Impactos da pandemia na vida escolar de crianças e adolescentes

Dirceu Antonio Ruaro

Amigos leitores, temos acompanhado o retorno às aulas presenciais nas diversas redes de ensino, bem como a situação acadêmica e emocional dos estudantes, especialmente das escolas de educação básica.

É certo que, cada contexto, cada escola e, cada pessoa, reage de modo diferente e responde com ações de acordo com suas crenças, conhecimentos, angústias, certezas e incertezas.

E, é certo, também que, esse período de retorno às aulas presenciais, para a grande maioria dos alunos brasileiros, traz momentos de grande esperança, ao mesmo tempo que, de grandes incertezas.

São paradoxais e contraditórios os sentimentos e emoções despertados pelo retorno. Verifica-se isso pelas expectativas a respeito das atitudes das crianças e adolescentes no momento de encontro com seus amigos e suas turmas.

Interessante notar que as crianças, mesmo da educação infantil, têm um profundo sentimento de “cuidar de si e cuidar dos outros”, aliás, é impressionante como as crianças da “pré-escola” se comportam, usando máscara o tempo todo, mantendo distanciamento e lavando as mãos. Observei pessoalmente a entrada de alunos em algumas escolas na semana que passou. Fiquei sensibilizado pelo comportamento, pela manutenção do espaço nas filas ao longo da calçada, pelo respeito ao distanciamento (coisa que os adultos não respeitam tanto).

A Fundação Lemann, (A Fundação Lemann é uma organização familiar sem fins lucrativos brasileira que colabora com iniciativas para a educação pública em todo o Brasil e apoia pessoas comprometidas em resolver grandes desafios sociais do país, fundada por Jorge Paulo Lemann), publicou no dia 30 de julho uma pesquisa na qual investigou  o comportamento de crianças e adolescentes na pandemia.

Essa pesquisa revelou que “três em dez dizem que perderam o interesse pela escola, sete em dez sentem falta de estudar. Mais da metade ganhou peso. Quase a metade está dormindo mais, 44% dos jovens estão mais tristes e 60% sentem falta do convívio social e dos amigos.

A primeira situação: “perderam o interesse pela escola”, é uma das mais graves considerações dos pais entrevistados. Ora, se antes da pandemia, já não estava fácil manter o interesse das crianças e adolescentes pela escola, imagina agora, depois de mais de ano afastados do convívio escolar. Esse dado precisa ser estudado com mais profundidade nos diversos níveis da estrutura organizacional das redes de ensino e, buscar parâmetros, para agir com urgência, no sentido de oferecer às crianças e adolescentes, experiências altamente positivas para que realcem o interesse pela escola, não só como local de ensino, mas de convívio e construção de um projeto de vida.

O dado seguinte: “sete em dez sentem falta de estudar” demonstra que, apesar de as escolas terem se esforçado para, de alguma forma, manter o vínculo com os estudantes e oferecer oportunidades de “estudo”, a grande maioria não considerou esse período como de “estudo” e, sente falta de estudar. O que se pode pensar é que essa falta de estudar, ou seja, da rotina de estudo e de trabalho proporcionado pela escola, ou seja, é possível que o que eles sentiram foi a “falta de seriedade”, para estudar. Isso porque, a grande maioria dos estudantes, saiu da rotina e não tinha a quem prestar contas diretamente do “estudo” realizado de forma remota ou mesmo no cumprimento de tarefas atribuídas.

Outro dado importante é a questão da alimentação que ficou menos rígida e menos rotineira. Esse dado de que “quase a metade” engordou pode se explicado por diversos viés, em casa, a geladeira, o armário com guloseimas, enfim, as possibilidades de “continuar comendo” são imensas. A par disso, a ansiedade, a compensação da falta do convívio pelo consumo de alimentos”, coisas que precisam ser estudadas com maior atenção por parte dos especialistas e quem sabe, agora, no retorno, escolas e famílias organizarem algum tipo de ação que possa ajudar as crianças e adolescentes a perderem “a vontade de comer” o tempo todo, permissão dada no período da pandemia.

Evidentemente que a falta da rotina da escola levou crianças e adolescentes a dormirem mais. Lembro aqui de alguns testemunhos de pais e alunos durante a pandemia: “ligo o note, respondo a chamada, e volto a dormir”, é compreensível tudo isso, pois a sala de aula transferiu-se para os quartos de dormir da imensa maioria das crianças e adolescentes. É uma dificuldade que precisa se analisada e, outra vez, aliar pais e escola para encontrarem soluções criativas afim de “devolver” às crianças e adolescentes a rotina a que estavam acostumados.

Talvez o dado mais impressionante da pesquisa seja o de que “60% sentem falta do convívio social e dos amigos”. Isso demonstra o quanto é importante poder voltar às aulas presenciais. Aliás, todos os demais dados anteriormente citados desembocam nesse. Mesmo concordando que a situação ainda é de extrema complexidade, especialistas em saúde têm dito que, se as crianças, professores, escola e famílias cumprirem os protocolos de saúde, o ambiente escolar pode ser seguro.

Comungo das preocupações dos pais, dos temores e inseguranças de muitos adolescentes e jovens pelo retorno presencial, mas comungo também do que dizem os especialistas em educação: a presencialidade na educação básica é fundamental. A troca, o relacionamento, a expressão facial, fazem parte desse universo tão específico que é o universo escolar, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.

Doutor em Educação pela UNICAMP, psicopedagogo clínico-institucional e assessor pedagógico da Faculdade Mater Dei

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