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Tudo o que você precisa saber sobre a cirurgia de retirada da prótese de silicone

Victoria Beckham, Scarlett Johansson, Monica Benini, Mayra Cardi, Ashley Tisdale e mais recentemente Carolina Dieckmann, entre outras celebridades, realizaram, nos últimos 2 anos, a cirurgia de explante mamário, ou seja, optaram por retirar suas próteses de silicone dos seios. Por serem mulheres com grande visibilidade pública, esse procedimento é visto como tendência, assim como o aumento do volume das mamas foi nas últimas décadas.

Ainda assim, a cirurgia plástica mais realizada no mundo continua sendo o implante de silicone – que aparece em segundo lugar no Brasil, país campeão mundial em procedimentos, perdendo apenas para o número de lipoaspirações. Contudo, dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) apontam para um grande crescimento pela busca de cirurgia de explante.

Conforme o cirurgião plástico Vinicius Julio Camargo, apesar do crescente número de mulheres que decidem pela retirada da prótese, seja por estética ou pelo surgimento de complicações que levam à essa necessidade, em número de explantes ainda é pequeno quando comparado ao número de procedimentos realizados para a colocação do silicone. “A cirurgia de aumento mamário traz um grande benefício para as pacientes, envolvendo questões de autoestima, segurança no convívio social, maior facilidade em relacionamentos pessoais. Apesar de envolver algumas preocupações, o mais frequente, depois da prótese colocada, é que as pacientes, diante da necessidade da retirada das próteses, optem por procedimentos que não retiram os implantes, a não ser quando existe uma indicação médica formal que impeça a permanência”, explica.

Ainda assim, não é possível ignorar o crescimento da procura pela cirurgia da retirada da prótese de silicone. Conversamos com o cirurgião plástico sobre o procedimento. Confira:

Caderno Saúde – Há uma crescente de mulheres querendo tirar o silicone. Na sua opinião, por que isso está acontecendo?
Dr. Vinicius Julio Camargo – O explante mamário, ou seja, a cirurgia para a retirada de silicone, está presente cada vez mais nas redes sociais, nos debates na mídia e também nos consultórios de cirurgia plástica, não somente do Brasil, mas também de outros países. Muito mais do que considerar este procedimento como uma tendência, é importante compreender os motivos que levam à tomada de decisão da paciente. Após a colocação das próteses de silicone, é importante que a mulher faça um acompanhamento periódico, não somente através das consultas com o médico assistente, mas também por exames físico e de imagens, para verificar a possível ocorrência de alteração na característica do implante ou mesmo do surgimento de algum tipo de problema relacionado a presença desses implantes. Os principais motivos que levam uma paciente a optar pela retirada são desejo de mudar a característica estética; não ter se adaptado aos implantes, o que é raro; ou então por simplesmente desejar um aspecto de mama menor, mais equilibrado e principalmente sem ter a necessidade de um acompanhamento a longo prazo, que é exigido quando se tem prótese.

Por outro lado, levando em consideração as recomendações médicas sobre o implante, nós podemos citar que, assim como qualquer outro procedimento cirúrgico, no pós-operatório podem surgir alguns problemas em longo prazo, e eles na maioria das vezes estão relacionados com uma resposta cicatricial inflamatória ou mesmo imunológica do organismo da paciente em relação à presença das próteses. Em caso mais graves podem ocorrer complicações que ficaram conhecidas como doença do silicone. Isso é uma manifestação muito rara e que muitas vezes fica difícil estabelecer porque não existem testes específicos ou critérios reconhecidos para a sua definição, simplesmente porque os sintomas são muito imprecisos e dificilmente relacionados à presença do implante.

Em conjunto com as complicações relacionadas à doença do silicone, quando o paciente apresenta alguma predisposição ao desenvolvimento de doenças autoimunes, a colocação da prótese de silicone pode ser um gatilho para o surgimento da Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes (ASIA). Quando a substância externa provoca uma reação imunológica no organismo, ela pode acontecer de uma maneira exagerada, fazendo com que o corpo tenda a se defender de uma determinada substância ou produto não reconhecido por ele. As consequências podem ser muito variáveis e semelhantes a processos inflamatórios, condições clínicas que devem ser precisamente diagnosticadas e tratadas pelo acompanhamento médico.

Outra complicação também preocupante e, felizmente, bastante rara de acontecer é o desenvolvimento de células anaplásicas na capa que envolve a prótese mamária, ocasionando um tipo raro de linfoma de grandes células, que é considerado um câncer do sistema imunológico.

Como é feita essa cirurgia de explante?
Dependendo da característica da mama no momento em que se está programando a retirada do implante mamário é que será definida a maneira de realizar esse procedimento. A retirada do implante pode ser somente através da cicatriz aonde foi realizada sua colocação, ou por via inframamária, mas na maioria dos casos, principalmente quando ocorreram alterações nas características da mama, volume mamário, flacidez de pele ou mesmo pelas alterações hormonais e variações de peso que ocorreram ao longo do tempo, pode ser necessário a realização da retirada do excesso de pele para o reposicionamento e a correção da flacidez para que a característica da mama possa ser reestabelecida da melhor maneira.

Naqueles casos onde não há um volume mamário suficiente para promover a sustentação da pele e a estabilidade do tecido mamário, pode ser indicado a realização de um procedimento de lipoenxertia mamária. Neste caso é realizada a retirada do tecido gorduroso de outras regiões corporais e através de um método específico para a aplicação se utiliza o tecido gorduroso para promover o aumento do volume mamário. Na maioria das vezes, esse procedimento de lipoenxertia não pode ser realizado no mesmo momento da retirada do implante, apesar de sempre se tentar promover o melhor aspecto possível da mama já na cirurgia de retirada dos implantes.

Há exigências pré-operatórias para a cirurgia?
A preparação para uma cirurgia de explante mamário é semelhante a qualquer outro procedimento de cirurgia mamária. Ou seja, envolve a realização de exames laboratoriais, radiológicos e de imagem, principalmente para verificar a integridade dos implantes porque os cuidados e planejamentos da realização da cirurgia acaba sendo baseado na característica e real necessidade de fazer algum tipo de procedimento mais abrangente, incluindo a retirada não somente do implante como também da cápsula que o envolve, o qual é chamado de capsulectomia.

Outro detalhe é que, caso exista algum tipo de alteração ou suspeita de alguma complicação relacionada ao implante, existem protocolos que são mundialmente estabelecidos para que o procedimento seja realizado respeitando os critérios de proteção para evitar qualquer tipo de complicação ou agravamento no naqueles casos que exista algum tipo de doença relacionada a presença do implante mamário.

Quais cuidados pós-operatórios a mulher deve tomar?
Os cuidados pós-operatórios vão depender do tipo de procedimento realizado. Eles podem ser mais ou menos complexos. Nos casos de retirada do implante em que foi possível a acomodação do tecido mamário sem grande mobilização de pele ou reposicionamento da glândula, a recuperação acaba sendo mais simples. Porém, pode ser necessário a manutenção de drenos a fim de evitar que ocorra acúmulo de líquido no local onde antes estava o implante. A manutenção desse dreno pode ser de 24 horas até uma semana depois do procedimento. Também é importante respeitar os cuidados, que envolve repouso, evitar a realização de atividades físicas, principalmente de movimentos com os membros superiores, para que a acomodação e a cicatrização dos tecidos ocorra de maneira mais fácil, evitando a ocorrência de problemas como seromas, hematomas ou o mau posicionamento da mama após a realização da retirada dos implantes.

Além da vontade da mulher, quando essa cirurgia é indicada?
As principais procuras pela retirada do implante mamário, além de uma decisão da própria paciente, seriam a ocorrência de contratura capsular, que produz uma deformidade do implante devido a formação de uma capsula fibrosa rígida ao redor do implante. O enrijecimento da mama pode causar dores, desconfortos e até mesmo alteração no formato. Nesse caso, pode-se retirar o implante e a cápsula e colocar implantes de outros tamanhos, sem a necessidade absoluta de a paciente permanecer sem a prótese.

Outra situação é a ocorrência de células anaplásicas na capsula da prótese, o chamado ALCL (linfoma anaplásico de grandes células), considerado um tipo de câncer e sobre o qual já falamos. Quando diagnosticado precocemente, a simples remoção da capsula e implante já é o tratamento definitivo para esse tipo de patologia, não necessitando nenhum tipo de tratamento adicional.

Também é passível de cirurgia a ruptura do implante mamário, que não necessariamente leva a necessidade do explante, podendo ser somente substituída a prótese. A ocorrência de ruptura pode ser assintomática ou sintomática, com desconforto, dor, sensação de calor ou outras alterações no tecido mamário, inclusive no aspecto, com a perda de volume ou de sustentação.

Reações que também podem ocorrer com a colocação de silicone são as sistêmicas, semelhantes a patologias reumatológicas, quando acontecem manifestações inespecíficas, como dores articulares, ressecamento de mucosa, falta de força, sonolência, e que depois de uma longa investigação, quando se afasta qualquer outro tipo de doença que poderia causar esses sintomas diretamente, se conclui a possível relação com a presença do implante. São relativamente pouco frequentes, mas quando acontecem trazem transtorno para a paciente. Nesse caso, sendo uma das melhores soluções a retirada do implante, com a resolução dos sintomas em poucas semanas.

O explante só pode ser feito no hospital ou é um procedimento ambulatorial?
As cirurgias para as retiradas de implante nem sempre são procedimentos pequenos ou rápidos, que podem ser realizados em nível ambulatorial. O ideal é que esses procedimentos sejam realizados em ambiente com segurança, com uma equipe de profissionais que estejam habilitados e capacitados para prestar o suporte necessário ao cirurgião e também a paciente para maior segurança e tranquilidade durante a cirurgia. Conforme a recomendação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), procedimentos de médio e grande porte devem ser realizados em ambiente hospitalar.

Como escolher o cirurgião plástico para fazer o explante?
Nas situações em que existe a necessidade da retirada de implante, o mais coerente é que a paciente busque o profissional que realizou a cirurgia de colocação dos impantes porque ele terá as informações de tamanho, técnica utilizada, posição dos implantes e também algum detalhe específico do método utilizado durante a cirurgia para a colocação. Naquelas situações onde existe uma impossibilidade, seja por mudança de cidade ou qualquer outro fator que motive a paciente a buscar um outro profissional, é importante se informar se ele tem a experiência necessária para realização de procedimentos mamários porque muitas vezes a cirurgia para a retirada do implante envolve questões muito maiores do que somente o procedimento, que vão de análise técnica adequada, identificação de outros fatores de risco e principalmente pela possibilidade de encontrar as melhores soluções para que a paciente possa ter o melhor aspecto possível da sua mama após a retirada das próteses de silicone. A SBCP, entidade que direciona a formação e coordena os principais treinamentos e capacitações dos profissionais da cirurgia plástica no Brasil tem um grande número de profissionais competentes e aptos a realizar esse tipo de procedimento. É evidente que a escolha é individual, baseada em informações, segurança, indicações e, depois de ter realizado uma cirurgia, a perfeita compreensão dos objetivos que serão buscados durante a realização desse tipo de procedimento, e que envolve os preceitos básicos de todos os procedimentos relacionados a cirurgia plástica estética e também da reparadora.

Vinicius Julio Camargo é médico cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. CRM-PR 19651 / RQE 54456.
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