Natal: ocasião propícia para revermos nossa relação com a vida

O belo e último mês de dezembro é sempre diferente, único, tudo nele nos causa muitos sentimentos, muitas lembranças, quem de nós não lembra do tempo de criança, esperávamos com muita ansiedade e alegria ao mesmo tempo a noite de natal, um brinquedo por mais simples que fosse causava uma comoção sem igual; a tradição familiar, a preservação dos vínculos, não havia o “admirável mundo novo” que temos agora, lá atrás o tempo andava mais devagar, ele não tinha pressa, não faz muito tempo nem ligávamos se ia chover ou fazer sol, bem ao contrário de hoje que precisamos saber com antecedência mínima de trinta dias  se teremos tempo bom, tempestades, vendavais e outras intempéries  mais; o natal de um passado recente era caloroso, se tinha mesmo que vagamente uma consciência de que era preciso agradecer muito a vinda do Menino Jesus a este mundo.

Uma leitura simples, superficial do nascimento de Jesus jamais vai nos dizer nada, pode ser no máximo mais uma história como tantas outras que pululam por aí, já uma leitura atenta, pode nos levar a sempre descobrirmos coisas novas, o nascimento do Menino Jesus, queira-se ou não, foi incomum, único, irrepetível, explicações humanas não bastam para esse fato, muito menos as cientificas; século vai, século vem e jamais chegamos a uma conclusão, esse nascimento continua acontecendo todos os anos, nas mais diferentes situações, nos lugares mais longínquos, celebrado e comemorado por pessoas tão diferentes, caso fosse uma mentira com toda certeza ela já teria sido esquecida e deixada de lado faz tempo, como esse acontecimento se perpetua no tempo e no espaço só podemos concluir que há algo muito maior por trás dele, majestoso, grandioso, inexplicável.

O nascimento do menino Jesus, para onde quer que olhemos, tem sim muitas semelhanças com os nascimentos cotidianos, quantas mães e pais esperam a chegada do seu filho com muito carinho e amor, Jesus pelos relatos que conhecemos foi profundamente amado por Maria, quanto por José e também por seus avós e demais parentes. A fragilidade desse nascimento contrasta profundamente com o mundo de então, isto é, do ponto de vista meramente humano o nascimento de Jesus tinha muitas chances de dar errado, não havia hospitais, não havia hotéis ou pousadas, o que tinha estava tudo ocupado e muito provavelmente Maria e José não possuíam na ocasião recursos financeiros, foram parar num local “inadequado”, mas muito acolhedor, pessoas de bom coração estavam por perto naquela noite fria e com toda certeza ajudaram a Família de Nazaré com tudo o que tinham.

A vinda do menino Jesus, alegrou tudo ao seu redor, ou seja, absolutamente nada ficou indiferente a ele, desde o início, a sua chegada foi desconcertante, tanto a natureza humana, quanto a extra-humana lhe renderam homenagens, mas também houve momentos de muita angústia e medo, podemos imaginar que nem todos os bebês que nasceram naquela ocasião, pouco antes ou pouco depois sobreviveram, há relatos de que houve uma grande perseguição para com as crianças nascidas naquele momento, especialmente para acabar com a vida de Jesus. Também atualmente muitos nascimentos não prosperam, a vida que era para ser uma benção para todos acaba se tornando no pensamento supérfluo uma questão altamente incomodativa que precisa sair de cena, os meios para que isso ocorra são muitos; o silêncio nesse assunto é complexo, inacreditável.

Ao longo da sua vida Jesus teve contato com muitas crianças, brincou, se alegrou, chorou, enfim fez tudo o que estava ao seu alcance, apesar de ser uma criança especial, não há relatos de que ele usou dessa especialidade para estar com os seus da mesma idade, fez-se um com todos, cada um a seu modo aprendeu com Ele alguma coisa, tanto é verdade que Ele aos doze anos estava no meio dos maiores conhecedores da Lei e debatia com todos de igual para igual. Podemos fechar os olhos e imaginar a cena, entrar nela e ser um integrante desse encontro. Qual seria a nossa reação diante desse Menino? O que iriamos lhe perguntar? Bateríamos palmas? Desviaríamos o olhar? Daríamos um abraço e pediríamos que ele falasse mais? Hoje, Natal 2022 é uma nova ocasião para revermos a nossa relação com esse Menino e as demais crianças que aí estão e pedem nossa atenção.

Bioeticamente, o Natal de 2022, não será de modo algum igual para todos, todos bem o sabemos, a sociedade global como um todo está profundamente dividida, a noite de Natal de 2022 com raras exceções será muito bem vivida e partilhada, haverá paz, troca de felicitações, já para uma grande maioria essa noite maravilhosa será palco de guerras, trocas de acusações, um jogo político onde as vidas valem pouco ou nada, a noite que deveria ser de uma paz infinita, pode se transformar num campo de dor e sofrimento para muitos. A grande maioria das pessoas com toda certeza querem a paz, a loucura de alguns não pode e não vai prevalecer, ela vai apenas até certo ponto. As vítimas nesse Natal são incontáveis, são oriundas da nossa falta de percepção, da nossa pequenez diante do todo, somos fruto de uma visão distorcida que pensa que somente alguns podem vivenciar esse momento, podemos facilmente cair nessa armadilha; mas acima das nossas vãs especulações, caprichos mesquinhos está o Menino Jesus, um Feliz e Santo Natal a todos.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.

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