Infectologia além das pandemias

Não são somente as doenças capazes de dizimar a população as tratadas pelos infectologistas. Essa especialidade médica é bastante ampla e conhecê-la melhor ajuda na antecipação de um diagnóstico ou mesmo na busca por um tratamento eficaz

Durante os dois últimos anos, uma especialidade médica ganhou destaque: a infectologia. O reconhecimento veio no decorrer do contexto da pandemia da covid-19. Enquanto a doença assolava o mundo, os infectologistas protagonizavam desde os cuidados aos pacientes até o disseminar de conhecimento sobre a especialidade na tentativa de conter o problema.

Ao longo destes quase dois anos, foi possível perceber que sempre havia um infectologista à frente dos processos, seja na orientação quanto a escolha e uso de máscaras adequadas, indicando sobre a higiene correta das mãos, explicando sobre distanciamento social para a população, além de ser fundamental nos fluxos e rotinas dentro dos hospitais, nos treinamentos para as instituições e profissionais, que vão desde a paramentação até a necessidade do atendimento cauteloso do paciente.

Porém, a especialidade vai muito além da covid, como explica Susane Marafon, médica infectologista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com residência médica pelo Hospital Universitário Julio Muller (UFMT). “É essa especialidade médica que diagnostica e cuida de pacientes com doenças infecciosas e parasitárias, sejam causadas por vírus, bactérias, fungos, protozoários ou outros microorganismos”, informa.

Atualmente, as doenças infecciosas são responsáveis por grande parte das consultas médicas ambulatoriais e em pronto-socorro. Além de fazer esse atendimento, é também função da especialidade prevenir doenças por meio da indicação de vacinas, assim como fazer a prevenção de infecções dentro do hospital – sendo essa última uma das principais atribuições de Susane hoje.

Natural de São Jorge D’Oeste-PR, retornou ao sudoeste do Paraná em março de 2021 para atuar no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Instituto Policlínica Pato Branco (IPPB) e no Hospital Santa Pelizzari, em Palmas. A infectologista é ainda docente do Unidep, sendo preceptora da Residência Médica de Clínica Médica no IPPB, além de atender em seu consultório, que fica no Alda Instituto de Saúde.

“Todo hospital precisa seguir rígidos protocolos de segurança. Para implementar as práticas e fazer o seu controle é necessário que na equipe responsável pelas ações haja um médico infectologista”, explica.

Sendo assim, o médico infectologista pode trabalhar em hospital, clínica ou mesmo consultório. “Na minha rotina, realizo diagnósticos tanto em consultas no consultório como dentro dos hospitais que atuo. Trato e acompanho pacientes com infecções e auxilio na promoção de medidas preventivas”.

Patologias tratadas pela infectologia

Entre as doenças tratadas pela infectologia estão as infecciosas, que muitas vezes apresentam alta capacidade para dizimar populações. Há muito tempo, essas patologias vêm sendo registradas na história da humanidade, como a peste negra, a epidemia causada pelo HIV, o vírus influenza e, mais recentemente, os casos de coronavírus. “Esses são alguns dos casos que vêm desafiando médicos e infectologistas em todo o mundo”, lembra Susane.

Em seu consultório, a médica é procurada por inúmeras demandas. “Geralmente, o especialista vai tratar de pacientes com HIV, hepatites virais, doenças sexualmente transmissíveis e infecções em geral”, resume.

Quando a pessoa descobre que é portador do vírus da AIDS (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis, a indicação de Susane é que se procure imediatamente um infectologista. “Esse é o profissional que saberá como controlar a evolução da doença e o seu tratamento”, alerta.

Existe também os casos de quando pessoas vão viajar para lugares onde há riscos de infeção. “Neste cenário também é fundamental procurar um infectologista para que ele oriente quais vacinas o paciente precisará tomar e são adequadas para o local de destino”, avisa.

Infectologia ou outra especialidade?

O infectologista é, sem dúvida, o especialista com maior familiaridade na investigação e diagnóstico das doenças febris, um dos sintomas mais comuns quando se fala em infecção. “Grande maioria dos casos de febre são ocasionados devido a doenças infecciosas. Pela experiência do infectologista com os diagnósticos diferenciais de doenças febris, este profissional pode, após avaliar o paciente, descartar doença infecciosa e, nesta minoria dos casos, encaminhar o paciente à especialidade pertinente”, explica.

Porém, Susane comenta que a procura pelo infectologista ocorre muitas vezes somente após febres persistentes e prolongadas, mas sem identificação do seu foco primário.

“Não se deve procurar o infectologista apenas quando você já estiver doente, mas ele serve também para aconselhamentos. E o desconhecimento sobre o campo de atuação do médico infectologista faz com que, na maioria das vezes, a população procure outras especialidades médicas quando acometida por doenças infecciosas”, acredita.

Susane exemplifica citando que pacientes com suspeita de pneumonia, em geral, procuram um pneumologista; com hepatite viral um gastroenterologista; com cistite ou pielonefrite (infecção urinária na bexiga ou rim), um nefrologista ou urologista; com meningite, um neurologista; com piodermite (infecção na pele), um dermatologista; e assim por diante. Isso porque, como as infecções quase sempre acometem preferencialmente um determinado órgão, o paciente intuitivamente procura o especialista responsável pelo tratamento de doenças daquele órgão, o que pode atrasar seu tratamento.

“Ocorre que, embora muitos destes profissionais estejam capacitados a resolver o problema, por outras vezes o especialista procurado é especialista no órgão, e não no tratamento da infecção do órgão. Assim, não são raros os casos que chegam ao infectologista encaminhados por outros médicos, com atraso no diagnóstico, somente quando já aparecem complicações no tratamento ou pela falta deste”, pensa.

Agora que você já conhece a importância do médico infectologista além da covid, lembre-se de não procurar ajuda médica somente quando já estiver doente. “Faça exames periódicos, mantenha uma rotina de consultas e exames para avaliar a sua saúde e, claro, não deixe de buscar um especialista sempre que perceber qualquer mudança no seu corpo”, indica Susane.

Quando procurar um infectologista?

Geralmente, é importante contar com a ajuda desse especialista quando surgirem os seguintes sinais:

• doenças virais, como dengue, febre amarela, sarampo e caxumba;

• agravos causados por fungos, como micoses;

• doenças bacterianas, como infecções urinárias, pneumonias, infecções de pele como celulite e erisipela, infecções ósseas, como osteomielite;

• problemas causados por protozoários, como toxoplasmose;

• aconselhamento sobre vacinação.

Susane Marafon é médica infectologista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com residência médica pelo Hospital Universitário Julio Muller (UFMT). Atua no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Instituto Policlínica Pato Branco (IPPB) e no Hospital Santa Pelizzari, em Palmas. É docente pelo Unidep, sendo preceptora da Residência Médica de Clínica Médica no IPPB. Atende no Alda Instituto de Saúde. CRM 46795 / RQE 28943.
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