É hora de olhar pelo retrovisor do tempo!

Dirceu Antonio Ruaro

É hora de olhar pelo retrovisor do tempo e, quem sabe, fazer um “balanço” do que foi, do que não foi, dos ganhos e das perdas do ano que se finda.

Sem falsos romantismos, o final de ano é, na sua essência, uma tomada de consciência da vida, dos valores, dos feitos e dos não feitos que a vida proporcionou a cada um de nós no ano que está findando.

Quem sabe seja possível sentar-se na sua cadeira preferida (a de balanço) ou de descanso e imaginar um filme. Um filme cujo autor e ator principal seja você.

No começo você se encontra parado, olhando a estrada percorrida. Analisa os caminhos pelos quais andou. Revê os encontros e desencontros. As pessoas que chegaram e as pessoas que saíram de sua vida.

De repente, você para e vê desfilarem diante de si uma série de sonhos, de planejamentos, de ajustes, de histórias que queria viver e de coisas que queria fazer. O futuro que você havia sonhado para o ano que se finda, se apresenta a você, porém, com linhas e entrelinhas cruzadas.

As escolhas foram suas, não tem como negar. E, como na canção de Roberto Carlos você pensa: “Se chorei ou se sorri O importante é que emoções eu vivi”.

E, olhando para trás você sente que o que se foi não volta mais, que a vida tem de continuar mesmo que tenha que chorar, mais uma vez.

Chorar pelo abraço que não deu, pela mensagem esquecida no celular, sem retorno, pelo olhar incompreendido, porém, não tem mais volta, o tempo se foi. E é hora de entender que terá de levar apenas no pensamento o amor de cada amigo, de cada irmã, de cada pessoa que perdeu, seja para a morte ou para a vida. E, novamente, sem querer, você cantarola: “Das lembranças que eu trago na vida /Você é a saudade que eu gosto de ter /Só assim sinto você bem perto de mim /Outra vez”.

Agora você para e lembra de um livro que leu e releu tantas vezes que até perdeu a conta: Perdas e Ganhos, de Lya Luft. Um livro que fala de recomeços, de relações conflituosas entre pais e filhos, de história de mulheres que se descobrem envelhecendo e a forma com que lidam com essa nova realidade, mas sempre sob a perspectiva de alguém que aprendeu e continua aprendendo com todos os acontecimentos, dores e alegrias.

Sentado na sua cadeira, você consegue entender e divagar com paixão sobre sua família, seu tempo, suas relações, suas ilusões, suas perdas em vida, perdas pela morte, perdas pela incompreensão e pelo desamor.

Sua história de vida desfila pela tela imaginária e faz você entender que sim, toda vida tem perdas e tem ganhos. Mesmo sem entender bem, você percebe que a vida nos convida a rever nossos vínculos, nossos afetos, nossos desafetos, nossos sonhos. Percebe, claramente, que é preciso repensar o que você entende por felicidade, por amor, por companheirismo. E, no final entende que é preciso construir relações sólidas baseadas no amor sincero e comprometido.  

Nessa altura você entende o quanto é difícil fazer um balanço da vida, pois é um processo de autoavaliação, de se recolher e olhar para trás, de crescer e aprender.

É uma possibilidade de compreender seus desacertos e trilhar seu caminho olhando para trás e aprendendo com o que você fez ou deixou de fazer.

Mas é bom salientar que é importante não apenas olhar as coisas ruins, ou os fracassos. É importante reconhecer os sucessos, as conquistas, as vitórias, os momentos bons. Reconhecer as pequenas conquistas, os pequenos sucessos fazem uma diferença enorme numa reflexão de perdas e ganhos e quem sabe você possa entender que ganhou mais do que perdeu.

E, quem sabe você possa finalizar seu “balanço” dizendo com Mercedes Sosa:

Agradeço à vida, que tem me dado tanto/ Me deu dois olhos, que quando os abro/ Distingo perfeitamente o preto do branco/ E no alto céu, seu fundo estrelado/ E nas multidões, o homem que eu amo.

Agradeço à vida, que tem me dado tanto/ Me deu o ouvido, que com todo seu tamanho/ Grava dia e noite, grilos e canários/ Martelos, turbinas, latidos, aguaceiros/ E a voz tão terna do meu bem-amado.

Agradeço à vida, que tem me dado tanto/ Me deu os sons e o alfabeto/ E com ele, as palavras que eu penso e declaro/ Mãe, amigo, irmão, e luz iluminando O caminho da alma de quem estou amando.

Agradeço à vida, que tem me dado tanto/ Me deu a marcha de meus pés cansados/ Com eles, atravessei cidades e poças/ Praias e desertos, montanhas e planícies/ E sua casa, sua rua e seu quintal.

Agradeço à vida, que tem me dado tanto/ Me deu o coração, que perde o compasso/ Quando olho o fruto do cérebro humano / Quando olho o bom tão longe do mal/ Quando olho o fundo de seus olhos claros.

Agradeço à vida, que tem me dado tanto/ Me deu o riso e me deu o pranto/ Assim eu distingo fortuna de falência/ Os dois materiais que formam meu canto/ E o canto de vocês que é o mesmo canto/ E o canto de todos que é meu próprio canto.

Feliz Ano Novo!

Doutor em Educação pela Unicamp, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico Unimater

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