“Fome da Palavra de Deus”

Dom Edgar Xavier Ertl*

Estamos iniciando o mês da Bíblia. Que no mês de setembro tenhamos, como escreveu o Profeta Amós, a “fome de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11). Devido à recusa de Israel em ouvir a Palavra do Senhor, anunciada por seus profetas, Ele, o Senhor, os ameaça com um castigo adequado – a suspensão definitiva da palavra divina em Israel. Essa palavra era importante para a nação, não só no domínio religioso, também político. Sem ela – pelo menos em teoria – seria impossível selecionar/escolher novos líderes. Então, que aumente nos fiéis cristãos a “fome da Palavra de Deus”, como guia, luz, caminho e discernimento. As principais exortações ao retorno à Palavra de Deus nos vieram do Concílio Vaticano II (1962-1965), onde as Sagradas Escrituras se tornarão para todos uma fonte perene de vida espiritual, o meio fundamental para a transmissão da doutrina cristã, e por fim, como a medula de toda a formação teológica, quer para os sacerdotes, quer para todos os fiéis batizados.

 

A comunidade escuta a Palavra de Deus

Quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja, ou seja, a comunidade reunida atenta à Palavra, é o próprio Deus que fala a seu povo, e Cristo, presente em sua Palavra, anuncia o Evangelho – pois Jesus Cristo “está presente na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura”. Por isso, todo devem escutar com veneração as leituras da Palavra de Deus, elemento de máxima importância da Liturgia. Embora a palavra divina contida nas leituras da Sagrada Escritura se dirija a todos os homens e mulheres de qualquer época, e seja entendida por eles, a sua mais plena compreensão e eficácia aumentam pela exposição viva, isto é, pela homilia, que é parte da ação litúrgica, disseram os bispos conciliares quando trataram o tema da Sagrada Liturgia.

A Constituição Dogmática Dei Verbum (DV) sobre a Revelação Divina, no Vaticano II, assegura-nos alguns elementos importantes sobre os textos sagrados e sua inspiração ou sua autenticidade. As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo e têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria (cf. DV 11). Do mesmo modo, o sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis, a que aprendam “a sublime ciência de Jesus Cristo” e, com a leitura frequente das divinas Escrituras, porque “a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”, como escreveu São Jerônimo (cf. DV 25).

 

Vestir-se da nova humanidade

Dia 1 de setembro, a Igreja do Brasil inicia o “Mês da Bíblia”. Neste ano, o livro sobre o qual refletiremos é a Carta de São Paulo aos Efésios, com o versículo: “Vestir-se da nova humanidade” (Ef 4,24). Paulo relembra-nos aspectos relativos à antropologia teológica, ou seja, fomos criados à imagem e semelhança de Deus, com justiça e santidade autênticas. Nossa roupagem é caracterizada como “nova criação”, pois, em Jesus Cristo fomos batizados/mergulhados, logo “banhados em Cristo somos novas criaturas”. Enfim, inspirados por este escrito paulino, procuremos nos aproximar sempre mais da Sagrada Palavra de Deus. Despojando-nos da “humanidade velha”, de forma antiga de viver, manchada pelo pecado, busquemos revestir-nos de Cristo, o “Homem novo” e disso decorre a “nova humanidade”. Pedimos a Deus que sua Palavra seja por nós estudada, rezada e posta em prática em nossa vida pessoal, familiar, comunitária e social. Que sejamos uma Igreja discípula da Palavra!

*Dom Edgar Xavier Ertl – Bispo da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão

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