Ouro líquido

Estudos sobre a propriedade regenerativa da gordura trazem bons resultados para a área médica, em especial nos procedimentos estéticos e reparadores da cirurgia plástica

As propriedades regenerativas da gordura despertam grande interesse na comunidade médica mundial pelas suas diversas as possibilidades de benefícios aos pacientes, e existem pesquisas com resultados extremamente promissores. A utilização médica do tecido adiposo está conquistando um grande espaço entre os profissionais que se dedicam a trazer novos benefícios aos seus pacientes, principalmente no espectro da Cirurgia Plástica, seja através de procedimentos estéticos ou de reparação.

O tema já é pauta corrente em eventos científicos nacionais e internacionais, e vários cirurgiões plásticos brasileiros têm casuística relevante com experiência ampla e positiva. A expectativa em relação aos benefícios da utilização do tecido adiposo para diferentes tipos de tratamento é tão grande que a gordura lipoaspirada vem sendo chamada de “ouro líquido”.

Conforme Ronaldo Righesso, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) – RS e entusiasta dos estudos da aplicação dos enxertos de gordura na cirurgia plástica, existe um grupo de células que dão suporte ao tecido adiposo, denominado fração vascular estromal. Estas células apresentam grande capacidade regenerativa, seja pelo estímulo local através de fatores de crescimento ou até mesmo pela transformação das células-tronco presentes na gordura no tecido a ser reparado.

“Já existem vários estudos internacionais nesta linha, atestando o papel da gordura na regeneração de órgãos. No congresso internacional da nossa especialidade haverá aulas sobre o tema proferidas por diversos colegas brasileiros”, comenta.

O cirurgião plástico Julio Vinicius Camargo, junto a Righesso, também é um estudioso sobre o assunto. O especialista explica que novos protocolos e tecnologias estão sendo desenvolvidos em nível mundial, e gradativamente estão contribuindo para a evolução desse método em nosso país. “Certamente vamos tomar conhecimento de uma evolução ainda mais significativa nos próximos anos, pois vários centros de referência estão evoluindo com pesquisas e realização de trabalhos científicos, demonstrando benefícios reais para a população, pelo aproveitamento do potencial regenerativo da gordura”, avalia.

O médico comenta que já é consenso que a capacidade das células e demais componentes do tecido gorduroso pode promover a regeneração de tecidos, servindo como base para diferentes métodos e algumas tecnologias possam ser ainda desenvolvidas. “Evidentemente existem recomendações, normas de segurança e até mesmo restrições ao seu uso, que devem ser respeitadas”, alerta.

Uso estético

Righesso explica que, resumidamente, há três tipos de uso estético para a gordura. Eles são Milifat, para a volumização complementar de áreas maiores, como mamas e glúteos; Microfat, para a volumização de pequenas linhas, como rugas e marcas de expressão da face e também para o preenchimento de zonas de atrofia; e Nanofat, para a melhoria da qualidade dos tecidos, sobretudo da pele.

No rosto, dependendo do objetivo de rejuvenescimento facial, a gordura sofrerá uma diferente preparação. “Ela pode ser usada como um preenchedor natural, repondo volume dos lábios, olheiras, têmporas, linha da mandíbula, mento, etc. Pode também ser usada para suavizar linhas de expressão ou rugas, incluindo cicatrizes, por exemplo, de acne. Também é muito utilizada para a melhoria da qualidade global da pele”, exemplifica.

Camargo conta que, atualmente, há muitas possibilidades oferecidas aos pacientes para obtenção de melhores resultados estéticos utilizando a gordura. “Tenho associado a lipoenxertia em praticamente todos os procedimentos corporais e faciais que realizo, como lipoescultura de definição, cirurgias palpebrais, lifting de face e rinoplastia”, diz.

Para ele, a utilização da gordura ajuda a incrementar o resultado dessas cirurgias por permitirem a melhora do contorno corporal e de áreas específicas do rosto, que necessitam ser tratadas para obter maior equilíbrio e resultados mais naturais, “sempre respeitando o compromisso de preservar as características individuais de cada pessoa. Além disso, os benefícios adicionais, como o aspecto da pele e até mesmo a redução de manchas, demonstram a versatilidade da gordura e trazem um grau de satisfação enorme para as pacientes”, avalia.

Dr. Vinicius Julio Camargo é médico cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), membro da International Society of Plastic Regenerative Surgeons (ISPRES), membro da Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica, diretor técnico do Alda Instituto e estuda a aplicação dos enxertos de gordura na cirurgia plástica.
CRM-PR 19651 – RQE 54456.

Preenchimentos

Os cirurgiões plásticos lembram que há uma discussão em relação ao uso excessivo de produtos de preenchimento na face, como a popularização do uso do ácido hialurônico, por exemplo, que, para Righesso, tem a vantagem da fácil disponibilidade. “Como ele é industrializado, não há necessidade de um procedimento cirúrgico para sua coleta, como no caso da gordura. Por outro lado, os resultados são passageiros, exigindo novas aplicações no decorrer dos anos”, diz.

Camargo diz que é importante entender que a utilização da gordura não compete diretamente com a utilização dos produtos que fazem preenchimento. “Ambos possuem propriedades específicas e grandes diferenciais quando utilizados de maneira correta, para obter o que cada método oferece como vantagem”, indica.

A facilidade de acesso e a praticidade de aplicação do ácido hialurônico, por não envolver a realização de uma intervenção cirúrgica, criam um atrativo à população, acredita o especialista. “Porém, a utilização desse produto sem os critérios técnicos adequados, infelizmente, tem levado a um padrão de rosto muito característico e estigmatizado, deixando um aspecto desfavorável.”

Em contrapartida, o cirurgião plástico explica que a gordura apresenta-se como uma alternativa para reposição do volume e para melhorar as características faciais com maior naturalidade, principalmente por respeitar os padrões individuais dos compartimentos de gordura na face, mesmo que para isso envolva uma pequena intervenção cirúrgica. “Habitualmente, costumo orientar as pacientes em relação a esses tratamentos, dando preferência para a utilização da gordura quando existe um grau mais acentuado de perda de volume do rosto e utilizando o ácido hialurônico nos casos onde não há a intenção de realizar uma intervenção cirúrgica, quando é necessário maior suporte das estruturas profundas ou para delineamentos de contornos, como nos lábios, por exemplo”, exemplifica.

O médico diz ainda que, com a evolução das técnicas, realizando a aplicação de maneira a facilitar a permanência da gordura nos locais onde foi aplicada, tem-se observado a manutenção do resultado e um índice de reabsorção cada vez menor. “Entretanto, isso também depende das características individuais de cada pessoa. Então, cabe explicar que, após a gordura ter se integrado no local, o resultado obtido tende e se manter por longo prazo e oferecer diferenciais significativos, tanto no contorno corporal como na face. Porém, a região tratada continuará sujeita ao processo natural de envelhecimento e de alterações físicas, como o aumento e a redução de peso, independente da gordura aplicada no local.”

Cuidados

Para quem ficou curioso sobre o procedimento que utiliza a própria gordura para um tratamento estético ou mesmo fazer reparação de alguma região do corpo, Camargo indica alguns cuidados.

O primeiro deles não poderia ser outro, senão a escolha de um profissional capacitado a realizar esse tipo de procedimento. “Esse é o ponto principal quando se deseja conhecer as possibilidades de tratamento com a gordura, assim como qualquer outro procedimento médico, seja para reparação ou para tratamentos estéticos”, diz.

Nesse contexto, é cada vez maior a preocupação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica com o uso inadequado de produtos injetáveis e também com a realização de procedimentos denominados ¨menos invasivos¨ por profissionais de outras especialidades, que não possuem a formação técnica adequada para realizar esses procedimentos e, sobretudo, prestar o suporte necessário aos seus pacientes quando surgem problemas ou complicações. “A lipoenxertia é um procedimento seguro e com recuperação bastante confortável, quando realizada de maneira correta. Porém, pode ser prejudicial aos pacientes caso não sejam respeitados todos os cuidados durante a coleta, preparação e injeção da gordura ou quando não há conhecimento suficiente sobre as características específicas existentes nas diferentes regiões corporais”, finaliza.

Dr. Ronaldo Righesso é cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e presidente da SBCP – RS, membro da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), delegado nacional da International Society of Plastic Regenerative Surgeons (ISPRES), atua há mais de 20 anos em sua clínica privada na Serra Gaúcha, realizando cirurgias plásticas estéticas da face e do contorno corporal e entusiasta dos estudos da aplicação dos enxertos de gordura na cirurgia plástica. CRM-RS 21276 – RQE 14983
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