Cuidados com a saúde mental são importantes desde a infância

A epidemia de ataques nas escolas brasileiras tem dividido opiniões sobre quem — ou o que – é o culpado, mas pouco se fala em prevenção a longo prazo

O Brasil vem assistindo a uma série de ataques às escolas nos últimos meses. Só nos últimos 10 dias, 255 pessoas foram presas e 756 perfis derrubados de redes sociais por ligação aos atentados. Esses dados foram divulgados pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, na terça-feira (18), durante uma reunião no Palácio do Planalto.

Devido ao aniversário do massacre de Columbine, ocorrido em 20 de abril de 1999, investigações se intensificam, assim como as ameaças.

Em geral, esses ataques são realizados por crianças ou adolescentes. E, na ânsia de encontrar uma explicação para os fatos, há quem culpe os pais por falta de zelo; a escola por falta de combate ao bullying; há quem acredite que os jogos de videogame são os grandes influenciadores; e ainda quem procure nas relações virtuais, em especial em células da deep web, os mandantes dos ataques. 

O fato é que apontar possíveis culpados pode até abrir um debate importante, mas a prevenção está em cuidar da saúde mental desde a infância. Ao menos é o que indica o psicólogo e psicanalista Bruno Péres Oliveira.

Bruno trabalha com crianças e adolescentes há mais de 10 anos, e garante que desenvolver a inteligência emocional, requisito que tem sido fundamental até para o mercado de trabalho, é algo a ser feito durante a infância, período em que estamos aprendendo a lidar com as nossas reações e sentimentos.

O psicólogo diz que o atendimento infantil em psicoterapia e psicanálise ajuda com que os jovens desenvolvam suas habilidades emocionais, construindo relacionamentos melhores com a família e os amigos. “Também colabora na compreensão de que nem tudo está sob o nosso controle, que muitas vezes acontecem coisas que não queremos, e que está tudo bem nos sentirmos tristes ou frustrados com isso, mas que é preciso aceitar e seguir em frente”, avalia.

Com isso, os jovens ficam menos suscetíveis a, por exemplo, redes organizadas que estimulam a violência, ou mesmo conseguem separar, de forma absolutamente clara, a retórica de um jogo da vida real.

Responsabilidade de quem?

A adolescência é uma fase complicada. É normal, por exemplo, uma padronização de comportamento. Todos com fones de ouvidos, olhos grudados na tela do celular, sem conversar entre si nem com os outros.

Os pais ficam confusos, param de reconhecer a criança que era seu filho. Enquanto isso, aquela criança precisa ressignificar a sua existência ao mesmo tempo em que fatores biológicos designam mudanças corporais e fisiológicas até que se consiga o status de adulto.

“No contexto familiar, há uma transição de cuidados que é um pouco caótica tanto para os pais quanto para os filhos, mas que é um importante ritual de passagem: as regalias diminuem ao mesmo tempo em que crescem as cobranças e responsabilidades”, fala Bruno.

Há ainda o inevitável choque geracional, que é fundamental para que o filho se descole dos pais e comece a trilhar seu próprio caminho com independência. “Por isso é natural que os pais não compreendam alguns comportamentos, pontos de vista e gostos dos filhos, não é preciso se assustar com isso”, fala.

A escola também passa, muitas vezes, de um lugar de acolhimento a um ambiente hostil e competitivo. Mas nada disso é capaz de levar a um ataque de fúria, com tiros e mortes, porque faz parte da transição natural da vida.

“São diversos conflitos que surgem da diferença, do rompimento e das transformações que precisam de um olhar mais atento, menos simplista, de quem está acompanhando aquele ser humano em transformação”, adverte o psicólogo.

É importante que os pais e responsáveis também compreendam que os adolescentes não são todos iguais. “Mesmo que estejam todos com os olhos grudados em uma tela, em cada uma delas há interesses diferentes: música, jogos, filmes, discursos, dancinhas. Cabe, sim, aos pais, acompanhar o que seu filho dá mais relevância”, aconselha.

Por outro lado, invadir o espaço pessoal é desaconselhado. “Isso só fará com que ele se feche mais, tome mais cuidado para manter a sua privacidade”, diz o psicanalista.

Autoconhecimento

Para Bruno, quando se aprende desde pequeno sobre autoconhecimento, a pessoa cresce mais segura, mais criativa, mais sociável e mais disposta a entender e acolher tudo o que sente. “Essa criança vai crescer sabendo expor seus sentimentos, e isso é fundamental para que ela não tenha ataques violentos como forma de extravasar tudo o que estava guardando”, diz.

Mas, para isso, ela precisa ser ouvida. “Os pais e responsáveis não podem dizer que o que ela pensa e diz é besteira ou tem pouca importância. A escuta é uma das ferramentas mais eficazes para o equilíbrio emocional”.

Por isso, diz Bruno, a melhor idade para começar a fazer terapia é a partir do momento em que a criança consegue se comunicar minimamente. “Procure um profissional especializado na faixa etária do seu filho e invista na saúde emocional como forma de prevenção a diversos problemas, não apenas este, que é extremo. Até as doenças causadas pelo estresse e ansiedade podem ser evitadas ainda na infância”, recomenda.

Terapia online

Por considerar a importância desse acompanhamento para a vida, Bruno está em constante formação para o atendimento de crianças e adolescentes. “Atualmente, estou terminando uma especialização em abordagem interdisciplinar sobre Problemas do Desenvolvimento na Infância e Adolescência, pelo Centro Lydia Coriat, de Porto Alegre (RS)”, comenta.

O psicanalista atende em Francisco Beltrão e Ampére, além de oferecer atendimento online, uma ótima opção para os pais que têm pouco tempo na sua rotina para acompanhar os filhos. 

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