Amamentar não é tão fácil como dizem as campanhas de aleitamento

Conhecido como Agosto Dourado – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno –  o mês de agosto simboliza a luta pelo incentivo à amamentação

A história da Semana Mundial de Aleitamento Materno teve início em 1990, num encontro da Organização Mundial de Saúde com a UNICEF, momento em que foi gerado um documento conhecido como “Declaração de Innocenti”. Para cumprir os compromissos assumidos pelos países após a assinatura deste documento, em 1991 foi fundada a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (WABA, sigla em inglês). Em 1992, a WABA criou a Semana Mundial de Aleitamento Materno e, todos os anos, define um tema a ser explorado e lança materiais que são traduzidos em 14 idiomas com a participação de cerca de 120 países. São dias de intensas atividades que buscam promover o aleitamento exclusivo até o sexto mês de vida, se estendendo até os dois anos ou mais de idade. 

A amamentação é um dos melhores investimentos para salvar vidas infantis e melhorar a saúde, o desenvolvimento social e econômico dos indivíduos e nações. Criar um ambiente propício para padrões de alimentação infantil ideais é um imperativo da sociedade. Ações coordenadas para otimizar a alimentação infantil em tempos normais e em emergências é essencial para garantir que as necessidades nutricionais de todos os bebês sejam atendidas.

Por meio do leite materno o bebê recebe os anticorpos da mãe que o protegem contra doenças como, diarreia e infecções, principalmente as respiratórias. O risco de asma, diabetes e obesidade é menor em crianças amamentadas, mesmo depois que elas param de mamar. A amamentação é, ainda, um excelente exercício para o desenvolvimento da face da criança, importante para que ela tenha dentes fortes, desenvolva a fala e tenha uma boa respiração.

O fato é que amamentar não é uma tarefa fácil como se diz na maioria dessas campanhas de incentivo, e quando as novas mamães, depois de romantizar o ato, se deparam com a realidade, pode ser algo muito frustrante, que faz muitas mulheres desistirem de amamentar. 

Consultoria

Ana Paula França Dalanhol é dentista na Atenção Primária do Município de Pato Branco, além de consultora de aleitamento materno.  “A amamentação entrou na minha vida através da linha guia do Mãe Paranaense. Fui pelo Município fazer um curso e descobri que os dentistas deveriam aconselhar sobre as vantagens do aleitamento às gestantes. Me apaixonei pelo tema e não parei mais de estudar sobre o assunto”, revela.

Ana Paula conta que, no Brasil, apenas 9,3% das mães mantém o aleitamento materno no sexto mês, conforme dados do SUS 2020. “Aos dois meses, 54% das crianças já teve contato com algum outro tipo de líquido. A média de aleitamento materno no Brasil é de 54 dias. De acordo com estes dados, acredito que a maioria das mulheres em algum momento se depara com dificuldades na amamentação e não encontra devido apoio”, diz.
A consultora, que dá dicas sobre amamentação e maternidade real no Instagram (instagram.com/teteemfoco), acredita que o principal motivo para que as mães desistam de amamentar seus bebês é a desinformação, mas também cita falta de apoio e a crença que amamentar é instintivo. “Fisicamente, aposto no ingurgitamento mamário, baixa produção de leite e fissuras mamárias”, avalia. 

Ana Paula indica que, quando há dificuldade no aleitamento, dor ao amamentar, assim como quando o bebê não pega a mama, as mamas ficam muito cheias e duras ou com partes avermelhadas, ou mesmo quando se tem a intenção de amamentar, as mamães podem procurar ajuda de uma consultora. “Esse aconselhamento pode ocorrer desde a gestação”, indica. “Amamentar exige disponibilidade e vontade da mãe, logo, necessita de apoio de toda a família e amigos próximos para que esta mulher consiga cumprir essa missão”, aconselha.

Dicas para o aleitamento

A consultora conta que, entre os mitos que rondam a amamentação, o pior é o do leite fraco. “Leite fraco não existe. Mas também é comum que as mães ouçam que não vão conseguir porque tem a mama pequena e que não produzem leite se se estressarem”, esclarece. 

Já entre as dificuldades, uma das maiores na hora da amamentação, e também das maiores causas de desmame precoce, é a pega. “Todas as mamães que procuraram informação sabem sobre a famosa boquinha de peixe, queixo encostado na mama, lábio inferior virado para fora, língua sobre rolete gengival, lábio superior projetado para fora e nariz livre. Mas, se todo mundo sabe, por que é tão difícil?”, questiona.

Simples, porque na prática é diferente. “O bebê não quer saber como é que o lábio fica na primeira hora de vida. Ele quer saber que aquele cheiro delicioso vindo da aréola é o lugar que vai trazer familiaridade com o cheiro que ele conhece até agora, que é o cheiro da mãe”, explica.

A dica, diz a consultora, é aproveitar o reflexo de busca do bebê. “Toquem com o bico do seio no lábio superior, mirando na ponta do nariz. Quando o reflexo for acionado, ele vai procurar o bico para cima, abrindo bem a boca e tocando o queixo na mama, para aí, sim, automaticamente abocanhar o tetê na posição correta”, explica.

Amamentação e covid

Ana Paula amamentou seu filho, Emanuel, quando teve covid-19. A decisão veio depois de muita informação. “Diversas pesquisas mostram as vantagens de amamentar enquanto contaminadas. Tanto a  OMS [Organização Mundial da Saúde] quanto a SBP [Sociedade Brasileira de Pediatria] recomendam o início e continuidade do aleitamento, devido aos benefícios do leite materno”, fala. “O Emanuel não teve covid, não desenvolveu anticorpos e, lógico, não apresentou sintomas. Acredito que isso aconteceu graças ao leite materno, que transmite anticorpos da mãe para o bebê sempre”, esclarece.

Acompanhe o trabalho de Ana Paula pelo Instagram Tetê em Foco (instagram.com/teteemfoco). 

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