A postura desses estrangeiros em aprender português tem chamado atenção. Até pouco tempo atrás, quem vinha de fora não fazia questão alguma de estudar o idioma nem mesmo de aprender palavras-chave para orientações ao elenco. O argentino Jorge Sampaoli, por exemplo, passou duas temporadas no Brasil e só se comunicava em espanhol. O mesmo valeu para outros técnicos, como o argentino Edgardo Bauza e o colombiano Reinaldo Rueda.
O argentino Holan desembarcou em Santos no mês passado e logo na apresentação ao clube da Vila fez uma promessa. “Meu compromisso também é falar português ou ‘portunhol’. Terei meu professor”, avisou. Mesmo com o calendário apertado, o treinador não deixa de estudar. Nos voos do time, ele aproveita o tempo para treinar. O resultado tem sido visto nas entrevistas. Palavras em português se tornam mais comuns.
Ainda comedido para falar em português, o espanhol Ramírez tem estudado bastante enquanto comanda o Inter em Porto Alegre. O aprendizado de idiomas estrangeiros entre treinadores é comum no futebol europeu. O português José Mourinho, do Tottenham, é fluente em cinco línguas. O espanhol Pep Guardiola contratou uma professora de alemão antes de assumir o Bayern de Munique, em 2013. Ao iniciar o trabalho, o técnico já falava o novo idioma.
Apesar de o Brasil ter aberto suas fronteiras para técnicos estrangeiros nos últimos anos, o aprendizado do português não aparecia como prioridade para eles. O são-paulino Crespo pensa diferente. “Acho que é uma questão de respeito com este país, com o lugar onde estou. É uma questão de respeito com as pessoas. Culturalmente, eu gosto também de aprender”, disse.
O argentino só lamenta que ainda confunda bastante o português com outros idiomas. No São Paulo, o técnico se comunica em espanhol com alguns jogadores estrangeiros e com Daniel Alves. Após mais de uma década na Itália, Crespo usa o idioma para falar com o atacante Éder. “Eu faço confusão porque o português é um ‘mix’ dos outros dois idiomas. Para mim é difícil porque falo todos os dias com as minhas filhas em italiano, com meus colaboradores do clube em espanhol e depois ainda em português. Mas calma… eu chego lá”, comentou o argentino.
O meia argentino Benítez, do São Paulo, acompanha Crespo nesse processo de aprendizagem. Embora não faça aulas ainda, o jogador está no Brasil há um ano e sabe das dificuldades. “Para aprender, você não pode ter vergonha”, disse. “É importante conseguir falar de outros assuntos que não só o futebol, para você poder falar com um médico ou outras pessoas”, diz.
Um dos primeiros técnicos estrangeiros a estudar português foi o colombiano Juan Carlos Osorio, que passou pelo São Paulo em 2015. Três vezes por semana ele recebia um professor para ter aulas particulares. No ano passado, o espanhol Domènec Torrent, do Flamengo, foi outro a se aventurar pelo idioma.
DIFICULDADE – Professor livre-docente em Língua Espanhola da USP, Adrián Pablo Fanjul explica que o aprendizado do português é um desafio aos treinadores não tanto pela parte escrita, mas pela conversação. “A parte sonora é difícil, tanto a escuta quanto a produção. O português, principalmente falado no Brasil, tem alguns sons que não existem no espanhol”, diz. “Aprender como se fala é mais desafiador, porque exige muito estudo” acrescentou.
Segundo Fanjul, é possível preparar para os treinadores aulas com conteúdo específico à linguagem de futebol. “Existe a possibilidade de direcionar o ensino e a aprendizagem para se concentrar em demandas específicas, seja qual for ela. Ainda assim, existem aspectos básicos que exigem o aprendizado da mesma maneira.”
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