômica (padrão de reconhecimento do inseto), apresentam ainda duas fileiras de espinhos na perna (numa região fina e alongada chamada tíbia), vista facilmente com uma lupa.

 Estes insetos se alojam no cartucho do milho. Para se alimentarem, inserem o aparelho bucal sugador labial, semelhante ao que ocorre nos percevejos, muito conhecido na região. No entanto, no caso das cigarrinhas, ao se alimentarem das plantas do milho, podem injetar com esse aparelho bucal molicutes (microrganismos) que causam o enfezamento. Dessa forma, essas plantas apresentarão um tamanho reduzido da parte aérea e de raízes, manchas avermelhadas (enfezamento vermelho) ou cloróficas (enfezamento pálido) nas folhas, perfilhamento, redução do tamanho de espigas ou mesmo multiespigamento, grão pequenos e mal formados, devido ao efeito sistêmico da doença e tombamento das plantas. Esses sintomas podem ser de maior ou menor intensidade a depender do cultivar ou variedade de milho.

Qualquer inseto que seja um sugador-labial (aquele aparelho bucal que consegue ser inserido na planta), seu dano será silencioso, ou seja, não percebemos estes problemas nas plantas de imediato. A cigarrinha pode ocorrer na cultura a partir da emergência, mas os danos serão mais evidentes somente no estágio reprodutivo, caso formas infectivas da cigarrinha ocorram na área. O que deve ser evitado.

Portanto, saber o histórico de ocorrência da doença no local é fundamental, pois formas infectivas de cigarrinha podem migrar para o milho recém emergido e causar danos mesmo em densidades baixas, sendo que o período de grande sensibilidade vai d (VE) a emergência até as mesmas apresentarem quatro folhas plenamente expandidas (V4).

Por ser tratar de uma espécie que, apesar de não reproduzir em outras plantas senão o milho, elas podem utilizar de outras plantas cultivadas ou não como abrigo em períodos sem o milho no campo. No entanto, o maior risco de ocorrer doenças no milho será por meio da migração de milho para milho. Assim, a eliminação do milho tiguera é um ponto fundamental para minimizar a possibilidade de transporte dos microrganismos responsáveis enfezamento pelas cigarrinhas para nossa área de plantio.     

Para um bom manejo devemos pensar em uma sincronização de plantio, evitando que tenhamos milhos em diferentes estágios de desenvolvimento (redução de janela de plantio); em áreas onde há históricos de grandes perdas produzidas pelo enfezamento, a rotação de cultura deve ser avaliada; o uso de materiais genéticos mais tolerantes a cigarrinha do milho devem ser buscadas e a nutrição desta planta deve ser adequada permitindo um bom arranque das plantas para passar rapidamente daquela fase mais sensível (VE a V4); o tratamento de sementes com inseticidas e uso de inseticidas na parte aérea da planta de forma racional com orientação de Eng. Agrônomos é um ponto fundamental. Ele saberá o momento correto para o emprego de táticas e estratégias para suprimir essas populações baseado nos preceitos do manejo integrado de pragas. Não basta recorrer somente ao emprego de inseticidas quando esses insetos se encontram em altas densidades, mas o sistema deve ser pensado antes, durante e após o plantio para a sustentabilidade econômica da lavoura.

Laboratório de Entomologia, Departamento Acadêmico de Ciências Agrárias – UTFPR/PB

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