Conservação do Solo. Por que e para quê?

Paulo Cesar Conceição

Quando se pensa acerca de conservação do solo, o Estado do Paraná é referência e pioneiro no assunto com uma legislação inovadora e como berço do plantio direto em 1972, completando, portanto, quase meio século de adoção.

Quando se observa os esforços de programas governamentais, também o PR é destaque ao longo desse tempo, possuindo atualmente um dos maiores programas de pesquisa do Brasil que é a Rede de Agropesquisa envolvendo dezenas de projetos em seis Mesorregiões com ações de pesquisa, extensão e ensino focadas no manejo e conservação do solo e água.

No entanto, quando paramos para comemorar o dia 5 de dezembro, instituído como o dia Mundial de Solos é necessária uma reflexão das causas pelas quais, cerca de 33% dos solos mundiais passam por algum processo de degradação e, quais as responsabilidades humanas associadas à essa situação.

A principal delas parece ser a visão equivocada que solos são recursos naturais infinitos e que jamais poderão se acabar.  O Dust Bowl, um dos maiores eventos de tempestade de poeira ocorrido nos anos de 1930-40, no oeste norte-americano, foi o exemplo mais cabal de que não poderíamos estar mais equivocados, alterando mais de 42 milhões de hectares de solos. E, quando recentemente, vemos as cenas de “tempestades de pó” carregando solos tropicais da região Sudeste e Centro Oeste Brasileiro questionamentos pairam no ar, literalmente… O que estamos fazendo de errado? O que ainda não aprendemos? A mesma coisa ocorre, em especial no Sudoeste do Paraná, a cada previsão de eventos de chuvas mais abundantes. O que deveria cair como benção, transforma-se em alguns casos em pesadelo por conta da erosão hídrica que teima em assolar as áreas produtoras rurais.

É certo que avançamos em muito no desenvolvimento da agricultura conservacionista brasileira ao longo dos últimos 50 anos. Mas também é fato que temos apenas 60% das áreas de produção de grãos adotando o chamado Plantio Direto (PD). E mais ainda, é certeza, que dessas áreas apenas uma pequena parcela entre 10-20% são propriedades que adotam os pilares fundamentais, que geram sucesso no processo produtivo, quais sejam mínimo revolvimento do solo, adição elevada de resíduos e rotação de culturas. Assim para diferenciarmos do que não está sendo feito adequadamente passamos a chamar esse conjunto de Sistema Plantio Direto (SPD).

Então como andam os pilares da agricultura conservacionista Brasileira? No aspecto do mínimo revolvimento temos situações desde o uso indiscriminado de subsoladores/escarificadores para resolver uma compactação do solo (que nem sempre está presente), sem resolver as causas que as originaram, a adoção de sulcadores nas semeadoras para “rasgar o solo” no ato da semeadura, até uso de grade de forma esporádica para cobrir sementes ou manejar palhada. No campo da adição de resíduos de forma consistente ao solo temos problemas desde a baixa adoção de plantas de cobertura, presença de pousio em determinadas épocas do ano e uso contínuo de espécies comerciais, especialmente soja e feijão, na safra e safrinha. Associado ao pseudoconhecimento que “muita palha atrapalha” o processo de semeadura. Nesse aspecto o terceiro pilar do SPD também não é atingido, pois, o foco produtivo especialmente no PR, faz com que 90% das áreas de primeira safra sejam utilizados com soja, inviabilizando a adoção da rotação de culturas com milho nessa época.

Então fica o questionamento: Conservação do solo, para que e por quê? Basta buscar a resposta entre produtores recordistas de produtividade, que produzem em áreas pilotos o dobro da média nacional de soja (60 sacas por hectare) e eles responderão: para se obter elevadas produtividades e rentabilidades é necessário conservar essa fina camada da crosta terrestre onde as propriedades do solo resultantes da melhoria contínua promovida pela adoção do SPD se expressam de maneira eficiente.

Sabendo disso nosso papel e colocar em prática o que a pesquisa, a extensão e o conhecimento dos produtores conscientes já pregam há pelo menos cinco décadas. Manejo e conservação do solo e água são essenciais na produção agrícola.

Professor de manejo e conservação do solo nos cursos de graduação da UTFPR/Campus Dois Vizinhos e na pós-graduação em Agronomia (UTFPR-PB) e Agroecossistemas (UTFPR-DV)

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