Habermas: do agir estratégico para o agir comunicativo

Pe. Judinei Vanzeto

Jürgen Habermas (1929) é um importante filósofo e sociólogo do século XX. Nasceu em Dusseldorf, na Alemanha, e é conhecido pelas teorias sobre a racionalidade comunicativa e a esfera pública. Jürgen licenciou-se em 1954 na Universidade de Bonn com a tese intitulada O Absoluto e a História. De 1956 a 1959, foi auxiliar de Theodor Adorno, em Frankfurt. No início da década de 1960, realizou pesquisa sobre a participação estudantil na política alemã, intitulada Estudante e Política.

Em 1968, Habermas mudou-se para Nova York onde lecionou na Nova Escola de Investigação Social (New School for Social Research). A partir de 1971, foi diretor do Instituto Max Planck, em Starnberg, na Baviera, Alemanha. Mas, em 1983, foi para a Universidade Johann Wolfgang Von Goethe, de Frankfurt, até se aposentar em 1994. Porém, continua publicando e participando de debates e atuando em jornais como cronista político.

Habermas é considerado um dos principais herdeiros das discussões da Escola de Frankfurt – uma das bases da corrente do Marxismo Ocidental. Não obstante, superou o pessimismo dos fundadores da Escola ao apresentar um projeto moderno para ela, pois, com as ideias iluministas e os desastres da Segunda Guerra Mundial, houve predominância entre conhecimento racional e a dominação social, o que resultou numa espécie de falência das ideias modernas de emancipação social.

Em seu projeto filosófico, Habermas adota o paradigma comunicacional. O ponto de partida é a ética comunicativa inspirada em Karl Otto Apel, e no conceito de “razão objetiva” de Adorno, também presente na filosofia de Platão, Aristóteles e no Idealismo alemão hegeliano. Com isso, Habermas dá origem à razão comunicativa – e a ação comunicativa, isto é, a comunicação livre, racional e crítica – como alternativa e superação da razão instrumental e iluminista. Esse, portanto, é o projeto moderno empreendido no desejo de restabelecer vínculos entre o socialismo e a democracia.

Para Habermas, coexistem na sociedade duas esferas: o sistema e o mundo da vida. O sistema trata da “reprodução material”, dirigida pela lógica instrumental das adequações de meios e fins nas relações do poder político e econômico.

Os estudos de Habermas também se voltam para o conhecimento e a ética. Ele explica a produção do saber humano recorrendo ao evolucionismo, pois a racionalidade comunicativa é “aprendente”. A falibilidade, por exemplo, possibilita desenvolver capacidades mais complexas de conhecer a realidade e evoluir através dos erros, entendidos como falhas de coordenação de planos de ação.

Habermas defende uma ética universalista, deontológica (ciência que estuda o dever, a obrigação), formalista e cognitivista. Os princípios éticos não devem ter conteúdo, mas garantir a participação dos interessados nas decisões públicas através de discursos, em que se avaliam os conteúdos normativos a partir das necessidades naturais da vida.

Suas teorias discursivas também são aplicadas à filosofia jurídica, pela característica de integração social em prol da democracia e da cidadania. A teoria coloca a possibilidade de resolução dos conflitos vigentes na sociedade pelo viés do consenso de todos. Com isso, ele pretende dar fim à arbitrariedade, propondo a participação ativa e igualitária de todos os cidadãos em busca de justiça. Para Habermas, essa forma consiste no agir comunicativo que se manifesta e ramifica no discurso. Para um indivíduo garantir seu sucesso faz-se necessário perseguir seus interesses individuais, organizando uma estratégia baseada em ações. Para a sociedade, Habermas defende a organização da ação estratégica para a ação comunicativa. Ação que ultrapassa o sucesso individual para o entendimento mútuo, abrindo diálogo para pensar em conjunto o bem social.

Por fim, segundo Vasconcelos, o “entendimento mútuo, provindo do agir comunicativo, será um importante facilitador da coordenação de ações, e servirá de base para a defesa da democracia no cenário político, com a crítica da repressão, censura e de outras medidas que não propiciam o diálogo dentro da sociedade”.

SAC, Jornalista e pároco da Paróquia São Roque de Coronel Vivida e gestor do Polo Unilassale/Fapas

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