Síndrome das pernas inquietas: ferro vira tratamento de 1ª linha

Após mais de uma década, a Associação Americana de Medicina do Sono atualizou as diretrizes para o tratamento da síndrome das pernas inquietas (SPI). Agora, a terapia com ferro intravenoso é considerada tratamento de primeira linha para pacientes com deficiência do mineral, segundo publicação no Journal of Clinical Sleep Medicine.

A condição é um distúrbio neurológico sensorial-motor, caracterizado por desconforto intenso nas pernas — descrito como formigamento, dor, coceira, aflição ou até sensação de facadas. Os sintomas surgem, em geral, no fim do dia ou durante a noite, pioram em repouso e só aliviam com movimento, prejudicando o sono e a qualidade de vida.

Deficiência de ferro e dopamina

Estudos apontam que a SPI está ligada à deficiência de ferro no cérebro, mesmo em pessoas com exames sanguíneos normais. O mineral é essencial para a regulação da dopamina, neurotransmissor responsável pelo controle dos movimentos.

“É interessante perceber que passamos a tratar uma condição neurológica com um suplemento alimentar em vez de um medicamento, reduzindo riscos de efeitos colaterais”, explica a neurologista Letícia Soster, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Como funciona a suplementação de ferro

O protocolo prevê iniciar com ferro oral por três meses, de preferência pela manhã e junto a alimentos ácidos, como suco de laranja, que favorecem a absorção.

Se não houver melhora ou em casos de intolerância, recomenda-se o ferro intravenoso, mais eficiente e com menos efeitos colaterais gastrointestinais. Apesar disso, o tratamento enfrenta barreiras no Brasil: não há cobertura ampla pelos planos de saúde e a aplicação não está disponível no SUS para SPI.

Mudança na prescrição de medicamentos

As diretrizes também reduziram a prioridade dos agonistas dopaminérgicos, antes mais usados, devido ao risco de “fenômeno de aumentação”, em que os sintomas pioram ao longo do tempo.

No lugar, passaram a ser indicados os alfa-delta ligantes (como pregabalina e gabapentina), inicialmente desenvolvidos para epilepsia e dor neuropática, mas que mostraram bons resultados na SPI. Para casos graves e refratários, opioides em baixas doses podem ser prescritos sob rigoroso acompanhamento.

Em crianças, o tratamento continua baseado no ferro oral, já que faltam estudos que comprovem a segurança de outros medicamentos nesse público.

Importância do diagnóstico e hábitos saudáveis

Estima-se que a síndrome atinja de 5% a 15% da população adulta, mas apenas 2% a 3% procuram ajuda médica. A condição é mais comum em mulheres, idosos e gestantes.

O diagnóstico é clínico e deve ser feito por especialistas. Além da suplementação de ferro e eventuais medicamentos, recomenda-se investir em atividade física regular, boa higiene do sono e redução de substâncias estimulantes.

“Muitas pessoas convivem com a síndrome sem saber que têm um problema tratável”, alerta Soster. A falta de informação, inclusive entre profissionais de saúde, ainda atrasa o diagnóstico e o início do tratamento.

Fonte: Agência Einstein

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