Farmácias públicas e privadas sofrem com desabastecimento

Uma pesquisa, realizada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), apontou que, dos 2.469 municípios brasileiros que responderam à entrevista para o estudo, 80,4% relataram falta de medicamentos básicos nas farmácias. Pato Branco entra para os índices com escassez de remédios em todas as esferas: comércios, farmácia pública e nos hospitais.

Conforme a farmacêutica da Prefeitura de Pato Branco, Zeliane Lovatel, nas unidades municipais faltam medicamentos como o antibiótico Amoxacilina + clavulonato, fenobarbital, estriol, castanha da índia, Bromidrato de fenoterol, nifedipino, ambroxol, butilbrometo, sais para reidratação e tobramicina.

Farmácias comerciais também relatam falta de antibióticos. Juliane Brasil Pichetti, da Farmácia Brasil, conta que está difícil encontrar também remédios para a tosse, gripe, além de alguns controlados, como Lorazepan.

Já nos hospitais, a situação é ainda mais complicada. O Hospital Filantrópico Policlínica relata a falta de medicamentos como o dipropionato de beclometasona, um anti-inflamatório de ação local que controla a inflamação dos brônquios, utilizado para inalações. Conforme a assessoria de imprensa, além de o produto não ser encontrado nas distribuidoras, houve aumento na demanda de pacientes nos últimos dois meses.

O hospital relata ainda dificuldades para a aquisição de medicamentos utilizados na anestesiologia, como o sulfato de atropina, muito utilizado para sedar pacientes nas cirurgias. Com a diminuição da oferta, o preço da ampola, que era de R$ 0,82, está custando R$ 11,00 a unidade. São usadas 500 ampolas por mês, em média.

No caso do soro fisiológico, todas as apresentações estão com o prazo dilatado para a entrega. O hospital informa que é preciso encomendar com pelo menos 15 dias de antecedência para as distribuidoras e que os valores aumentaram exponencialmente. Para se ter ideia, a unidade de um litro do soro fisiológico, que custava R$ 4,60 em março, passou a R$ 9,80 em julho, um acréscimo de 113%, e são utilizados cerca de dois mil frascos por mês, em média. Isso fez com que os gastos médios mensais com medicamentos e materiais no Hospital Filantrópico Policlínica passassem de R$ 358 mil em 2019 para R$ 540 mil este ano, ou seja, um aumento de 51% em relação ao período antes da pandemia.

Falta de insumos

Os serviços terceirizados de diagnóstico por imagem e de hemodinâmica sofrem com a falta de insumos, especialmente os contrastes. No dia 12 de julho, por exemplo, ofício do serviço de hemodinâmica ao hospital informou a suspensão dos procedimentos eletivos, como forma de manter o estoque de contraste para casos de urgência e emergência.

“Há uma crise mundial de desabastecimento de insumos e medicamentos, o que afeta diretamente os atendimentos. Além disso, com a baixa oferta, os preços têm se elevado continuamente. O hospital, que tem mais de 70% de atendimentos via SUS, sofre ainda mais com os impactos nas despesas. As tabelas do SUS estão defasadas e o desequilíbrio só aumenta, o que pode levar ao fechamento de vários serviços”, alerta Fabiola Fressato Hecke, presidente do Conselho Superior do Hospital Filantrópico Policlínica.

Explicação

De acordo com o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos – Abiquifi, Norberto Prestes, o Brasil, hoje, importa 95% dos insumos farmacêuticos utilizado para a fabricação de medicamentos no País. “Estamos sofrendo com o desabastecimento, por exemplo, dos antibióticos. Já fomos suficientes na década de 80, hoje dependemos da compra desse insumo da China e da Índia”, diz.

Prestes diz que, durante a pandemia, houve um problema seríssimo com logística, inclusive com produção de medicamentos, e isso desestabilizou a produção mundial de medicamentos nos últimos dois anos .

O último lockdown na China – o país adota a política Covid Zero, estabelecendo lockdown a qualquer surto, o que acaba fechando algumas cidades e, consequentemente, paralisando a fabricação de insumos –, explica, agravou ainda mais a situação do Brasil, provocando um caos na logística. “As entregas estão intermitentes, os preços aumentaram absurdamente nesse período, e essa intermitência na entrega do insumo acarreta inconsistência na produção do medicamento aqui no país. É por isso que estamos vendo essa dificuldade das farmacêuticas em entregar medicamentos prontamente para a população”, avaliou.

Prestes conta que o Brasil chegou a produzir mais de 50% dos insumos consumidos nacionalmente nas décadas de 1980 e 1990, mas com a abertura do mercado e a entrada de produtos importados, ocorrida durante o governo Collor, a produção caiu para 5% porque, de acordo com ele, não houve o cuidado de proteger essa fatia da indústria, que já existia.

Essa demanda migrou, na maior parte, para China e Índia, sendo que os insumos estratégicos das multinacionais migraram para as suas matrizes, que ficam majoritariamente nos Estados Unidos, França, Suíça. “O Brasil foi reduzindo e, hoje, dentro dos 5% que a gente produz, não estão nem antibióticos, fundamentais para a saúde da população”, lamenta.

Conforme Prestes, a solução é repensar o problema e analisar o que pode ser retomado, já que o Brasil é reconhecido regulatoriamente enquanto a China apresenta problemas nas questões regulatórias.

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