O ser humano precisa de trabalho, não de guerras

Rosel Antonio Beraldo e Anor Sganzerla

O dia primeiro de maio sempre foi um marco histórico para todos aqueles e aquelas que ocupam suas existências no trabalho seja ele qual for, quando olhamos para o passado tudo era completamente diferente e convenhamos nem podia ser diferente, pegando alguns exemplos singelos, mas marcantes em nossas vidas, temos os nossos queridos pais, quantos de nós não vimos nossos pais saírem muito cedo de casa e irem até o seu destino de trabalho e só retornando no final do dia. Passaram por nós trabalhadores felizes, sorridentes, mas também passaram por nós trabalhadores cabisbaixos, tristes e amargurados por não poderem dar uma vida melhor para a sua família; nas esteiras das nossas lembranças cada um pode trazer a imagem de trabalho que nossos antepassados realizaram, somos devedores, somos gratos, sem eles a nossa existência seria incompleta.

O trabalhador é sempre uma pessoa bem concreta, inserida no tempo, no qual todas as dimensões se interconectam, aquilo que ele produz, em tese dá sentido à sua existência, a maioria esmagadora dos trabalhadores realiza ocupações braçais na natureza, muitas vezes isso os impedem de ter uma vida social mais ampla, pois tudo querendo ou não na cabeça de cada trabalhador está a preocupação primeira com a sua família, o sustento, vestuário, enfim aquilo que é inerente a qualquer mortal que precisa de algum modo ganhar seu pão de cada dia. O trabalho altera cada um de nós em diferentes medidas, em todas as direções, no atual estágio civilizacional o trabalho não consegue mais atender todas as demandas, pois ele tem sido aos poucos erodido por novas forças, a economia, quer queira, quer não molda a sociedade, assim como determina quem deve e quem não deve trabalhar.

O trabalho por melhor que seja, sempre traz riscos, acontece com aqueles que estão amparados pela lei, seja para aqueles que estão totalmente à margem dela, sem nenhuma segurança ou proteção social; não sejamos tolos: as condições dos trabalhadores são muito diferentes aqui e acolá, onde a imaginação nos levar, mas em cada lugar uma certeza, ou seja, os trabalhadores de modo geral passam por grandes provações em suas tarefas tais como: o lucro acima de qualquer coisa, longas e extenuantes jornadas, cumprimento de prazos em tempo recorde, eficiência total, aos que não cumprem uma ou outra dessas tarefas logo são taxados de imprestáveis, ineficientes, preguiçosos e tantos outros epítetos pejorativos; triste verdade que se constata é que em muitas situações o trabalhador é um mero joguete nas mãos do sistema imperante, descartável a qualquer dia, hora ou minuto.

A chegada do ser invisível em 2020 e tudo o que ele provocou e tem provocado na sociedade global afetou em cheio o mundo do trabalho de modo irrestrito, um evento de magnitude extrema, inesperado pela grande maioria, assustador, mortífero; a realidade com todo o seu aparato técnico (armas nucleares, Wall Street, Vale do Silício, etc) mostrou-se amplamente despreparada para lidar com um vírus, os trabalhadores foram duramente atingidos por essa avalanche fabricada, o que já era precário tornou-se insuportável, milhões deles ficaram da noite para o dia sem seu posto de trabalho, uma vulnerabilidade jamais vista em “tempos de paz”, a incerteza a curto prazo deu lugar agora para a incerteza duradoura, as poucas soluções que foram postas em prática nem de longe conseguiram dar alento; é incalculável o número de trabalhadores mortos pelo ser invisível nesses dias.

O trabalho também caminha lado a lado com a infinidade de inovações tecnológicas que surgem a todo momento, uma situação extremamente complexa para ambos os lados envolvidos, pior para aquele trabalhador que não consegue se qualificar tecnicamente como deveria; por outras palavras, o paradigma tecnocrático vigente tende a empurrar um número considerável de trabalhadores para a fila de espera. Aqui entra outro elemento preocupante, ou seja, o aumento de casos de depressão e suicídios entre os trabalhadores de todos os setores têm aumentado em todo o Planeta; muitos ambientes de trabalho são altamente tóxicos, estão voltados apenas para uma direção, que não se inclui a saúde e bem-estar dos funcionários, as estruturas que sustentam a sociedade estão fracas; naquilo que o ser humano mais colocou suas esperanças, isso o deixou sem chão, um terreno nada tranquilo.

Bioeticamente, o trabalho é uma dimensão fundamental na vida de cada ser humano, mas que passa por uma séria provação, impossível agora dimensionar como ele será daqui uns anos, provavelmente muitos postos de trabalho de hoje, darão seus lugares para algo jamais pensado por nós; os futuristas de plantão em suas vãs especulações até hoje foram incapazes de acertar suas previsões. É aterrador ver muitos governos jogando dinheiro pelo ralo em gastos e envio de armamentos de todo tipo. O que isso resultará? Que benefícios alguém tem ao adquirir um número expressivo de armas e tê-las em casa? Elas irão pagar suas contas? Pagarão as suas dívidas? Trarão comida, água e roupa para a sua família? Pagarão seu aluguel, o seu gás, seu combustível, a manutenção do seu veículo? Darão paz às nossas consciências? Nem uma coisa nem outra, pois as armas apenas destroem, matam, aniquilam, em resumo: fazem um mal terrível a todos; mas o trabalho humano é diferente: ele pode salvar muitas vidas, pode trazer inclusive a nós a tão sonhada paz social.

Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, é Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR

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